“O chumbo foi amplamente utilizado na construção de canos de esgoto, para a fabricação de baterias, cabos elétricos e blindagem na indústria nuclear. Com o passar dos anos, esse metal pesado foi substituído e descartado; muitas vezes, de maneira incorreta, contaminando o solo e, consequentemente, lagos e rios”, explica Reigota.
O cientista chama a atenção para o fato de o equipamento poder ser usado em lugares distantes, facilitando a identificação de impurezas da água mesmo em regiões de acesso dificultado. “A grande vantagem desse dispositivo é que ele poderá ir a campo, na área da possível contaminação, lago, mar, rio ou solo. Dessa maneira, teríamos um resultado imediato”, completa Reigota, que, agora, no doutorado, trabalho no aperfeiçoamento desse transistor de efeito de campo sensível a íon (Isfet, sigla em inglês)
Os Isfets são usados nas áreas química e biológica para a realização de diagnósticos médicos. A partir de um Isfet capaz de identificar cátions e ânions em água, Reigota criou uma versão seletiva para chumbo.
Reigota criou o dispositivo a partir de uma tecnologia de microfabricação do silício, a mesma usada na fabricação de chips de computadores. O dispositivo tem uma membrana seletiva capaz de detectar os íons de chumbo. As medidas são realizadas utilizando um capacímetro, que mede a variação da tensão conforme a quantidade de íons do metal existentes na água. “Ele indica a quantidade de chumbo por meio de três curvas, com tensões diferentes. A primeira mostra pouca concentração; a segunda, média e a terceira, alta”, explica Reigota. A detecção é feita rapidamente, o que também contribuiu para a praticidade de análise.
Simplicidade
Para Marilena Vasconcelos de Souza, professora do curso de engenharia elétrica do Centro Universitário Iesb, o dispositivo criado pelo pesquisador brasileiro é interessante principalmente pelo baixo custo, quando comparado com produtos usados atualmente com o mesmo objetivo. “A mais utilizada para detectar impurezas é a cromatografia, um aparelho grande usado em laboratórios e empresas de cosméticos que consegue analisar a presença de qualquer substância. Ele é usado até para testes de doping, mas chega a custar R$ 800 mil”, destaca a especialista.
A pesquisadora também destaca outra dificuldade do cromatógrafo: a operação é complexa. Não temos muitas pessoas que conseguem usar a cromatografia. É necessário uma especialização para isso, o que dificulta ainda mais o uso”, diz.
Souza acredita que o dispositivo criado na Unicamp poderia detectar outros metais, ampliando, assim, ainda mais a eficácia. “Temos que destacar que a análise de chumbo sozinha e apenas uma etapa. Caso pudéssemos com um aparelho pequeno e mais barato como esse, encontrar outros metais prejudiciais à saúde, como o lítio e o cobre, ele teria mais valor ainda”, destaca.
Reigota trabalha, agora, porém, em reduzir ainda mais o tamanho do transistor e aumentar a sensibilidade.
Exposição diversificada
Estima-se que o chumbo seja utilizado em mais de 200 processos industriais, como extração, concentração e refino de minérios; produção, reforma e reciclagem de acumuladores elétricos; soldagem e produção de cristais. Produtos comuns têm o metal em sua composição, como tintas, esmaltes, cigarros, tintura para cabelos e batons.
Separador
É um aparelho que faz análise da composição tanto de líquidos quanto de gases. Os componentes presentes na amostra são separados e as concentrações, contabilizadas. É muito utilizado também para descobrir substâncias não identificadas em misturas.
Saiba mais
De náuseas a paralisias
O chumbo não é metabolizado pelo organismo humano. Quando absorvido, vai para o sangue, os tecidos moles e os ossos. Esses últimos são considerados o maior depósito corporal do metal. Armazenam de 90% a 95% do chumbo presente no corpo. As principais complicações agudas ocasionadas pelo metal são náuseas, dor abdominal, danos hepáticos e renais e hipertensão. A longo prazo, pode causar distúrbios neurológicos, fraqueza muscular, tremores e paralisia.
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