Rota do cacau: onde a Bahia � muito mais que sol, praia, mar, sombra e �gua fresca

 

Praias de �guas mornas, sombra dos coqueirais, m�sicas para balan�ar na rede e outras tantas para pular no carnaval. Comida boa no tabuleiro e muito litoral para conhecer. Quer mais do que a Bahia tem? A terra de Dorival Caymmi e Jorge Amado tem tamb�m fazendas de cacau para visitar em Ilh�us e arredores no Sul do estado, com direito a passeio nas lavouras na companhia de um guia. E oferece a mesa posta com pratos t�picos da regi�o e �timas conversas com os propriet�rios das �reas, envoltas em mata atl�ntica.

A viagem poder� ficar ainda melhor futuramente, j� que o governo baiano acaba de lan�ar a Estrada do Chocolate, que ter� o marco zero em Ilh�us e roteiro ao longo da rodovia BA-262: no caminho, s�tios hist�ricos, rios, cachoeiras, �reas de preserva��o ambiental e muitas descobertas para todos os sentidos.

Antes que a estrada ganhe o mundo real, pois ainda est� no projeto, o Estado de Minas mostra um pouco desse potencial, que enche os olhos, d� �gua na boca e desperta a curiosidade. Na Fazenda Yrer�, localizada no quil�metro 11 da rodovia Ilh�us-Itabuna, o casal Gerson Marques e Dad� Galdino d� as boas-vindas a quem chega e, para come�ar, apresenta alguns tesouros da natureza, como um frondoso p� de jacarand�. “Temos ip�s, pau-brasil e muitas outras �rvores”, afirma o simp�tico Gerson.

CHOCOLATE Como tudo na Bahia tem uma hist�ria, Gerson se apressa em explicar o significado de Yrer�, que � uma ave aqu�tica, tipo um pato, muito comum na regi�o. A propriedade se chamava Fazenda Nossa Senhora de F�tima e, ao trocar o nome, para n�o ficar mal com a santa, ele achou melhor tirar a d�vida. Consultou uma m�e de santo e ela tranquilizou o casal, garantindo que n�o haveria problema com a esfera celeste. “O cacau � plantado aqui h� 140 anos. Antes, foi a vez da extra��o da madeira, depois da cana-de-a��car e, finalmente, o cacau”, diz Gerson, explicando que o local s� n�o produz o chocolate.

Quem estiver muito a fim do chocolate pode visitar as melhores casas do ramo em Ilh�us. Na regi�o se produz alimento org�nico e de origem, cart�o de visitas de puro bom gosto. De origem, significa que o produto � da regi�o, e org�nico, cultivado com insumos extra�dos do pr�prio ecossistema. H� todo tipo, para paladares exigentes, com alto percentual de cacau, ao leite, diet e com misturas. Basta escolher, e as embalagens s�o bem legais, algumas com fitinhas evocando S�o Jorge, padroeiro de Ilh�us – outra padroeira da cidade � Nossa Senhora das Vit�rias, e S�o Sebasti�o est� no lugar de padroeiro da catedral diocesana; Terra de Santa Cruz; e Bahia de todos os santos.

 

•Fazendas fortalecidas

Em visita � Fazenda Yrer�, durante o recente Festival Internacional do Chocolate e Cacau (Chocolat Bahia 2017), ocorrido no munic�pio, a portuguesa de Viana do Castelo Goretti Silva, professora de turismo e gerente do F�brica do Chocolate (hotel, restaurante e museu) no seu pa�s, disse que aproveitar as antigas fazendas para o turismo “� o caminho” para a diversifica��o das atividades e cria��o de oportunidades. Palestrante no encontro promovido pelo Costa do Cacau Convention Bureau e Associa��o de Turismo de Ilh�us, com apoio do governo da Bahia e parceiros, Goretti destaca o acolhimento como fundamental para atender o visitante.

“O agricultor � o melhor embaixador para receber os turistas, mas � preciso preparo para receb�-los. N�o � s� abrir a porteira. � preciso relacionar bem, saber mostrar o seu potencial”, afirma Goretti, que n�o s� provou da deliciosa torta de chocolate coberta com nibs (am�ndoa triturada), como visitou a barca�a, onde se faz a secagem das am�ndoas, ouviu o relato de produtores da regi�o e viu o fruto no p�. “As pessoas querem vivenciar este contato com a natureza, e apreciam a boa acolhida”, explica a professora do Instituto Polit�cnico de Viana do Castelo.

J� vai longe o auge da vassoura-de-bruxa, uma praga letal que dizimou as planta��es de cacau do Sul da Bahia, deixou cerca de 2,5 milh�es de desempregados e arruinou sonhos e planos dos propriet�rios. Hoje, a produ��o cacaueira volta a crescer e os herdeiros desse tsunami ocorrido em 1992 veem no turismo uma alternativa para valorizar as terras e sobreviver. “Estamos reinventando a cacauicultura”, diz Gerson Marques, propriet�rio, com a mulher, Dad� Galdino, da Fazenda Yrer�. Gerson lembra que crise abre oportunidades, tanto que, na regi�o, h� mais duas fazendas abertas � visita��o: a Provis�o e a Primavera.

PARA�SO

Para chegar � Fazenda Provis�o � preciso seguir pela sa�da ao Norte de Ilh�us “no rumo de Uru�uca”, conforme dizem os nativos com o melodioso sotaque baiano. O visitante vai seguindo o Rio Almada – j� viram nome mais po�tico? –, passando por �reas de mata atl�ntica e descansando a mente com o canto dos p�ssaros. “Para receber as pessoas em casa e mostrar os p�s de cacau, tem que gostar muito do que faz”, acreditam piamente os descendentes de Jos� Maria Novaes, que foi um grande produtor.

Na sala do casar�o, cercado de varandas, d� para descansar das longas caminhadas e tomar uma �gua bem gelada; e na sala de visitas h� m�veis e objetos de decora��o que remetem a outros tempos. Futuramente, a propriedade vai ter bangal�s para acomodar os h�spedes. Se a vontade for de rezar, n�o se preocupe, caro leitor, pois h� uma capela dedicada a Nossa Senhora da Concei��o. Na Provis�o, os turistas podem desfrutar de uma refei��o com peixes e carne – e n�o pode faltar a farofa. Hoje, s�o cerca de 500 visitantes na alta temporada e, para visitar, � preciso ir a uma ag�ncia de turismo. Muitas pessoas v�o direto do navio que aportam em Ilh�us, para a fazenda.

Depois desse passeio, � fundamental visitar a Esta��o Rio do Bra�o, onde j� foi gravada uma novela e hoje lembra mais um lugar perdido no tempo. � bom caminhar pela rua de terra, ver os casar�es que j� tiveram seu glamour na �poca dos coron�is do cacau, mas hoje s�o apenas retratos de um tempo de riquezas. A esperan�a est� no turismo, embora seja preciso um trabalho de preserva��o urgente, a fim de evitar que todo esse patrim�nio se perca e leve com ele as hist�rias do cacau.

Estrada do Chocolate

O governo baiano lan�ou o projeto de implanta��o da Estrada do Chocolate em Ilh�us, Sul da Bahia, durante o Festival Internacional do Chocolate e Cacau (Chocolat Bahia 2017). No roteiro, os turistas conhecer�o a cultura do cacau e a produ��o do chocolate por meio de visitas a fazendas existentes ao longo da BA-262, com s�tios hist�ricos, rios, cachoeiras e �reas de preserva��o ambiental. Ser� o primeiro roteiro tur�stico tem�tico da Bahia e, inicialmente, vai abranger os munic�pios de Ilh�us, que at� a primeira metade do s�culo 20 chegou a ser o primeiro exportador de cacau do mundo, e Uru�uca.

 

* O rep�rter viajou a convite do Festival Internacional do Chocolate e Cacau

SERVI�O:

Fazenda Yrer�
» Km-11 da rodovia que liga Ilh�us a Itabuna
» Entrada: R$ 30 – contato via ag�ncias de turismo
» Telefone: (73) 3656-5054

Fazenda Provis�o
» Estrada de Ilh�us para Uru�uca
» Entrada: R$ 50 (com almo�o) e R$ 30 (sem almo�o) – contato com ag�ncias de turismo