
Em dan�a sincronizada com o lago, a luz natural produz cores que transmutam entre o negro, o prateado e o azul-turquesa profundo. O lago Nahuel Huapi contorna gigantes andinos, vulc�es adormecidos e florestas imponentes. Esparrama-se pelas prov�ncias argentinas de Rio Negro e Neuqu�n, em territ�rio uma vez e meia maior do que a cidade de Belo Horizonte. Se instigado pelo vento e amea�ado por turbulentos temporais, o lago se torna escuro e crespo. Mas, acariciado pelo sol, transforma-se num pl�cido espelho, que captura e abra�a fotografias da natureza imponente, majestosa e avassaladora da Patag�nia setentrional.
Recostado � cordilheira dos Andes, nas proximidades de Puerto Pa�uelo, distante 25 quil�metros de San Carlos de Bariloche, onde as �guas glaciais do Nahuel Huapi se esgueiram por colinas e se encontram com o Lago Moreno, est� El Gran Hotel Llao Llao, entre os mais belos cen�rios de resorts do mundo. Obra arquitet�nica em estilo canadense do fim da d�cada de 1930 e in�cio dos anos 1940 do s�culo passado, tem a sua hist�ria ligada � implanta��o do Parque e Reserva Nacional Nahuel Huapi, o mais antigo dos parques nacionais argentinos.
Llao Llao, suntuoso pal�cio da montanha, espalhado em amplos sal�es, restaurantes, �reas de spa e duas centenas de su�tes, n�o poderia ter sido desenhado em cen�rio mais espetacular. Seja do campo de golfe, da marina, das piscinas climatizadas e mesmo das trilhas que se embrenham por matas nativas de arrayanes, o hotel interage com um horizonte perdido em picos de neve eterna. Tronador, L�pez, Campanario, Catedral, Otto, Runge, Challhuaco e Leones s�o alguns dos cerros andinos que abra�am a paisagem dessa pequena por��o da Patag�nia.
Gelada, �mida, diversa, animada por ventos e excepcionalmente bela, a Patag�nia – que corresponde a 30% do territ�rio argentino – foi incorporada tardiamente ao Estado nacional em fins do s�culo 19, no contexto da chamada revolu��o tecnol�gica dos frigor�ficos, que promoveu o aumento internacional da demanda europeia, principalmente por carne bovina.
Se, nos tr�s primeiros s�culos da conquista, os espanh�is e descendentes se fixaram nas margens do Rio Prata, com raras incurs�es sobre a regi�o ao Sul de Buenos Aires, chamada de “Deserto”, essa perspectiva se modificou completamente a partir de 1868. Chegava � presid�ncia Domingos Sarmiento, que governou entre 1868 e 1874, autor da obra Facundo o Civilizaci�n y Barb�rie, de 1845, em que formulou o seu “ide�rio” de desenvolvimento social e econ�mico para os pa�ses do Novo Mundo: a “importa��o” maci�a de europeus mediante distribui��o de extensos territ�rios.
A esse movimento de expans�o da fronteira agropecu�ria associou-se uma campanha de conquista militar, desta que hoje � conhecida como a Argentina austral. No contexto da “Conquista do Deserto”, “extinguir, submeter ou dispersar” foi um dos lemas lan�ados sobre as tribos tehuelche (Patag�nia setentrional e meridional), mapuches (Norte da Patag�nia) e y�mana y selk’nam (Terra do Fogo). Essa � uma hist�ria que pode ser visitada no Museu da Patag�nia, em Bariloche, e est� guardada no cora��o dessa que constitui uma das mais instigantes e c�nicas regi�es do mundo.