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Estado de Minas

Na contram�o da cidade acelerada, jardins em BH se transformam em ref�gio

Capital mineira guarda verdadeiros o�sis em meio ao mar de pr�dios, incluindo, trabalhos de um dos mais conceituados paisagistas do mundo, Roberto Burle Marx


03/05/2019 08:50 - atualizado 03/05/2019 13:20

O jardim botânico de BH fica localizado no mesmo espaço do Zoológico(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
O jardim bot�nico de BH fica localizado no mesmo espa�o do Zool�gico (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)



Recentemente, o The New York Times aproveitou a chegada da primavera no Hemisf�rio Norte e publicou um artigo do falecido neurologista e escritor brit�nico Oliver Sacks (1933-2015) sobre o poder curativo dos jardins. No texto, o m�dico enfatiza como esses lugares s�o essenciais para o processo criativo e tamb�m para a sa�de das pessoas. “Em 40 anos de pr�tica m�dica, descobri que apenas dois tipos de ‘terapia’ n�o farmac�utica s�o de vital import�ncia para pacientes com doen�as neurol�gicas cr�nicas: m�sica e jardins”, afirma Sacks em um dos trechos.

Mas n�o � preciso esperar a chegada da esta��o mais florida do ano – que s� ocorre em setembro no Brasil – para apreciar as belezas de plantas, �rvores e flores. Belo Horizonte guarda verdadeiros o�sis em meio ao mar de pr�dios, incluindo, trabalhos de um dos mais conceituados paisagistas do mundo, Roberto Burle Marx. O Conjunto Arquitet�nico da Pampulha traz projetos que consagraram o arquiteto Oscar Niemeyer, como o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a Casa do Baile, a Casa Kubitschek e o Iate T�nis Clube, e t�m uma integra��o total com o ambiente onde est�o inseridos. “Desde que esses equipamentos foram idealizados, j� havia esse pensamento de ter um di�logo com o que est� em volta e com os jardins. E no caso do Burle Marx s�o verdadeiras obras de arte”, defende Jana�na Fran�a, gerente do Conjunto Moderno da Pampulha.

Um dos jardins que mais se destacam por sua variedade e grandiosidade � o do MAP. As �rvores e plantas parecem fazer parte do acervo. Jana�na revela que a diversidade sempre marcou o trabalho do paisagista e s� nos jardins da Pampulha s�o mais de 100 esp�cies de flores e plantas. “Ele ficou conhecido por valorizar e se apropriar de esp�cies t�picas da nossa flora. Burle Marx sempre trabalhou muito com cor, com texturas e tinha a preocupa��o de fazer o jardim compor com o ambiente”, comenta.
Vista geral dos jardins de Inhotim(foto: Rossana Magri/Divulgacao)
Vista geral dos jardins de Inhotim (foto: Rossana Magri/Divulgacao)

J� na Casa do Baile, que fica praticamente numa ilha, � comum encontrar esp�cies aqu�ticas como as ninfeias. “E para n�o competir com a edifica��o, que n�o � muito grande, foram utilizadas plantas de pequeno porte”, explica. Exemplares aqu�ticos tamb�m podem ser encontrados na Casa Kubitschek, onde a piscina que era utilizada pelos antigos moradores – no caso, o ex-presidente JK e a fam�lia – se transformou em um espelho d’�gua. Ali�s, uma vez por m�s h� visita guiada pelos jardins da resid�ncia, hoje um museu. “� interessante que os jardins guardam uma rela��o especial com a hist�ria da edifica��o, como nesse exemplo da Casa Kubitschek. Temos uma jabuticabeira, �rvore que tinha uma rela��o afetiva com o presidente Juscelino, e a vegeta��o de canga, encontrada em locais de minera��o. N�o deixa tamb�m de ser uma homenagem, j� que ele era de uma regi�o mineradora, no caso Diamantina”, acrescenta a gerente do conjunto, que salienta a import�ncia de estar pr�ximo da natureza para ter momentos de contempla��o e desacelera��o. “� uma outra experi�ncia de tempo, de viv�ncia. Num jardim a gente consegue sentir os cheiros, ouvir os sons dos insetos, dos p�ssaros”, observa.

Michele Arroyo, presidente do Instituto Estadual de Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG), ressalta o fato de que � poss�vel apreciar a beleza de flores e plantas o ano inteiro na cidade. Uma das esp�cies mais brasileiras, o Ip�, come�a a florescer em pleno inverno. Em BH, boa parte deles pode ser encontrada na regi�o Centro-Sul, como no entorno da Pra�a da Liberdade. O espa�o, que data da �poca da constru��o da nova capital, recebeu, assim como outras �reas destinadas ao �cio e ao lazer da cidade, um paisagismo com inspira��o inglesa, que trazia caracter�sticas imitando elementos da natureza.

REPAGINADO

Na d�cada de 1920, com a visita do casal real belga ao Brasil, incluindo Minas, v�rios espa�os – como as Pra�as da Liberdade e a Rui Barbosa, ganharam toques do paisagismo franc�s. “E � completamente diferente do ingl�s. Os jardins t�m caracter�sticas mais geom�tricas e menos org�nicas. S�o canteiros certinhos, ou seja, o que tem de um lado, tem do outro. As fontes, as est�tuas em m�rmore tamb�m s�o dessa �poca”, esclarece. Michele acrescenta que as flores n�o s�o muito comuns nesse tipo de jardinagem, mas � a� que entra o jeitinho brasileiro. “O franc�s introduz arbustos de v�rios tons de verde, uma diversidade de folhagens. Fizemos uma adapta��o justamente por ter flora��es por aqui o ano inteiro. Encontramos muitas rosas e outras flores com cheiros, como os manac�s nesses espa�os”, frisa.



Mais do que fun��o contemplativa

Um jardim bot�nico � aquele dedicado � cole��o, cultivo e exposi��o de uma ampla diversidade de plantas. A Regi�o Metropolitana de BH conta com tr�s destes espa�os – dois na capital e um em Brumadinho, o mais conhecido e visitado deles. O Inhotim re�ne num mesmo endere�o um centro de arte contempor�nea e jardim bot�nico em uma �rea de 133 hectares. N�o � � toa que o p�blico se encanta com o que v� por l� – das obras de arte �s plantas, flores e afins. “Elas fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa. Todo mundo tem alguma experi�ncia com plantas, seja na inf�ncia, na casa dos av�s no interior, num s�tio. Sem contar que somos feitos da mesma mat�ria, dos mesmos elementos qu�micos. H� essa identifica��o ancestral e natural. O amor pela natureza e pelos seres vivos � parte essencial da condi��o humana”, analisa o diretor do Jardim Bot�nico do museu, Lucas Sigefredo.

A �rea do Inhotim tem 5 mil esp�cies com m�ltiplos de exemplares, abrigando uma das maiores cole��es vivas de palmeiras do mundo. “Somos o �nico jardim bot�nico do Brasil que � vizinho de uma RPPN (Reserva Particular do Patrim�nio Natural), que tem 250 hectares, o que at� nos protege”, salienta.

Dentre os destaques do lugar, uma estufa de 25 mil metros que guarda cole��es de esp�cies que vivem em ambientes bem espec�ficos. Mas a maior parte dos visitantes se encanta mesmo � com os jardins abertos, como os tem�ticos. Entre eles o des�rtico (com cactos, suculentas e plantas com baixa demanda de �gua) e o de orqu�deas. Para Lucas, o grande diferencial do Jardim Bot�nico de Inhotim � ser ainda um museu de arte contempor�nea. “E a maior qualidade do museu � ser tamb�m um Jardim Bot�nico. Junta as duas coisas e eles se tornam espetacular, algo �nico. A maioria dos jardins bot�nicos � muito cientificado, r�gido na forma, mas o nosso nasceu embasado no paisagismo que tem como principal colaborador o Pedro Nehring. A premissa principal e original � a beleza e a diversidade”, frisa.

Museu de arte da Pampulha tem jardins de Burle Maxr(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Museu de arte da Pampulha tem jardins de Burle Maxr (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
 


Na regi�o da Pampulha, o Jardim Bot�nico, localizado no mesmo complexo onde est� o Zool�gico, tem estufas tem�ticas de biomas de Minas Gerais, como a Mata Atl�ntica, a Caatinga e o Campo Rupestre. Al�m de voltado � pesquisa, � aberto � visita��o. “A maioria das pessoas vem conhecer os animais do Zoo e por isso o jardim fica um pouco de lado. Mas � um lugar muito especial, em que pode se conhecer um pouco mais sobre a hist�ria evolutiva das plantas, as formas de reprodu��o e dispers�o de sementes, ter contato com o mais variados tipos de �rvores, folhagens, flores e trepadeiras”, destaca a bi�loga Miriam Mendon�a, gerente do Jardim Bot�nico.

O espa�o conta com produ��o de mudas, banco de sementes e laborat�rio para controle de pragas. Bem pr�ximo dali est� o �nico Jardim Japon�s da cidade, criado pelo paisagista japon�s Haruho Ieda em 2008 – ano do centen�rio da imigra��o japonesa no Brasil. Foram plantadas �rvores t�picas do pa�s, como o pinheiro oriental, cerejeira, azaleia e o bambu. O espa�o tem elementos nip�nicos, como pontes e lanternas decorativas, lagos com carpas coloridas, cascatas e at� uma casa de ch�. “Andar no meio desses espa�os traz uma paz, uma tranquilidade. S�o benef�cios n�o s� para o meio ambiente, claro, como para o nosso bem-estar”, acredita Miriam.

AO TOQUE DAS M�OS

O Museu de Hist�ria Natural e Jardim Bot�nico da UFMG, no Santa In�s, Zona Leste, tem 600 mil m² de �rea. Possui vegeta��o diversificada e t�pica da Mata Atl�ntica, reunindo esp�cies nativas e ex�ticas – s�o aproximadamente 400, sendo a maioria de �rvores. O espa�o tem se dedicado a jardins tem�ticos, como o de plantas medicinais, o sensorial – para que o visitante possa literalmente sentir e tocar as esp�cies –, jardim de flores e at� um com esp�cies da �poca dos dinossauros, como revela a bi�loga Jaqueline Gomes Rodrigues. “Ele fica pr�ximo � area da paleontologia e traz plantas como as samambaias e as gimnospermas, que s�o bem antigas evolutivamente”, comenta. Ela ressalta projetos educativos a partir de trilhas, oficinas e visitas guiadas. “Nada substitui esse contato in loco. Numa cidade como a nossa, cheia de concreto, poder ter um ref�gio como esse � um privil�gio. Um jardim permite a diminui��o da temperatura, serve de abrigo para animais e nos deixa menos estressados e mais criativos. S� tem benef�cios”, destaca Jaqueline.

CASA KUBITSCHEK
Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, 4.188, Pampulha. (31) 3277-1586. De ter�a a domingo, das 9h �s 18h. Entrada franca.

CASA DO BAILE
Av. Otac�lio Negr�o de Lima, 751, Pampulha. (31) 3277-7443. De ter�a a domingo, das 9h �s 18h. Entrada franca.

FUNDA��O ZOOBOT�NICA (ZOOL�GICO, JARDIM BOT�NICO E JARDIM JAPON�S)
Av. Otac�lio Negr�o de Lima, 8.000, Pampulha. (31) 3277-8489. De ter�a a domingo (incluindo feriados), das 8h �s 17h. Entrada: De ter�a a sexta: R$ R$ 4,95; s�bado: R$ 6,20 (por pessoa) e domingos e feriados: R$ 9,95. O pagamento da entrada do ve�culo � cobrado � parte. Autom�vel – de ter�a a s�bado: R$ 12, 45 e domingos e feriados: R$ 24,95

INHOTIM: INSTITUTO DE ARTE CONTEMPOR�NEA E JARDIM BOT�NICO
Rua B, 20, Brumadinho. (31) 3571-9700 e 31 3194-7300. De ter�a a sexta, das 9h30 �s 16h30. S�bado, domingo e feriado: das 9h30 �s 17h30. Entrada: ter�a, quinta, sexta, s�bado, domingo e feriado: R$ 44,00 (inteira), R$ 22 (meia). Quarta-feira (exceto feriado): entrada gratuita.

MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA
Av. Otac�lio Negr�o de Lima, 16.585, Pampulha. (31) 3277-7996. De ter�a a domingo, das 9h �s 18h. Entrada franca.

MUSEU DE HIST�RIA NATURAL DA UFMG E JARDIM BOT�NICO
Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Santa In�s, (31) 3409-7650. De quarta a domingo, das 10h �s 17h. S�bado e domingo, das 10h �s 17h. R$ 10. Crian�as at� 5 anos, maiores de 60, estudantes e funcion�rios da UFMG n�o pagam.


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