Juraciara Vieira Cardoso
Juraciara Vieira Cardoso
Professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito
COLUNA VITALidade

Caso Ana Hickmann: a violência sob os telhados familiares

A violência psicológica muitas vezes se disfarça de tal forma que a vítima não percebe os abusos

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Atualmente, dispomos de dados significativos sobre a incidência da violência física no contexto das relações familiares. No entanto, o mesmo não pode ser dito em relação à violência psicológica ou emocional, um problema que muitas vezes se desenvolve de forma insidiosa e gradual, passando despercebido pelas vítimas. Isso ocorre porque os agressores frequentemente empregam táticas sutis e manipuladoras de exercer controle e poder.


O recente caso amplamente divulgado da empresária e apresentadora Ana Hickmann chama nossa atenção para essa questão. O ex-marido de Ana Hickmann usava a humilhação e o rebaixamento como meios de manter controle sobre a relação. Em uma recente entrevista, ela revelou que enfrentou a violência psicológica do seu ex-marido, que constantemente a criticava em relação à sua aparência e controlava sua vida financeira, mesmo sendo ela a provedora da família.


A violência psicológica ou emocional é um problema grave que inclui ações destinadas a minar a autoestima e o bem-estar emocional da vítima, como ameaças verbais, humilhação, chantagem emocional ou manipulação.Pesquisas científicas recentes indicam que esse tipo de violência está fortemente associado ao aumento do risco de transtornos mentais, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático.


A psicóloga norte-americana Lenore Walker descreveu os ciclos do abuso nas relações domésticas. O ciclo é composto por três fases interconectadas. Na Fase da Tensão Crescente, a comunicação se torna difícil devido ao aumento gradual da tensão. Na Fase da Explosão, ocorre o abuso, quando a vítima se submete a diferentes formas de violência. Por fim, na Fase da Lua de Mel, o agressor busca reconciliação, fazendo promessas de mudança e demonstrando afeto, criando uma ilusão de que o relacionamento pode ser salvo.


A violência psicológica, como dito, muitas vezes se disfarça de tal forma que a vítima não percebe os abusos. Atribui o comportamento do parceiro a traços de personalidade, estresse ou outros fatores externos, não os relacionando ao abuso. Isso faz com que a vítima permaneça presa em um ciclo de abuso que pode minar sua autoimagem.


Minha experiência pessoal testemunha essa realidade. Durante anos, vivi em um relacionamento repleto de violência psicológica bilateral, mas sem compreender a tensão que o permeava. Nossa geração cresceu em uma época em que os abusos psicológicos eram ignorados e as brincadeiras cruéis entre casais eram consideradas normais.


Foi somente com a sensibilidade de nossos filhos para nuances da violência doméstica que praticávamos que percebemos o quanto nossos comportamentos e palavras eram abusivos.


Hoje ainda estamos juntos, mas nosso relacionamento mudou significativamente. Tornamo-nos mais conscientes de nossas palavras, comportamentos e observações em relação ao outro. Esse processo foi longo e desafiador, mas o primeiro e mais difícil passo foi admitir que nossa relação era abusiva.


As situações de violência acima descritas nos lembram que a violência psicológica não anuncia sua presença com estrondo, mas se infiltra sorrateiramente minando a sanidade dos envolvidos. A verdade é que, muitas vezes, somos cegos para a violência que acontece sob os nossos telhados, pois ela se camufla na névoa da rotina familiar e o único modo de combater esse mal é nos tornando conscientes de sua ocorrência..

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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