A casa grega azul e branca é, sem dúvida, um dos símbolos visuais mais reconhecidos do mundo. Mas, por trás dessa estética que domina cidades como Santorini, Mykonos e Paros, há uma lógica arquitetônica e um conjunto de decisões urbanísticas que influenciaram diretamente o modo como essas construções foram projetadas.

A escolha das cores, os formatos das estruturas, o uso de materiais locais e o agrupamento das casas em vielas estreitas são fruto de uma longa adaptação ao clima, à geografia e à história das ilhas gregas. Hoje, essa arquitetura encanta turistas e também serve de referência para projetos sustentáveis em locais de clima quente e seco.

Branco na fachada: a solução arquitetônica funcional

Nas ilhas Cíclades, a maior parte das casas era construída com pedras vulcânicas, materiais escuros e abundantes na região. O problema? Absorviam calor. Para resolver isso, os moradores começaram a cobrir as fachadas com cal branca, material de baixo custo que reflete até 80% da luz solar. O resultado foi imediato, casas mais frescas, mesmo sob o forte sol mediterrâneo.

E além da função térmica, a cal também possui propriedades antissépticas. Em 1938, durante um surto de cólera, o governo grego reforçou o uso da cal como medida de saúde pública, o que fez consolidar de vez por todas o branco como cor dominante na paisagem urbana.

Azul nos detalhes: tradição e continuidade visual

Já as portas, janelas, cúpulas e varandas pintadas de azul também não surgiram por acaso. A tonalidade era obtida a partir de um pigmento popular conhecido como “loulaki”, que misturava cal com um corante azul barato e acessível, usado também como produto de limpeza doméstico. O azul também representava o mar e o céu, elementos centrais na cultura grega.

Com o tempo, essa combinação visual foi adotada como padrão, criando uma unidade estética marcante. Durante a ditadura militar na década de 1960, a padronização do azul e branco chegou a ser oficializada por decreto, reforçando a imagem nacionalista e turística do país.

Casas gregas azuis e brancas alexabelov de Getty Images
Casas gregas azuis e brancas Freepik
Casas gregas azuis e brancas Freepik
Casas gregas azuis e brancas Freepik
Casas gregas azuis e brancas Aleksandar Pasaric de Pexels
Casas gregas azuis e brancas Ioanna Koukoura de Pexels

O que explica as ruas estreitas e formas cúbicas?

Essas características também seguem a lógica funcional. As casas são erguidas bem próximas umas das outras, formando um labirinto de ruas estreitas. Isso ajuda a quebrar a força dos ventos, comuns na região, e a reduzir a incidência direta do sol nas superfícies, criando sombras.

Além disso, as construções seguem uma forma cúbica e simétrica, com telhados planos, que facilitam a construção em terrenos irregulares e o uso do espaço superior como terraço, área de secagem de roupas ou até mesmo cultivo de pequenas hortas.

As casas gregas azuis e brancas seguem sendo construídas?

Sim, mesmo com os avanços tecnológicos na construção civil, boa parte das novas construções nas ilhas gregas ainda segue o padrão azul e branco. Isso acontece por duas razões principais: primeiro, o apelo turístico, que valoriza a continuidade visual nas paisagens urbanas; segundo, porque há legislações locais rígidas de preservação arquitetônica, especialmente nas Cíclades, para proteger o patrimônio cultural.

As reformas e novas obras precisam seguir normas específicas que mantêm as proporções, paleta de cores e materiais compatíveis com o entorno.

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