Antes mesmo da fundação oficial das vilas mineiras, uma serra feita de prata e pedras preciosas já incendiava o imaginário dos colonizadores. Era o “sabarabuçu”, território de limites e mistérios, que guiou os passos de bandeirantes e sertanistas rumo ao sertão. O sonho de riqueza levou o capitão paulista Matias Cardoso de Albuquerque a abrir picadas, implantar roças e estabelecer pouso às margens do rio Sabará, um ponto estratégico de travessia e descanso.
A história de Sabará, portanto, não começa com a chegada dos bandeirantes. Há registros de que baianos já exploravam a região desde 1555. Segundo o historiador Zoroastro Viana Passos, muito antes da famosa bandeira das esmeraldas de Fernão Dias Paes, já havia vida, missa e fé no coração do sertão mineiro.
Fundado oficialmente em 1674 como Arraial da Barra do Sabará, o povoado cresceu rápido. Localizado em um importante entroncamento da Estrada Real, o arraial virou vila em 1711, e, três anos depois, tornou-se sede da extensa Comarca do Rio das Velhas, a maior do Brasil colonial, com jurisdição que se estendia até os limites de Pernambuco, Bahia e Goiás.
A abundância de ouro fez de Sabará um centro estratégico para a Coroa Portuguesa. Ali foi instalada uma das casas de fundição do império, construída para controlar e tributar a produção aurífera. Mesmo com o fim do Ciclo do Ouro, a cidade seguiu viva: contribuiu com recursos e voluntários para a Independência em 1822 e, mais tarde, foi impulsionada por um novo ciclo econômico com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil.
História que resiste ao tempo
Hoje, os traços do passado ainda estão por toda parte. No centro histórico, igrejas do século XVIII, o Teatro Municipal (o segundo mais antigo do Brasil), o Museu do Ouro, chafarizes e casarões coloniais contam capítulos da história nacional. A Matriz de Nossa Senhora da Conceição se destaca por reunir, em uma só construção, três fases distintas do barroco mineiro.
Recentes prospecções revelaram novas camadas dessa história. Ruínas do Arraial Velho, calçamentos antigos e estruturas como o Forno de Cal, no Morro São Francisco, reacendem o interesse pela arqueologia e pela preservação do patrimônio. Há até mesmo um suposto “Cemitério dos Ingleses” escondido nas matas da Serra da Piedade, próximo ao Arraial de Pompéu.
Mais que cenário de pedra e cal, Sabará é viva em suas tradições: é berço da jabuticaba, do ora-pro-nóbis, da renda turca de bicos e da palma barroca. Foi reconhecida como referência da cozinha mineira pela Abrasel e abriga a única casa de intendência e fundição ainda de pé no Brasil.
Origem do nome
A origem do nome Sabará também guarda mistérios. Pode ter vindo do tupi “sabaá” (enseada) com “buçu” (grande), numa alusão ao encontro dos rios Sabará e das Velhas. Outra versão aponta para uma corruptela de “Itaberabuçu”: montanha grande que resplandece, provável referência à Serra da Piedade, que até hoje se impõe no horizonte da cidade.
Primeiro povoado colonial de Minas, mãe da capital do estado e guardiã de uma das mais ricas heranças barrocas do país, Sabará é, antes de tudo, uma cidade que resiste. Entre pedras, trilhas e fé, ela segue reluzente como o ouro que um dia a colocou no mapa.