ALESSANDRA ARAGÃO
Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
(RE)INVENTE-SE

Entre o "e se" e o agora

Pequenas escolhas, grandes transformações: o efeito borboleta em nossas vidas

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Amigos leitores, hoje quero compartilhar algumas reflexões que surgiram em meu grupo de leitura. Ontem, mergulhamos no livro “A biblioteca da meia-noite”, de Matt Haig, uma obra que parte de uma ideia instigante: e se cada escolha que fizemos guardasse, em segredo, uma infinidade de outras vidas possíveis? Nessa biblioteca imaginada pelo autor, cada livro representa um caminho alternativo, como se pudéssemos revisitar nossas decisões e experimentar as vidas que ficaram para trás. Ao apresentar essa metáfora, Haig nos lembra que cada escolha é uma porta, e a cada uma que abrimos, novos corredores de experiências se desdobram diante de nós.


Essa reflexão proposta por Haig dialoga diretamente com a ideia do efeito borboleta: a noção de que um detalhe mínimo pode alterar todo o curso de uma vida. Um gesto pequeno na infância, um encontro casual na juventude, um atraso que mudou o dia na vida adulta; eventos assim, à primeira vista insignificantes, podem transformar destinos. É a metáfora da borboleta, formulada na teoria do caos, que nos recorda de algo essencial: os detalhes importam.


Essa lógica não se aplica apenas a grandes acontecimentos, mas também às sutilezas do dia a dia. No cotidiano e na clínica, observo como ações mínimas, uma palavra dita, um limite colocado, um hábito breve, quando repetidas ou aplicadas no momento oportuno, podem desencadear mudanças profundas. Enquanto a protagonista revisita escolhas e pesa o “e se...” em seu livro de arrependimentos, percebemos que o movimento mais potente não é escapar do vivido, mas olhar com atenção para as pequenas transformações possíveis no presente.


Te convido a refletir: qual foi o seu “efeito borboleta”, o momento em que tudo tomou outro rumo?


E não adianta ficarmos presos aos arrependimentos e aos “e se...”. Remoer escolhas passadas raramente gera mudança concreta; quase sempre só produz dor. O que transforma de verdade é a curiosidade sobre o que cada experiência ensinou e o que dela podemos tirar hoje. Essa mudança de atitude converte a fantasia do “tudo teria sido melhor” em informação útil sobre valores, limites e desejos reais. Até porque, como o próprio livro demonstra, muitos “e se” não teriam sido tão bons assim, e outros, na verdade, se revelariam péssimas escolhas.


É justamente essa a jornada da protagonista de “A biblioteca da meia-noite”: ao revisitar seus caminhos possíveis, ela descobre que a questão não é trocar de vida, mas aprender a enxergar com novos olhos a vida que já tem.


Na prática terapêutica, vejo isso se repetir constantemente. Clientes chegam acreditando que apenas uma grande virada resolveria tudo. Acontece que, muitas vezes, o que falta é um ajuste sutil. Por isso, em vez de repetir uma autocrítica automática, vale reformular esse pensamento em uma pergunta investigativa: “O que posso aprender aqui?” ou “Que pequeno passo posso dar agora?”.


Pausar antes de reagir; reservar cinco minutos para anotar uma sensação; dizer “não” uma vez quando antes se dizia “sim” automaticamente. Isso é o efeito borboleta na prática: pequenas escolhas cotidianas que, somadas, devolvem autonomia e clareza de direção.


E talvez seja justamente aí que esteja a beleza da vida: no que é simples, no que pode ser transformado sem estardalhaço, mas com presença e intenção. Pequenos movimentos podem abrir horizontes inesperados. Você já reparou como uma escolha sutil, acordar mais cedo, respirar fundo antes de responder, ligar para alguém que importa, pode mudar completamente o tom de um dia?


Esses gestos discretos têm o poder de redesenhar não apenas nosso cotidiano, mas também nossa forma de nos relacionarmos com nós mesmos e com o mundo. O que muitas vezes buscamos em grandes respostas está, na verdade, na coragem de praticar pequenas ações consistentes.


E aqui fica o convite: em vez de se perder nos “e se” do passado, que tal perguntar a si mesmo hoje, agora, qual a menor mudança possível que já poderia abrir um novo caminho?


Afinal, como escreveu Albert Camus, “a vida é a soma de todas as suas escolhas”.


As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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