
Sucesso: para você ou para a plateia?
As redes sociais se transformaram em vitrines de ângulos perfeitos: fotos de viagens, pratos bem decorados, momentos selecionados
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Vivemos em um mundo que aplaude resultados visíveis: prêmios, cargos, salários, conquistas que brilham nas vitrines sociais. Mas no silêncio da vida real, surge uma pergunta que não dá para ignorar: isso é sucesso para você ou para os outros?
A neurociência mostra que a busca constante por aprovação ativa áreas do cérebro ligadas à recompensa imediata. O prazer existe, mas passa rápido, como um aplauso que ecoa e se apaga. Já quando nossas ações estão alinhadas ao que faz sentido, ao que ressoa com nossos valores e propósito, a sensação de realização é mais duradoura, profunda e nutritiva.
O sucesso não precisa ser barulhento. Ele pode estar em construir uma vida coerente com quem você é, em acordar com leveza, em terminar o dia sabendo que suas escolhas têm significado.
Ainda assim, muitos confundem sucesso com reconhecimento externo. Desde cedo, ouvimos frases como “precisa ser alguém na vida” ou “só terá valor quando chegar lá”, sem perceber que esse “lá” nunca tem fim. Sempre haverá alguém com mais títulos, mais dinheiro, mais seguidores. Nessa corrida sem linha de chegada, o risco é perder a própria identidade e viver uma vida que não é sua.
Hoje, essa busca pelos aplausos ganhou novas formas. Basta observar o culto à beleza padronizada, que empurra pessoas a procedimentos arriscados ou a moldar seus corpos segundo um ideal único: bocas carnudas, maçãs do rosto salientes, corpos editados como se fossem clones de um mesmo modelo. O diferente se torna defeito, e a singularidade é abafada pela ilusão da aprovação.
E não para aí. As redes sociais se transformaram em vitrines de ângulos perfeitos: fotos de viagens, pratos bem decorados, momentos selecionados. Um desfile de vidas editadas em busca de curtidas que funcionam como aplausos modernos. Mas, depois que a tela se apaga, o que sobra?
Talvez seja hora de ressignificar. O sucesso não se limita àquilo que pode ser exibido. Ele pode se expressar de formas mais sutis e verdadeiras:
No conhecimento, quando escolhemos aprender continuamente e expandir horizontes.
Na beleza autêntica, que não se mede por padrões, mas por autenticidade, simplicidade e encantamento.
Na sabedoria, construída com tempo e experiência, quando cada dor e cada encontro se transformam em lições.
Nas relações, quando cultivamos vínculos de afeto, presença e cuidado que sustentam a vida.
Na contribuição, quando deixamos um legado, não por monumentos, mas por gestos que marcam a vida de quem passou por nosso caminho.
O filósofo Viktor Frankl dizia que “o sucesso, assim como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só acontece como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior”. Essa frase nos lembra que sucesso não é um ponto de chegada, mas um reflexo natural de uma vida alinhada ao que realmente tem sentido.
No fundo, talvez o verdadeiro sucesso seja ter a coragem de viver de acordo com a própria verdade. Reconhecer que os aplausos são passageiros, mas o sentido é o que sustenta. Que ser bem-sucedido pode estar em ter saúde para desfrutar dos dias, em poder escolher caminhos que refletem seus valores, em abraçar a simplicidade e, acima de tudo, em construir uma vida que faça sentido para você.
E para que essa leitura não se perca no instante, deixo aqui algumas reflexões para você se perguntar, com sinceridade, no silêncio do seu coração:
Qual foi o maior aplauso que você recebeu na vida? Ele ainda sustenta seu coração ou já se apagou?
Em que momento você se sentiu plenamente realizado, mesmo sem plateia?
O que dá sentido ao seu trabalho, às suas relações, à sua rotina?
Se o reconhecimento externo desaparecesse hoje, o que em sua vida ainda lhe faria sentir orgulho e gratidão?
Como você pode, a partir de agora, alinhar suas escolhas para que cada conquista reflita quem você realmente é?
Essas respostas podem lhe conduzir a olhar para dentro, descobrindo que os verdadeiros aplausos não vêm de fora, mas do silêncio em que sua vida faz sentido. É nisso que acredito: sucesso sem sentido se esvazia, mas o sentido, mesmo sem plateia, tem o poder de preencher uma vida inteira.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.