Sempre falo que nada mais me assusta. Afinal, do jeito como as coisas andam, todos os dias ouço algum caso que parece irreal. A primeira coisa que penso é: “ah, isso é história, a imaginação correu solta”. Porém, o caso tem nome, sobrenome e endereço. E o que antes era coisa de novela agora são fatos reais (me desculpem o pleonasmo proposital) e assustadores.
Cada vez mais nos deparamos com a falta de fidelidade. Não me refiro apenas a questões conjugais, mas entre amigos, sócios, parentes, irmãos. As pessoas estão cuspindo no prato que comeram. Gratidão – que não é agradecimento, mas um sentimento – virou frase feita, sem nenhuma verdade.
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Me perdoe quem gosta de falar “gratidão” quando quer agradecer algo, mas está usando a palavra de forma incorreta. Acho que deve-se dizer “sinto enorme gratidão”, “estou grato”, “muito obrigado”.
Coisas do modismo da época. Às vezes sou implicante com isso.
As pessoas da minha geração e várias outras depois de mim vestem a camisa das empresas para as quais trabalham. Há alguns anos, isso não existe mais. E não confundam o que digo com comodismo. Absolutamente.
Até mesmo as autoridades estão com valores trocados. Na terça-feira, fiquei sabendo de um caso que me deixou perplexa. Não deixem de ler a coluna da Patrícia Espírito Santo no próximo domingo (2/3), no Caderno Feminino & Masculino deste jornal. Não vou dar spoiler, mas acredito que concordarão comigo.
Vivemos em uma democracia. Isso sempre foi respeitado. Nas famílias, cada um votava em quem queria e não havia briga por isso. Nas duas últimas eleições, irmãos romperam por causa de posições políticas divergentes. Enquanto isso, os políticos (sejam de que partido forem) tocam a vida, continuam fazendo suas tramoias e conchavos. E nós, os simples mortais que não estamos no poder – mas o temos nas mãos porque elegemos os políticos –, ficamos brigando. Socorro, parem e pensem o que estamos fazendo com nossas vidas.
Tenho visto amizades de mais de 30 anos serem desfeitas, porque alguém resolveu se aproveitar do amigo e armar esquema para tirar algum lucro. Não dá certo, mas o orgulho, a vergonha ou sei lá o quê (falta de noção?) não permite que se reconheça o malfeito e se peça desculpa. O arrependimento sincero e um pedido de desculpas apagam tudo.
Pessoas que não tinham nada receberam uma oportunidade profissional de alguém. Trabalharam juntos por anos. Essa pessoa cresceu como profissional graças à ajuda da outra, parceria elogiada incontáveis vezes. Aí, ela conhece alguém, apaixona-se e o parceiro começa a induzi-la, mostrando que pode tirar vantagem de tudo aquilo.
Influenciada, a pessoa entra na Justiça contra quem a ajudou lá atrás, inventando mil e uma coisas para ganhar dinheiro. Que amizade que nada, que gratidão que nada. Só importam os cifrões.
Será que ela não sabe que o dinheiro acaba? Não sabe que o que vale na vida, de verdade, são os amigos que fazemos?
Quando nós temos problemas sérios, a quem recorremos? Primeiramente a Deus, depois à família e ao amigo mais chegado, aquele que escolhemos para ser irmão de vida.
Pessoas que não conseguem reconhecer quem realmente importa nunca saberão o que é isso.
Peço perdão pelo desabafo, mas, apesar de não me assustar mais com nada, continuo me surpreendendo. Pena que seja negativamente.
* Isabela Teixeira da Costa/ Interina