Com o fim do ano letivo se aproximando, é fácil ver salas de aula agitadas, prazos se acumulando e alunos tentando correr atrás do tempo perdido. No meio dessa correria, muita gente se pergunta se tanta dificuldade em finalizar tarefas tem a ver com falta de foco, desorganização ou até com a fatídica TDAH, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. De acordo com especialistas, nem sempre há um diagnóstico por trás do problema.
A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto e especialista em neurodesenvolvimento, explica que a procrastinação é comportamento humano, e não sintoma de algum transtorno.
Segundo ela, adiar tarefas é algo que todo mundo faz em algum grau. Na adolescência, isso tende a ser mais frequente porque o cérebro ainda está aprendendo a lidar com o tempo, com prioridades e o controle das próprias emoções.
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É importante entender que procrastinação não é sinônimo de preguiça. Bárbara explica que, às vezes, o estudante até quer começar, mas sente ansiedade diante da tarefa, medo de errar ou simplesmente está cansado. O cérebro sobrecarregado tende a buscar alívio mais rapidamente, e isso pode ser uma tela, uma conversa ou qualquer coisa que traga prazer imediato.
Os últimos meses do ano letivo, com avaliações, trabalhos e expectativa de férias, costumam potencializar esse comportamento. É o misto de exaustão e desejo de desligar. O cérebro entra em modo de economia de energia, tentando poupar recursos depois de meses de esforço. Isso faz parte do processo de autorregulação, não é sinal de alguma condição que precisa ser avaliada.
Trata-se de uma boa notícia nesta época em que tudo é diagnosticado.
De acordo com a especialista, é possível agir com consciência sobre o próprio comportamento. Pode ser comum procrastinar, mas isso não deve virar sofrimento. Quando o aluno entende o que o levou a adiar a obrigação, pode criar estratégias para resolver a questão, como dividir as tarefas, diminuir distrações e administrar melhor o tempo, respeitando seus limites.
Bárbara Calmeto ressalta que embora o TDAH mereça atenção especializada, nem toda dificuldade de concentração precisa ser explicada por um diagnóstico. Como gosto de ouvir uma fala assim de uma profissional.!
“O estudante precisa não de um laudo, mas de apoio, descanso e ambiente que o ajude a se organizar melhor. Falar sobre isso de forma cuidadosa é fundamental para que ninguém se sinta menor por estar cansado ou distraído”, observa.
Entender a procrastinação pode ser uma forma de ser gentil com o próprio ritmo. Bárbara reforça que adolescência é fase de aprendizagem em todos os sentidos, inclusive no jeito de lidar com o tempo. O que o cérebro precisa, muitas vezes, não é de cobrança, mas de pausa e direção.
* Isabela Teixeira da Costa (Interina)
