Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Qual brasileiro?

Nossa extrema direita já aposta claramente na desestabilização do atual governo. Por ora, só Lula não quer enxergar

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Alex Garland é um produtor e diretor de cinema conectado em seu tempo e de olhos bem abertos às possibilidades do futuro. Produtor e diretor de “Ex Machina: instinto artificial” (2015), fez quase uma obra-prima em “Guerra civil” (2024).

 

Formado em história da arte na University of Manchester, o inglês Garland é daqueles raros diretores e criadores de roteiros que articulam temas candentes da atualidade em transição para o futuro.

 

Diz muito uma das cenas mais expressivas da nova obra: numa tentativa de evitar mais mortes, um jornalista apela para a identidade nacional e argumenta com dois jovens militares que todos ali são americanos. É confrontado por um dos militares: “Que tipo de americano?”. Em todo o seu horror, da tela salta o universo hobbesiano dos conflitos múltiplos decorrentes do fim da ordem e das identidades estilhaçadas nos EUA.

 


A arte costuma predizer a vida. Ainda que nenhuma alternativa do futuro esteja posta e seja inexorável, quando as engrenagens da história são colocadas em movimento, é difícil pará-las. Na semana que passou, a roda da história andou nos EUA com um ex-presidente condenado e, no Brasil, um Congresso votando a favor da inimputabilidade das fake news. As histórias e suas rodas...

 

 

Se é a arte que imita a vida ou justo o contrário, é debate que segue. O que sabemos é que alguns brasileiros imitam os EUA e têm orgulho disso. Também sabemos que com o intervalo de dois anos e dois dias, o 8 de janeiro de 2023 foi uma cópia ainda mais patética do 6 de janeiro de 2021. Estudiosos e analistas discutem se a democracia brasileira tem mais chances de resistir do que a americana.

 

A polêmica, entretanto, deveria se centrar sobre o que restou de ambas. Se por um lado, há divergências em relação às causas, todos apontam para os efeitos deletérios dos algoritmos e das dinâmicas virtuais sobre a construção de realidades paralelas, além da militarização das sociedades pelo crescimento do poder policial como única resposta à insegurança cultivada nas desigualdades sociais. Essa combinação tem potencial para aprofundar a fratura dos tecidos sociais.

 

O governo Lula tem insistido na sua política de união e reconstrução. Existem dúvidas, à esquerda e à direita, se essa foi é a melhor escolha. As últimas votações no Congresso Nacional e as derrotas mostram que talvez seja melhor rever esse caminho. Nossa extrema direita já aposta claramente na desestabilização do atual governo. Por ora, só Lula não quer enxergar.

 

A fragmentação das identidades parece caminho sem volta nas sociedades tecnofeudais. Em seu clássico “As origens sociais da ditadura e da democracia: senhores e camponeses na construção do mundo moderno”, Barrington Moore mostra que eram vários os possíveis caminhos na transição da era pré-moderna para a moderna.

 

Nos EUA, a guerra civil poderia ser evitada e a abolição da escravatura consolidada se as identidades dos dois mundos em conflito tivessem sido preservadas. Na transição do mundo moderno para o pós-moderno, os senhores tecnofeudais deveriam apreender algo com seus antepassados.

 

Quem brinca de reescrever o mundo nem sempre termina como pretendia. Os aristocratas franceses, quando forçaram o rei a convocar os Estados gerais, queriam apenas mais poder e achavam que os “levellers” franceses não seriam um problema.

 

Mas os “sans culottes” e a guilhotina mostraram o contrário. A história poderá ensinar aos nossos congressistas e aos seus senhores. Lula poderá estar morto... mas os próximos "levellers" poderão não ser tão complacentes e fazer a mesma pergunta fatal do filme, traduzida para a realidade brasileira.

Maga da política


Para além dos partidos políticos da federação PT, PV, PCdoB, a frente em apoio à candidatura à reeleição de Marília Campos (PT), prefeita de Contagem, reúne 17 legendas. À exceção do PL e do PRD, estão entre elas as maiores siglas representadas não apenas no Centrão, mas também no arco de candidaturas postas à Prefeitura de Belo Horizonte: PP, MDB, PSD, União Brasil, PSB, PDT, a federação PSDB-Cidadania e a federação Psol-Rede. E ainda que Republicanos não tenham se definido na corrida à sucessão, está na base do governo.

 

Disputa em Contagem

São pré-candidatos à sucessão de Marília Campos o deputado federal Cabo Junio Amaral (PL), o empresário e suplente Felipe Saliba (PRD) – que chegou a substituir Fred Costa (PRD) – e Monique Pacheco (Avante). O primeiro com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que prepara uma ofensiva em Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis e em Juiz de Fora.


Inovação democrática


Em releitura às experiências de sucesso de participação popular, como o Orçamento Participativo lançado na gestão de Patrus Ananias (1992-1994) em Belo Horizonte, Marília Campos avançou em novo formato de incorporação da participação popular no governo. Governa em conexão com 600 conselheiros, de diferentes segmentos da sociedade: mulheres, empresários, jovens. Em reuniões periódicas, a cidade e projetos importantes são debatidos, como é o caso do plano diretor. O grupo também delibera sobre investimentos, a partir de uma dotação orçamentária de R$ 40 milhões.


Posse

O presidente eleito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Luiz Carlos Corrêa Junior, representará a instituição na cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 1º de julho, será a vez de Corrêa Junior assumir a presidência para o biênio. Integrarão a nova administração do TJMG o primeiro vice-presidente, desembargador Maros Lincoln; o segundo vice-presidente, desembargador Saulo Versiani; e o terceiro vice-presidente, desembargador Rogério Medeiros Garcia. O novo corregedor será o desembargador Estevão Luchesi e a subcorregedora será Karin Liliane Emerich.


Reunião de trabalho

A exemplo do que ocorreu em 2012, quando exerceu pela primeira vez a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia fará nesta terça-feira reunião com todos os presidentes dos tribunais regionais eleitorais do país. Como vice-presidente do TSE, ela foi responsável pela elaboração de todas as resoluções que irão regulamentar as eleições deste ano. São prioridades o combate às fake news e o uso de inteligência artificial, com a proibição de deepfakes e a obrigatoriedade de aviso do emprego de IA na propaganda. Também na gestão da nova presidente será concluído o processo de substituição das urnas eletrônicas, iniciado em 2021. A vida útil do equipamento é de aproximadamente 10 anos.


Presentes


Lula chegará ao TSE, nesta segunda, para a posse de Cármen Lúcia, acompanhado por sete ministros. De Minas Gerais, além do governador Romeu Zema (Novo) e do presidente da Assembleia Legislativa, Luiz Tadeu Martins Leite (MDB), acompanham a solenidade de posse da mineira, a bancada federal mineira e os conselheiros do Tribunal de Contas Agostinho Patrus e Durval Ângelo. Cármen Lúcia é referência para os movimentos pela igualdade de gênero e única mulher na mais alta corte do Brasil. Haverá presença significativa de deputadas mulheres e de representantes femininas de movimentos sociais na posse da ministra.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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