

A raposa e as uvas, na repactuação da dívida mineira
O governador mira o curtíssimo prazo. Gostaria de seguir sem pagar as parcelas da dívida até o final do seu mandato
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Mais de uma semana depois de intensificar a pressão, por meio de seus secretários, para que fosse colocado em votação na Assembleia Legislativa o projeto de lei que autoriza o estado a aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o governador Romeu Zema (Novo) emergiu à cena. E passou a desdenhar a proposta de repactuação da dívida dos estados construída nos últimos oito meses entre a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD) e o governo federal. Sem protagonismo no processo – arrastado pela corrente que trabalha para a repactuação da dívida dos estados – Zema decidiu reagir.
E o fez no momento em que Pacheco está prestes a iniciar a tramitação terminativa do projeto de lei complementar no Senado Federal, que comparativamente ao RRF, traz ao estado benefícios maiores: em nove anos, a proposta alternativa equaciona a dívida; o RRF lega débito de R$ 210 bilhões, depois da privatização das empresas estatais e de impor sacrifícios ao funcionalismo público. Vendo-se impotente em colher resultados políticos do movimento pela repactuação da dívida, como a raposa sob as videiras carregadas de uvas maduras, o governador diz: a proposta não é satisfatória; é insuficiente.
Sob benefício de uma liminar judicial, sem pagar há seis anos as parcelas do débito que agora se repactua, a dívida de Minas com a União saltou de cerca de R$ 98 bilhões para R$ 145,79 bilhões (valores de fevereiro). Mas o governador mira o curtíssimo prazo. Gostaria de seguir sem pagar as parcelas da dívida até o final do seu mandato. A granada do crescimento do estoque estará sobre o colo alheio. Por isso o governador enviou a sua equipe a Brasília na quarta-feira passada para pedir a Pacheco que ampliasse o período de carência do estado. Como tal não é possível, o governador mandou avisar que preferiria aprovar o RRF na Assembleia. Se arrancar da Assembleia a autorização para a adesão ao RRF, e a reboque, o projeto de lei complementar do teto de gastos, Zema avalia que a partir daí teria um primeiro ano de carência e, no segundo ano (o último de seu governo), pagaria 11,1% da parcela cheia (cerca de R$ 4 bilhões).
Mas como o outro lado também pensa, o resultado poderá não ser o esperado. Se a Advocacia-Geral da União (AGU) e Tesouro Nacional não concordarem com essa abordagem – e entenderem que a adesão de Minas ao RRF, embora não aprovada pela Assembleia, ocorreu em 2023 por via judicial – o estado precisaria iniciar os pagamentos já em 2024. Zema poderá sempre judicializar. Mas a mais recente manifestação de Nunes Marques, ministro-relator do Supremo Tribunal Federal (STF) deu sinais de que há limites para seguir estendendo os prazos do estado, sem que este faça efetivamente um único desembolso: “A prorrogação da situação de endividamento, nesse painel, tem de ser acompanhada de atitudes concretas e de disposição a uma negociação célere e respeitosa entre as unidades políticas envolvidas”. Nesse contexto, justifica-se a avaliação entre aqueles que trabalham pela construção de uma proposta alternativa ao RRF, que para nova extensão do período de carência, será necessária a aprovação do projeto de lei complementar no Senado Federal, o que Rodrigo Pacheco acredita, fará na primeira quinzena de julho.
Na toada em que segue o governador Romeu Zema, se algo de bom conseguirá perceber na proposta de lei complementar de Rodrigo Pacheco, será o argumento para ganhar mais prazo de carência no STF. Fora isso, nada será suficientemente bom. As uvas estarão sempre azedas.
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Sem voto
As lideranças do governo Romeu Zema na Assembleia estão convencidas de que o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), colocará em pauta a votação do Projeto de Lei 1202/10, que autoriza o estado a aderir ao RRF, se não houver no âmbito federal uma movimentação que justifique novo adiamento, pelo STF, dos prazos de carência do pagamento da dívida de Minas. A questão é se a matéria será aprovada.
Teto de gastos
Com maioria simples, o entendimento é de que o governo Zema tenha votos para a aprovação do PL 1202/10. Mas, em se tratando do Projeto de Lei Complementar (PLC) 38/23, – que ficou conhecido como “teto de gastos” e foi desmembrado do primeiro – a história é outra. Este precisa de quórum qualificado. E em se tratando de RRF, o ânimo na Casa Legislativa não é bom: “qualquer alternativa ao RRF é melhor”, afirma uma liderança na Casa. A maioria dos parlamentares está convencida de que a proposta alternativa de Rodrigo Pacheco é melhor para o estado. Para a adesão formal ao RRF o estado precisa aprovar as duas matérias.
Cidades inteligentes
O I Seminário de Governança Pública para Cidades Inteligentes será realizado nesta quarta-feira, na sede da Sociedade Mineira de Engenharia. Vai apresentar tendências e práticas em governança pública voltadas para o desenvolvimento de cidades inteligentes. O seminário ocorre no contexto da sanção vigor da Lei 24.839/24, de autoria da deputada estadual Alê Portela (PL) – agora secretária de Estado de Desenvolvimento Social – e do deputado estadual Rodrigo Lopes (União), que institui a política estadual de apoio e incentivo às cidades inteligentes, denominada “Minas Inteligente”. Segundo Rodrigo Lopes, com a nova legislação municípios serão estimulados a desenvolver o sistema regulatório e de infraestrutura administrativa para a implementação de cidades inteligentes.
Tucanos
Últimos a se posicionar na disputa à sucessão de Fuad Noman (PSD), os tucanos seguem em banho maria, à espera de pesquisas que lhes sinalizem o potencial eleitoral do ex-deputado estadual João Leite (PSDB). “Estamos avaliando e fizemos bem em esperar. O cenário está ainda em aberto em BH”, diz Paulo Abi-Ackel, presidente estadual do PSDB. Se João Leite não for candidato, tucanos consideram duas possibilidades: aliança com o prefeito Fuad Noman ou com o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB).
Atraso
Assim como na posse do desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho à frente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2022, o governador Romeu Zema (Novo) voltou a atrasar, nesta segunda-feira, na posse do novo presidente, o desembargador Luiz Carlos Corrêa Junior. Marcada para as 17h30, foi iniciada às 19h. Em seu discurso de posse, Corrêa Junior lembrou como chegou a Minas há 36 anos, para o concurso de promotor de Justiça. Recém-formado em direito no Rio de Janeiro, o amigo Rômulo de Carvalho Ferraz, ex-procurador de Justiça, atualmente advogado, o convenceu a participar.
Fake news
Corrêa Júnior destacou em seu discurso a interação e diálogo do Poder Judiciário com a sociedade organizada, – associações, sindicatos e a imprensa –, garantindo-lhes liberdade de expressão. Corrêa Junior também assinalou que o Poder Judiciário seguirá combatendo a disseminação de notícias falsas. “Como destacou recentemente a ministra Cármen Lúcia, geraiszeira que nos orgulha e representa, no emblemático discurso proferido em sua posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, contra o vírus da mentira, há o remédio da informação séria. O medo não tem assento em alguma casa de Justiça”.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.