Uma carta sela a disputa presidencial e põe copos à mesa
o lulismo é maior do que o grupo que se declara de esquerda
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De próprio punho, a carta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciada à porta do hospital em que está internado encerraa as especulações do Centrão e de segmentos da Faria Lima, que ainda mantinham esperança de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freire (Republicanos), à última hora, pudesse ser sacado da cartola como o nome do campo bolsonarista. Se pelas características conhecidas da família tal probabilidade já era baixa; agora se torna residual. Move-se ao campo do imponderável da política; o imponderável da vida.
Bolsonaro nunca cogitou entregar o seu capital eleitoral a qualquer liderança fora de seus filhos – pois até em relação a Michelle Bolsonaro, há resistência e cuidado para que não escape à sua batuta. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) está confirmado. Para o ex-presidente, perder a eleição para Lula é mais interessante do que deixar um nome florescer à direita e desbancá-lo de vez desse campo político. Bolsonaro precisa de Lula para seguir; e Lula prefere enfrentar um Bolsonaro, o que facilita a sua tarefa de desarticular a coesão de partidos à direita.
O bolsonarismo e o lulopetismo seguem como as duas principais trações eleitorais para eleições majoritárias. A mais recente pesquisa Datafolha aponta para 40% de eleitores no Brasil inclinados a Lula e ao PT. Ao mesmo tempo, 34% pendem ao bolsonarismo. Portanto, os dois grupos somam 74% do eleitorado, o que dificulta a vida do centro político. Pelo DataFolha, ao centro estão 24% de eleitores que se dizem neutros ou que não apoiam nem Lula nem Bolsonaro. O tamanho desses grupos que segmentam o eleitorado brasileiro oscila de acordo com a metodologia empregada para a mensuração. Mas, em diferentes institutos, há algo próximo a um terço do eleitorado em cada um dos nichos.
Enquanto a perspectiva do bolsonarismo tem uma associação profunda com o posicionamento à direita de eleitores no espectro ideológico direita-esquerda, o lulismo é maior do que o grupo de eleitores que se declaram de esquerda. De acordo com o DataFolha, 22% se posicionam à esquerda contra 40% se inclinam ao lulismo. Não à toa a esquerda depende de Lula e hoje, não teria nome alternativo para substitui-lo.
O Natal de 2025 se fecha com as duas forças políticas nacionais posicionadas na disputa ao Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo em que a movimentação das legendas que integram o Centrão tende a se intensificar nos próximos meses, o tom das duas principais campanhas já está dado nas mensagens natalinas dos dois grupos políticos.
Lula fez um balanço da sua gestão. Apontou para conquistas sociais, econômicas e no campo da segurança pública. Depois de reiterar quevai implantar em 2026 a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, Lula também defendeu a escala de trabalho 6 por 1. Mencionou obras em curso pelo país e destacou o combate ao crime organizado sobretudo mirando a sua infiltração nas elites empresariais, políticas e do funcionalismo público. Lula também fez menção à soberania do país, com o que chamou de vitória em reverter o tarifaço de Donald Trump.
Assim como certas referências da carta de Bolsonaro lida por Flávio, Michelle Bolsonaro retomou o discurso com forte viés vitimista, eivado de apelo religioso e moral. Nos dois campos políticos, a retórica vai promover a clássica contraposição narrativa em campanhas à reeleição: enquanto o incumbente apresenta os seus feitos e anuncia um copo cheio; o desafiante – nesse caso não terá ações de governo a apresentar e, por isso, vai desconstruir a perspectiva governamental, do copo cheio.
Flávio Bolsonaro quer mostrar ao eleitorado brasileiro um copo vazio de ações governamentais e um pai, apontado como “perseguido”, em negação aos crimes contra o estado democrático no Brasil. Como um dia observou Norberto Bobbio: “Quando o espaço das alternativas se estreita, a política deixa de escolher e passa a apenas confirmar”.
União
A confirmação da candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República vai reorganizar as alianças e forças políticas no Congresso Nacional e nas corridas estaduais. Parte do Centrão que trabalhou pela candidatura de Tarcísio de Freitas tenderá a se reaproximar do governo Lula. Nesse movimento se inclui o União, que retornou ao primeiro escalão e poderá, nos estados, entre os quais Minas, rever o comando da legenda para torná-lo mais permeável a alianças com candidaturas estaduais do campo lulista.
Expectativa
Aliados do prefeito Álvaro Damião (União) mantêm a expectativa de que ele assuma a presidência do partido no estado, em substituição ao deputado federal delegado Marcelo Freitas.
Mais ninguém
Entre os muitos que se apoiaram em Jair Bolsonaro (PL) para se eleger em 2022, o deputado estadual Caporezzo (PL) foi o único a permanecer em plantão à porta do hospital DF Star, em Brasília, neste Natal. O parlamentar se deslocou com a família para acompanhar a cirurgia do ex-presidente.
PIS e Pasep
Mais de 140 mil trabalhadores ainda não sacaram o abono salarial dos programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). O prazo final para resgate do valor que soma R$ 145,7 milhões é a próxima segunda-feira, 29. Além do período de abono com ano-base de 2023, o benefício deste ano também engloba revisões de pagamentos dos cinco anos anteriores. Caso o saque não seja realizado dentro do período estimado, é necessário aguardar convocação especial do Ministério do Trabalho e Emprego.
Bíblia, boi e bala
Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, segue em campanha aberta em Minas Gerais para deputado federal. Ele não concorrerá pelo Rio para não prejudicar a candidatura da filha, a deputada federal Dani Cunha (União-RJ). Sob o tripé bíblia, boi e bala, Cunha escolheu Uberaba, no Triângulo Mineiro, como base eleitoral. O ex-deputado federal, que presidia a Câmara dos Deputados quando aceitou o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff (PT), teve as condenações da Lava-jato anuladas.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
