*Por Morgana Gonçalves
No domingo, 7 de dezembro de 2025, Belo Horizonte e outras capitais brasileiras receberam um ato nacional contra o aumento dos casos de feminicídio e das violações dos direitos das mulheres. Milhares de pessoas foram às ruas para dizer o óbvio: basta. A cada semana, as estatísticas de violência crescem e, mesmo assim, muitos sinais continuam sendo ignorados.
Antes de escrever este texto, pensei se não estaria sendo repetitiva. Afinal, em agosto aqui na coluna falei sobre o Agosto Lilás (mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher). Além disso, esse tema foi debatido no podcast do Direito Simples Assim, tendo como entrevistada a promotora de Justiça Patrícia Habkouk.
Vou abrir um parêntesis e convidar você, leitor, a acompanhar nosso podcast, onde tratamos diversos temas jurídicos de forma clara, simples e humana. Neste link você irá encontrar informação de qualidade.
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Pois bem, percebi que não seria repetitivo o tema, já que, se continuamos falando de violência, é porque ela continua acontecendo e, consequentemente, se repetindo. E enquanto houver mulheres sofrendo, não há espaço para silêncio.
Nos últimos meses tenho me deparado com mulheres - jovens, adultas, mães, profissionais — que ainda justificam humilhações, xingamentos, gritos e palavrões. Sem falar nas agressões físicas. Muitas não percebem que arremessar objetos, empurrar, sacudir, apontar o dedo no rosto, bloquear a passagem ou intimidar com o corpo já são atos de agressão. E, pior, tentam explicar o comportamento do parceiro: “ele estava nervoso”, “é o jeito dele”, “não queria me machucar”.
Mas violência não tem justificativa. Nunca teve. Nunca terá!
No meu escritório, recebo mulheres mentalmente destruídas após anos de violência psicológica que elas sequer percebiam que estavam sofrendo. Chegam esgotadas, confusas, sentindo culpa por algo que nunca deveria ter sido colocado sobre seus ombros.
E o mais triste é que, além de enfrentar o agressor, muitas enfrentam também o julgamento. Ainda ouço, inclusive de colegas advogados, discursos que questionam o pedido de medida protetiva: — “ Por que só agora? Se vivia há anos assim, por que resolveu denunciar? Parece que quer tumultuar o processo". Esse tipo de fala deslegitima o sofrimento da vítima e reforça um ciclo de silenciamento que, em muitos casos, termina em tragédia.
É preciso dizer, sem hesitação: basta!
Mulheres, quando surge a primeira violência, seja física, verbal, emocional ou psicológica, o amor já não está mais ali. Ou talvez nunca tenha existido.
A violência nos relacionamentos, inclusive no namoro, não deve ser normalizada. Reconhecer um empurrão como agressão. Reconhecer um grito que intimida como agressão. Reconhecer um dedo apontado no rosto como agressão. Reconhecer a humilhação como agressão. Esse é o primeiro passo para quebrar o ciclo!
O ato do último domingo representa exatamente isso: o grito coletivo de todas nós, mulheres, dizendo não aceitamos mais. Não aceitamos desculpas, não aceitamos justificativas, não aceitamos violência, de nenhuma forma, em nenhum estágio da relação.
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Não podemos mais justificar o imperdoável!
Lembrem-se: quando existe de violência de qualquer forma que for, não há espaço para o amor e a cumplicidade. E, quando reconhecimentos isso, encontramos o caminho para romper.
*Morgana Gonçalves é advogada civilista militante no Direito das Famílias
