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A verdade sobre as profissões mais bem pagas do Brasil

Microdados do IBGE revelaram um ranking de 428 carreiras segundo a média salarial de cada uma e levantou discussões importantes sobre a realidade brasileira.

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Por Isabel Gonçalves

Em uma discussão de mesa de bar, um grupo de amigos estava tentando descobrir quais as profissões mais bem pagas do Brasil. Um falou que era jogador de futebol, a outra tem certeza que são os influenciadores digitais, outro disse médicos ou juízes e no fim acharam uma pesquisa do IBGE que indicou que não era nada disso e ficaram inconformados. 

E você, qual seu palpite para a profissão mais bem paga do Brasil? Já adiantamos que a resposta do IBGE é bem inusitada. Segundo eles, as cinco profissões mais bem pagas do Brasil recebem entre 12 a 16 vezes mais do que o salário mínimo, mas será que isso reflete a realidade? 

Qual a profissão mais bem paga do país? 

Vamos direto ao ponto. Bruno Imaizumi, da consultoria LCA 4intelligence, foi o responsável por elaborar a lista de 428 carreiras e fazer o ranking do salário bruto, sem desconto do INSS e imposto de renda. Na lista dele os profissionais mais bem pagos do Brasil são Oficiais Maquinistas Em Navegação, com um salário de R$24.686,16. 

Você pode estar pensando, oficiais em que? Pois é, nós também não conhecíamos essa profissão. Mas para sanar a nossa curiosidade, os Oficiais Maquinistas Em Navegação são responsáveis pela operação, manutenção e conserto de equipamentos mecânicos, elétricos e eletrônicos a bordo dos navios. 

Depois de responder a primeira dúvida, a certeza que fica é: existem salários maiores que esse. No ranking do IBGE, os CEOs, diretores e gerentes executivos de empresas estão em segundo lugar, juízes em quinto e filósofos e historiadores em nono lugar. Fica difícil acreditar que um cara que opera navios ganha mais do que o CEO do Banco Inter

Os maiores salários x as profissões mais bem pagas

Uma coisa importante é diferenciar e estabelecer os critérios de avaliação para descobrir as profissões mais bem pagas. A profissão com a maior média salarial não necessariamente vai representar quem ganha mais, já que os salários podem variar muito e existem diversas formas de ganhar dinheiro. 

Médicos especialistas, por exemplo, podem receber o salário do hospital e ainda cobrar por atendimentos em seu próprio consultório. Outro bom exemplo são os influenciadores digitais, que podem ganhar dinheiro com publicidade para marcas, vídeos ao vivo, visualizações e likes. 

O salário de um juíz depende da sua região, sua atuação e o tempo de carreira. Dados mostram que a remuneração inicial de um juiz federal, por exemplo, pode ir até R$43.000, enquanto a de um juiz substituto começa em R$27.500. 

Isso só mostra como é difícil mensurar quais as profissões mais bem pagas do país. 

O que os dados não contam

Então, como uma pesquisa mostra que a maior média salarial do Brasil corresponde a mais ou menos 25 mil reais? Simples, seleção de dados. As pesquisas salariais trabalham com registros formais, ou seja, aqueles declarados com carteira assinada e baseados em vínculos trabalhistas oficiais. 

Isso exclui grande parte dos trabalhadores autônomos, informais ou que recebem de maneiras variadas: como distribuições de lucros, dividendos, bonificações em ações, participações em resultados, comissões, contratos PJ ou monetização por plataformas digitais. É por isso que profissões com remuneração variável, como influenciadores, artistas, empreendedores ou até mesmo médicos autônomos, acabam ficando de fora dos rankings. 

O mesmo levantamento, se fosse feito na base da Receita Federal, com a declaração do Imposto de Renda, produziria resultados distintos, uma vez que renda e salário são coisas diferentes. E ainda que CEOs estejam na lista, por exemplo, o que foi levado em conta foi o salário fixo, sem considerar bônus, participação nos lucros ou outros benefícios que podem multiplicar em várias vezes os ganhos reais.

O que faz uma pessoa ganhar bem?

Bruno, o responsável por elaborar a lista, diz que salário é reflexo de produtividade para a economia e que o principal fator que contribui para o valor do salário de uma profissão é a especialização. Para ele, cargos que exigem maior qualificação geralmente pagam bem.

Isso se justifica em partes. Para se ter uma noção, para uma pessoa se tornar juiz, é necessário em média de 8 a 10 anos de estudo e experiência, já para médicos especializados o tempo varia de 9 a 11 anos no total.

Mas a grande verdade é que no mundo em que vivemos, existem profissões mais reconhecidas que outras e que, naturalmente, vão ganhar mais. É aquela velha história do jogador de futebol e do professor. De alguma forma inexplicável, atletas de grandes clubes são mais valiosos para a economia do que a educação.  

Afinal, salário é mesmo reflexo de produtividade? 

Se você acha que ganhar bem é resultado do quanto a profissão produz e impacta na economia, você está errado. Quem não se lembra da greve dos caminhoneiros de 2018? Eles pararam o Brasil, nada mais funcionava direito. Eles sim são produtivos para a economia do país e mesmo assim, não entram nem no top 10 da lista… 

Falar que salário é reflexo da produtividade parece fazer sentido inicialmente, mas esse pensamento esconde uma visão muito simplificada da realidade. Dizer que salário é reflexo da produtividade dá a entender que quem ganha pouco é porque trabalha pouco ou produz pouco, o que não é verdade. Muitas pessoas que estão na informalidade trabalham muito, às vezes mais do que quem tem carteira assinada, mas ganham pouco porque não têm acesso a direitos, formação ou oportunidades melhores. Colocar a culpa nos trabalhadores por ganharem mal é ignorar todo o contexto social que leva a isso.

Conclusão: existem perguntas que os rankings não respondem

No fim das contas, a diferença entre o que aparece no papel e o que se ganha de fato revela uma realidade incômoda: medir riqueza ou prestígio profissional apenas por dados médios pode ser muito limitado. A desigualdade no Brasil também se expressa nos contracheques e na invisibilidade de algumas formas de trabalho.

Então, ao discutir qual é a profissão “mais bem paga”, talvez o mais justo seja mudar a pergunta: quem realmente está ganhando mais e por quê? É o talento? É o esforço? É o privilégio? É a sorte? Ou é o acesso a determinadas estruturas e oportunidades?

A resposta está menos nos dados do IBGE e mais na forma como a sociedade valoriza (ou não) cada tipo de trabalho. E, muitas vezes, quem movimenta a economia de verdade nem sequer entra nessas listas.


 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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