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Por Alexia Diniz
Quando decidi começar a correr, achei que seria o esporte mais barato do mundo. Coloquei meu tênis velho de caminhada, fui até a praça perto de casa, fiz 2 km e voltei feliz, pensando: “esse é o esporte mais barato do mundo, não gastei nada”.
Mas bastaram algumas semanas acompanhando influencers para perceber como essa “brincadeira” poderia ficar cara. De repente, o tênis que eu usava já não servia (não tinha placa de carbono), o relógio com GPS, para saber meu “pace” parecia indispensável, e até uma meia de compressão de R$100 passou a parecer “necessária”.
Foi aí que percebi: a corrida pode ser gratuita se você quiser, mas também pode virar um rombo no orçamento se entrar na modinha do consumo esportivo. Essa experiência me fez pensar em como a corrida se parece com as finanças: o básico é barato, mas o excesso custa caro.
Correr é de graça? Nem sempre!
Correr costuma ser vendido como o esporte mais democrático do mundo. Afinal, basta um par de tênis e a rua já está lá, disponível.
Mas quando a corrida vira moda e os influenciadores entram na mente, tudo desanda. Relógio inteligente, óculos esportivo, roupas “tech”… aos poucos, o barato sai caro.
Essa contradição é muito parecida com as finanças pessoais. O básico funciona, mas se você cair na armadilha do consumo, seu bolso vai sentir o impacto.
O básico que vira luxo
Agora que a corrida está na moda, os preços disparam. Veja uma simulação de quanto gastaria se fosse seguir a “cartilha dos influencers”:
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Tênis de corrida: R$500 a R$1.500
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Relógio esportivo com GPS: R$1.000 a R$3.000
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Roupas (camiseta, short, jaqueta corta-vento, manguito, meia de compressão): R$600 a R$1.000
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Óculos esportivos + fones sem fio “especiais para corrida”: R$800 a R$1.200
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Inscrição em provas de rua (3 a 4 por ano, média de R$ 120 cada): R$360 a R$500
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Assessoria esportiva (R$100/mês): R$ 1.200 por ano
Total anual: R$4.460 a R$8.400
O esporte que era pra ser barato sai mais caro que o plano Silver do gympass durante o ano (R$139,90 por mês = R$1678,80).
Comparando com o “básico de verdade”
Agora, imagine se seguisse apenas o essencial:
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Tênis comum: R$300
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Roupas comuns de caminhada: já tinha em casa
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Apps gratuitos para treino: Strava, Adidas Running, Nike Run Club
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Prova de rua, pra postar no instagram: 1 por ano (R$ 120)
Total anual: R$420
Ou seja: entrar na modinha pode custar até 20 vezes mais do que praticar a corrida com o básico.
E os suplementos, entram na conta?
Além do tênis e do relógio, muitos corredores acabam entrando na onda dos suplementos. São géis de carboidrato, barrinhas “energéticas”, isotônicos “premium” e até cápsulas milagrosas para recuperar músculos.
O problema é que cada sachê de gel custa de R$10 a R$15, e muitos corredores usam dois por treino longo. Coloque isso na ponta do lápis e, no fim do mês, dá pra pagar outra mensalidade de academia.
Então aqui vai uma dica de quem já tentou viver de suplemento: às vezes ir no sacolão fazer várias refeições no dia e deixar o suplemento só pra aquela meia maratona, pesa menos no bolso e te deixa mais feliz em ter “comida de verdade”.
A vida financeira é como investir em produtos “da moda” sem avaliar os custos. O risco é grande de gastar muito, sem retorno proporcional.
Na corrida, gastar R$8 mil não garante que você vá correr mais ou melhor. O que faz diferença é a disciplina.
E a motivação não vem só do tênis novo
No começo, a motivação deve vir do prazer em se movimentar e da disciplina. Não do “brinde” que você comprou para se sentir atleta.
Assim como na vida financeira, a consistência é mais importante do que a aparência. Um bom hábito vale mais que um acessório caro.
Antes de pensar em performance, pense em criar uma rotina. Isso custa zero reais e rende saúde, sem juros.
Pense nela como juros compostos: quanto mais você repete o hábito, maior o retorno ao longo do tempo. Nenhum tênis de carbono substitui a constância.
Como correr 5 km sendo iniciante
Se você nunca correu, não adianta tentar 5 km direto. Intercale caminhada e corrida leve, 3 vezes por semana. Pode acreditar que seu corpo agradece.
Esse ritmo é como investir pouco no início: você não enriquece em um mês, mas constrói um patrimônio com paciência.A cada semana, aumente 10% da distância ou do tempo. É como aumentar o valor do seu investimento mensal: pouco a pouco, o resultado aparece
Como aprender a correr sozinho
Você não precisa pagar R$100 (ou mais) por mês em consultoria. Muitos sites (Tua saúde, Atletis e Alice saúde) e apps gratuitos (Nike Run Club, Start to Run ou Adidas Running) já te ensinam como melhorar seu pace e desempenho.
Começar a correr sozinho é como aprender a controlar seu orçamento. Dá mais trabalho no começo, mas você ganha liberdade e não fica refém de terceiros. E a coincidência não para por aí, a maioria dos sites e influenciadores de corrida, também passam os treinos através de planilha… como as planilhas financeiras.
Quanto tempo um iniciante faz 5 km?
Em geral, iniciantes completam 5 km entre 30 e 45 minutos. Mas não existe tempo certo. Assim como nos investimentos, comparar sua corrida com a do vizinho só gera frustração. O importante é estar no jogo.
Com disciplina, você vai melhorar naturalmente. O mesmo vale para sua vida financeira: o tempo corrige e multiplica os esforços consistentes. Tem pessoas que em 3 meses controlam sua vida financeira, outras que precisam de pelo menos um ano cortando o cafezinho, o importante é começar.
O que fazer para não cansar?
Se cansar rápido é normal. O corpo precisa se adaptar. Aumente a distância (ou os cortes) pouco a pouco. É o mesmo que guardar R$50 por mês até virar R$500. Pouco, mas constante.
Controlar a respiração ajuda no fôlego. Nas finanças, controlar gastos desnecessários ajuda no orçamento.
O esporte do momento (e por isso tudo está caro)
A corrida vive um boom. Provas lotam, tênis premium esgotam em minutos e marcas lançam coleções inflacionadas. É a mesma lógica de investimentos “da moda”: quando todo mundo entra, o preço sobe.
Para não perder dinheiro nem na corrida nem no mercado, foque no básico. Quem corre ou investe com consistência vence no longo prazo.
Apps que gamificam a corrida
Apps como Sweatcoin transformam passos em moedas virtuais que podem ser trocadas por descontos. É divertido, mas pode incentivar compras por impulso: você acaba gastando só porque “ganhou desconto”.
Se já ia comprar um tênis, o desconto pode ajudar. Mas nunca compre só porque o app sugeriu. Recompensas devem ser consequência, não desculpa.
Conclusão: corra no asfalto, não atrás da modinha
Começar a correr pode custar R$420 por ano ou R$8 mil, a escolha é sua. O importante não é o tênis com placa de carbono, mas a disciplina de sair de casa algumas vezes por semana. Não é o relógio premium, mas a constância de cuidar da saúde e do bolso.
Como começar a correr é simples: vá devagar, use o que já tem, mantenha o hábito. O resto é excesso, no asfalto e na vida financeira.
Faça o mesmo nas suas finanças: disciplina, foco, constância, planejamento e realismo. Inclusive, o sentimento de lutar contra a preguiça ou o cansaço enquanto se corre se parece muito com as barreiras ao planejamento e à disciplina financeira. É aquela vontade de desistir, sabe?
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.