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Por Alexia Diniz
Ana acabou de ser contratada por uma grande companhia e, ao conhecer os benefícios, descobriu que teria acesso a um plano de previdência privada empresarial.
A lembrança veio na hora: uma ex-colega já havia comentado sobre esse tipo de plano, elogiou a contribuição da empresa, mas reclamou bastante da dificuldade para resgatar o dinheiro ao pedir demissão.
E aí surge a pergunta que muita gente se faz: participar da previdência da empresa é uma boa oportunidade para construir o futuro ou apenas uma estratégia para manter o funcionário preso ao cargo?
A verdade é que a resposta não é tão simples e depende de analisar alguns detalhes fundamentais, como regras de resgate, contrapartida da empresa e tipo de plano (PGBL ou VGBL).
Como funciona a previdência privada empresarial?
Em planos de previdência empresarial, todos os meses uma fatia do seu salário é direcionada automaticamente para uma conta de investimento de longo prazo. Esses planos são administrados por instituições financeiras como Itaú, Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Porto Seguro, Sicredi, entre outras.
A grande vantagem é que a empresa não deixa você investir sozinho. Ela coloca uma quantia a mais, acompanhando sua contribuição até um limite: algo como “para cada real que você aplica, eu coloco outro”, geralmente até um percentual do seu salário (por exemplo, 7%). É quase como ganhar um aumento silencioso destinado ao seu futuro.
Se quiser, você ainda pode complementar com um valor extra por conta própria, especialmente para aproveitar o benefício fiscal: quem declara pelo modelo completo do Imposto de Renda pode deduzir até 12% da renda tributável com contribuições para PGBL. Mas atenção: esse valor extra não é acompanhado pela empresa, ela só investe até o teto definido por ela.
No caso da Ana, por exemplo, ela investe R$120 por mês. A empresa entra com mais R$70. No final, a previdência dela recebe R$190 todo mês, mesmo ela tendo tirado apenas R$120 do bolso.
Mas existe um detalhe importante: o dinheiro que Ana coloca é sempre dela. Já a parte que a empresa deposita pode ter regras. Se ela deixar o emprego antes do tempo mínimo exigido, pode perder parte, ou até tudo, do valor que a empresa investiu.
Quando a previdência empresarial realmente vale a pena?
Aqui está o ponto-chave: esse benefício só compensa de verdade se você tiver planos de permanecer na empresa por alguns anos. Veja com calma.
Imagine que Ana receba um salário de R$5.000.
Ela decide contribuir com 5% (R$250) para o plano e a empresa deposita o mesmo valor, respeitando o teto de contribuição, que nesse caso seria de 7%.
Resultado? Todo mês, R$500 vão parar na previdência dela, sendo metade dinheiro da empresa.
Em um ano, isso significa R$6.000 investidos, dos quais R$3.000 vieram do empregador.
Se o limite da empresa fosse de 8% ou mais, isso poderia representar quase um “14º salário” investido, sem que Ana tirasse esse valor do próprio bolso.
Mas atenção: previdência não é investimento para emergências. Esse tipo de plano fica lá atrás na fila das prioridades, depois de:
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Reserva de emergência;
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Aplicações líquidas, como CDB com resgate diário.
Ou seja, só faz sentido para quem já está com a casa financeira minimamente arrumada e quer pensar a longo prazo, principalmente se for aproveitar o benefício fiscal do PGBL, que permite deduzir até 12% da renda tributável no Imposto de Renda.
Outra vantagem é que, se Ana sair da empresa, ela pode levar pelo menos parte dela para outro plano individual, sem perder o histórico. E isso pode ser estratégico, porque na tabela regressiva de IR, a alíquota cai de 35% para 10% após 10 anos de aplicação.
PGBL ou VGBL: qual faz mais sentido?
Dentro dos planos empresariais, normalmente o funcionário pode escolher entre dois tipos:
PGBL – Ideal para quem declara Imposto de Renda no modo completo. Permite descontar até 12% da renda bruta anual.
VGBL – Mais adequado para quem usa o formulário simplificado ou já bateu o limite de dedução. Nesse caso, o imposto incide apenas sobre os rendimentos, não sobre o total investido.
Além disso, é necessário optar entre as duas tabelas de tributação:
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Progressiva – segue a mesma lógica do IR tradicional.
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Regressiva – quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, menor a alíquota (de 35% até 10%).
Colocando a previdência privada na prática
Vamos comparar dois colegas de trabalho: João e Ana, ambos com acesso à previdência empresarial.
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João decide entrar no plano e pretende ficar na empresa. Com a contribuição da empresa ao longo dos anos, ele acumula quase o dobro do que conseguiria sozinho.
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Ana, por outro lado, contribui apenas por um ano e decide mudar de emprego. Ela até leva a parte dela, mas perde o dinheiro que a empresa havia depositado.
A previdência empresarial é excelente para quem busca estabilidade. Mas, para quem troca de trabalho com frequência, pode significar deixar dinheiro na mesa.
E se o plano da empresa for ruim?
Muita gente pensa: “Ah, mas esse dinheiro nem veio do meu bolso…” É verdade. No entanto, é importante lembrar que os planos empresariais costumam ter regras fixas e menos liberdade de escolha do que um plano individual.
Porém, seguradoras grandes oferecem uma boa variedade de fundos e perfis (conservador, moderado, arrojado). Ou seja, dificilmente você ficará sem uma opção que combine com seu perfil.
Agora, se você é aquele investidor que domina o mercado, conhece gestores menores e busca rentabilidades muito específicas, talvez prefira contratar um plano por fora. Mas convenhamos: esse perfil é minoria.
Dúvidas frequentes sobre previdência privada empresarial
Onde fica o dinheiro da previdência?
O dinheiro é aplicado em fundos de investimento, administrados por seguradoras parceiras da empresa (como Brasilprev, Itaú, Bradesco, etc.). Você pode escolher o tipo de fundo:
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Conservador (renda fixa)
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Moderado (multimercado)
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Arrojado (mais risco)
Se não gostar do desempenho, pode trocar de fundo (portabilidade interna), geralmente a cada seis meses.
Posso resgatar o dinheiro quando quiser?
A sua parte, sim ela é sempre sua, mas tirar antes normalmente não compensa por ter desconto. Já a parte da empresa pode ter carência (prazo mínimo). Se você sair da empresa antes do prazo, pode perder parte ou todo o valor que ela investiu em você.
O que é carência na previdência empresarial?
É o tempo mínimo que você precisa ficar na empresa para ter direito ao dinheiro que ela investiu. Se sair antes, perde a contrapartida. É uma forma de fidelização, tipo plano de celular com fidelidade.
A previdência empresarial tem incentivo fiscal para a empresa?
Tem sim. A empresa pode descontar esse gasto como despesa e ainda usa o benefício para atrair e reter talentos
Existe previdência privada para pessoa jurídica?
Empresas podem contratar planos coletivos para seus funcionários. Já quem tem CNPJ próprio (MEI ou autônomo), precisa contratar um plano individual, sem a parte da empresa.
Como é a aposentadoria para quem tem CNPJ?
Não existe contribuição da empresa. O empresário paga tudo sozinho em um plano individual (PGBL ou VGBL), como qualquer investidor comum.
Qual é a natureza jurídica da previdência privada?
É um contrato voluntário entre você, a empresa (quando houver) e a seguradora. Diferente do INSS, que é obrigatório, a previdência privada é uma escolha.
O que diz a Lei nº 108/2001?
Essa lei é o “manual de regras” da previdência complementar. Ela garante que:
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Os planos sejam bem administrados
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Haja transparência e regras claras
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Existam normas de carência, resgate e portabilidade
Ou seja, é a lei que protege o dinheiro de quem participa desses planos.
Conclusão: previdência empresarial é benefício… mas não é milagre
A previdência privada empresarial pode, sim, ser um dos melhores benefícios que uma empresa oferece, afinal, quantos empregadores colocam dinheiro no seu futuro sem tirar nada do seu bolso? Mas é preciso lembrar: não existe benefício sem condição.
Esse tipo de plano é excelente para quem tem estabilidade, pensa no longo prazo e está disposto a “ficar para colher”. Quem entra e sai rápido do emprego pode acabar deixando dinheiro na mesa, e pior, acreditando que perdeu tempo.
Outro ponto importante: previdência empresarial não substitui organização financeira. Ela não resolve dívidas, não serve como emergência e não dispensa planejamento pessoal. É uma ferramenta de construção de patrimônio e como toda ferramenta, pode ser útil ou inútil, dependendo de quem a usa.
Enquanto muitos recusam por medo de “ficar preso”, outros deixam de aproveitar um dos poucos momentos em que o dinheiro literalmente se multiplica sem esforço. No fim das contas, o maior erro não é aderir ou recusar, é decidir sem entender.
Portanto, antes de dizer “sim” ou “não”, faça a pergunta mais importante: “Estou investindo para o futuro ou estou apenas seguindo a empresa?”
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.