Por Isabel Gonçalves
Iris é tradicional, tem o mesmo corretor de seguros há anos e só confia nas seguradoras mais tradicionais: Porto, Bradesco Seguros, Zurich e mais umas duas. José, seu marido, é o contrário, gosta de experimentar coisas novas e é entusiasta da expansão do mercado financeiro. Chegou a hora de renovar os seguros da família (de vida, do carro, da casa e até da bicicleta) e eles entraram num impasse.
A cena resume uma mudança silenciosa no mercado financeiro. Empresas de telefonia, varejo e até delivery estão disputando espaço com as seguradoras tradicionais, oferecendo coberturas mais simples, baratas e digitais. Mas será que esses novos produtos realmente substituem as opções conhecidas dos grandes bancos?
O novo jogo das seguradoras
O mercado de seguros no Brasil sempre foi dominado por grandes bancos e empresas tradicionais. Porém, nos últimos anos, surgiram novos jogadores dispostos a simplificar o que sempre pareceu burocrático.
Operadoras de telefonia, fintechs e varejistas perceberam que o seguro pode ser mais do que um produto vendido no balcão do banco: pode estar na palma da mão, junto com a conta do celular.
A Vivo, por exemplo, investiu 2,5 milhões de reais na 180 Seguros, a primeira seguradora tech do Brasil. Esse movimento não é apenas financeiro, é estratégico. A Vivo, por meio da marca Vivo Pay, já oferece serviços como empréstimo pessoal, antecipação de FGTS, consórcios de smartphones e de motos, além de seguros para celular, eletrônicos e residencial.
Esse movimento não é isolado. Ele reflete uma tendência global de digitalização dos serviços financeiros, em que conveniência e preço pesam mais do que tradição.
O que a Vivo está oferecendo?
A operadora Vivo tem ampliado seu leque para além de telefonia e internet, entrando com força no mercado de seguros e serviços financeiros, seja por meio da marca Vivo Pay ou de parcerias estratégicas. O investimento na 180 Seguros é uma dessas parcerias.
A 180 é uma “insurtech” brasileira (insurance + tech = seguros e tecnologia), ou seja, uma startup que usa tecnologia para deixar o mundo dos seguros mais simples, rápido e digital. Em vez de depender de um corretor ou de preencher mil formulários, o cliente consegue contratar e gerenciar tudo pelo app. É essa facilidade que a Vivo quer levar para a base de clientes que já tem.
A parceria com a 180 Seguros deve ampliar o cardápio da Vivo Pay, que já oferece seguros para celular, eletrônicos e residência, com planos a partir de cerca de R$13,90 por mês, dependendo da cobertura. A ideia é que, no futuro, o cliente possa contratar outros tipos de seguros, de vida, acidentes, pets ou até viagem, de maneira automática, personalizada e com linguagem menos “bancária”.
Para quem é indicado o seguro da Vivo Pay?
Os seguros do “guarda-chuva” da Vivo tem um público bem específico em mente, quem só quer algo simples, barato e resolvido em poucos cliques. Nada muito diferente do que outras plataformas digitais, como Kakau, Pier e outras insurtechs também vêm prometendo entregar. A lógica é a mesma: menos burocracia, mais aplicativo. Mas isso não significa que sejam a solução perfeita para todo mundo, são produtos pensados para necessidades pontuais.
Apesar disso, o leque de serviços ainda é limitado. A 180 Seguros não tem seguro auto nem seguro de vida por exemplo. Se juntarmos os seguros oferecidos pela Vivo Pay e pela 180 Seguros estão:
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Seguro eletrônicos: tablet, smartwatch, notebook e celular
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Seguro residencial: proteção e assistência para a casa
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Seguro transações financeiras: proteção das movimentações financeiras em caso de perda, roubo, furto ou golpe e de empréstimos e financiamentos, que garante a quitação parcial ou total do saldo devedor em casos de morte natural ou acidental, invalidez permanente ou perda de renda.
Ou seja, por enquanto nada de seguro de carro, vida ou viagem. Se a sua ideia era proteger o Fusca, a mala e a alma, vai ter que recorrer a uma seguradora mais completa.
E a Bradesco Seguros, onde fica?
Enquanto a Vivo aposta na agilidade e na tecnologia para conquistar o público mais conectado, a Bradesco Seguros segue firme com o peso da tradição. A empresa é uma das maiores seguradoras do país, com milhões de clientes e presença forte nos ramos de vida, saúde, automóvel e previdência. Ela sai na frente para quem procura planos completos, coberturas amplas e atendimento personalizado.
Atendimento, credibilidade e coberturas: o que ainda pesa a favor da Bradesco Seguros
A força da marca é um dos maiores diferenciais da Bradesco Seguros. Em um mercado onde confiança é tudo, saber que há uma grande estrutura por trás da apólice pode fazer a diferença. Se o seguro da Vivo é para quem quer agilidade, o da Bradesco é para quem não abre mão do pacote completo:
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Coberturas amplas e personalizáveis: um exemplo é o seguro residencial. Na Vivo, você contrata o pacote fechado. Na Bradesco, você faz uma simulação baseado no seu CEP e conta com proteção de vendaval, furacão e danos a terceiros, que não estão inclusos no plano da Vivo.
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Descontos e combos: quem tem conta no banco pode conseguir condições especiais ao contratar mais de um serviço.
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Atendimento humano: ainda há quem prefira resolver tudo com um gerente ou corretor conhecido, o que dá uma certa sensação de segurança e confiança.
Vale a pena trocar Bradesco Seguros pela Vivo?
A resposta é: depende do que você está buscando. O seguro da Vivo ainda é um produto novo, voltado para um público mais digital, que prefere resolver tudo pelo celular e não quer lidar com tanta burocracia. Já os seguros tradicionais, como os da Bradesco, continuam sendo mais completos (saúde, auto, viagem, seguro de vida) com coberturas amplas e suporte em situações mais complexas, como é o caso de danos a terceiros no seguro residencial.
Então, antes de decidir, o ideal é entender seu perfil e suas necessidades e claro, o quanto você está disposto a pagar pela conveniência (ou pela segurança).
Se você é do tipo que vive com o celular na mão e gosta de resolver tudo em poucos cliques, o seguro da Vivo pode cair como uma luva. Agora, se você busca uma cobertura para o carro, a vida, viagens até máquina agrícola os bancos tradicionais ainda levam vantagem.
Conclusão: o futuro dos seguros está (também) no seu celular
A entrada da Vivo no mercado de seguros mostra como o setor está mudando e rápido. Se antes o seguro era sinônimo de papelada e agência bancária, agora ele começa a caber no bolso, literalmente. E com o avanço das plataformas digitais, contratar proteção para o celular, por exemplo, virou algo tão simples quanto assinar um streaming.
O investimento do braço financeiro da Vivo na 180 Seguros tem o único objetivo de aumentar o leque de serviços oferecidos pela Vivo Pay no ramo de seguros. Mas é bom lembrar: simplicidade pode não substituir solidez. O seguro digital é ótimo para quem busca praticidade, agilidade e preço acessível, mas ainda não compete em amplitude de coberturas com gigantes como a Bradesco Seguros.
No fim das contas, a melhor escolha depende de você e que pesa mais: a praticidade ou a paz de espírito?
