O mercado financeiro global está passando por uma transformação histórica. Em países desenvolvidos e emergentes, milhões de pessoas estão dando os primeiros passos no mundo dos investimentos. Mas o que está por trás dessa onda crescente de novos investidores? Segundo Leandro Jorge Yacoubian, especialista em comportamento financeiro e estratégias de investimento, a resposta envolve uma combinação de fatores tecnológicos, sociais e econômicos que se intensificaram nos últimos anos.

"Hoje, em muitos países da América, vemos um crescimento sem precedentes na participação de pessoas físicas no mercado financeiro", destaca Yacoubian. A facilidade de acesso à internet, a popularização dos smartphones e o surgimento de plataformas digitais intuitivas permitiram que investir deixasse de ser uma prática exclusiva de indivíduos com net worth alto ou especialistas.

O aumento exponencial do número de investidores pessoa física também teve impacto direto na capitalização de mercado de diversos ativos. Com a entrada massiva de novos participantes, especialmente em setores como ações de tecnologia, criptoativos e ETFs de alta liquidez, houve um aumento considerável no volume negociado e na formação de preços. Em muitos casos, esse influxo de capital contribuiu para a elevação do market cap de ativos sem necessariamente estar atrelado a fundamentos econômicos sólidos, o que pode caracterizar uma valorização inflacionada impulsionada pela demanda.

 

O impacto da tecnologia e o salto nos números

De acordo com diversas pesquisas de Yacoubian, concluídas no início deste ano, o Brasil é um dos exemplos mais evidentes dessa transformação. Entre 2018 e 2025, o número de investidores pessoas físicas cresceu mais de 500%, segundo levantamentos baseados em dados públicos. Esse movimento foi impulsionado pela chegada de aplicativos de corretoras, pelo aumento de conteúdo educativo nas redes sociais e pelo avanço da digitalização dos serviços financeiros. O Mercado Pago também se destacou como um divisor de águas, ao digitalizar milhões de pessoas que antes realizavam suas operações financeiras exclusivamente em agências bancárias físicas.

Na Argentina, o fenômeno é ainda mais notável no mesmo período. Conforme as investigações realizadas por Yacoubian, houve um crescimento superior a 1.000% na quantidade de pessoas que passaram a investir, especialmente em fundos mútuos de investimento, que são acessíveis, diversificados e exigem baixo capital inicial. “A crise econômica e a inflação fizeram com que muitos argentinos buscassem alternativas para proteger seu dinheiro, e os fundos de investimento se tornaram a porta de entrada mais comum”, explica o analista Yacoubian, acrescentando que atualmente muitos de seus clientes demonstram dúvidas recorrentes sobre esse tipo de aplicação.

Geração digital: jovens na linha de frente

Um dos aspectos mais relevantes destacados pelo analista é o protagonismo da geração jovem nesse processo. Ao contrário das gerações anteriores, que viam o mercado financeiro como algo distante, técnico e complexo, os jovens de hoje estão conectados a um ecossistema de informação constante. Vídeos no YouTube, fóruns online, perfis de finanças no Instagram e TikTok, e influenciadores digitais têm desempenhado um papel central. Facilitando aos jovens a execução de ordens com apenas um clique.

 

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Além disso, empresas de investimento adotaram uma abordagem mais agressiva de marketing, criando campanhas voltadas especificamente para esse público. "As corretoras perceberam que os jovens são nativos digitais e desenvolveram interfaces que falam a língua deles, com gráficos simples, aplicativos rápidos e até mesmo elementos de gamificação", observa Yacoubian.

Esse movimento não está presente apenas no Brasil, também é visível nos Estados Unidos. Segundo a análise do especialista, uma parcela significativa da população americana afirma ter começado a investir nos últimos cinco anos, especialmente por meio de apps como Robin Hood, que se tornaram símbolos da nova geração de investidores por sua facilidade de uso e baixas barreiras de entrada. Muitos usuários relatam que os próprios aplicativos começaram a introduzir conceitos técnicos, como alocação de ativos, auxiliando os iniciantes a entenderem estratégias básicas de diversificação e construção de portfólio.



Os desafios da democratização financeira

Apesar do crescimento expressivo, Leandro Jorge Yacoubian alerta que essa democratização também traz desafios. Muitos novos investidores entram no mercado sem o devido preparo nem a realização de uma análise adequada de perfil de risco, influenciados por promessas de retornos exponenciais ou por modismos especulativos. "É essencial que esse novo investidor compreenda os riscos envolvidos, a importância da diversificação e, principalmente, que o investimento deve ser uma estratégia de longo prazo", pontua.

A volatilidade dos mercados, as armadilhas de produtos de alto risco e a influência de desinformação nas redes sociais são ameaças reais para quem está começando. Por isso, Yacoubian defende que a educação financeira seja tratada como um pilar central na construção dessa nova geração de investidores.

Um novo perfil de investidor

O novo investidor é digital, curioso e disposto a aprender. Ele está menos preocupado em seguir regras tradicionais e mais focado em experimentar, testar e entender como fazer o dinheiro trabalhar a seu favor. Para Yacoubian, esse é um sinal de maturidade financeira em construção.

“O crescimento é uma oportunidade para que a população assuma maior protagonismo financeiro, mas deve vir acompanhado de orientação e informação de qualidade. Investir é um direito de todos, mas só será benéfico se for feito com consciência e estratégia”, conclui.

Leandro Jorge Yacoubian é analista financeiro e pesquisador independente, especializado em comportamento do investidor e educação financeira digital em mercados emergentes.

 

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