
O drama de Heleninha em Vale Tudo: quando a ficção reflete dores reais
"Heleninha emociona porque traduz em carne e osso o que a ciência descreve em números e circuitos", diz terapeuta
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O remake de Vale Tudo está na reta final e uma das personagens que mais vem despertando empatia do público é Heleninha Roitman, vivida por Paolla Oliveira. Sua trajetória marcada pela luta contra o alcoolismo tem gerado identificação e emocionado espectadores em todo o país.
Para o terapeuta Sandro Barros, a força dessa história está no fato de o alcoolismo ir muito além de um comportamento desajustado. “Heleninha emociona porque traduz em carne e osso o que a ciência descreve em números e circuitos. O alcoolismo não é apenas um comportamento, é uma doença que altera a química cerebral. O público se conecta porque percebe que a luta dela é universal: a batalha entre a parte racional, que sabe dos riscos, e o sistema de recompensa do cérebro, que clama pela próxima dose”, explica.
A novela também retrata a relação da dependência com dores emocionais e conflitos familiares. Segundo Sandro, rejeição, críticas constantes, traumas e sentimentos de inadequação estão entre os principais gatilhos para o consumo abusivo de álcool. “O álcool ativa a liberação de dopamina, oferecendo um alívio imediato. Mas esse alívio é químico e temporário, reforçando o ciclo de busca e consumo”, destaca.
Nesse contexto, relações familiares tóxicas podem agravar ainda mais o quadro. “Famílias que oferecem crítica em vez de acolhimento aumentam o nível de estresse emocional. Isso enfraquece a biologia do autocontrole e torna a pessoa mais vulnerável ao álcool”, observa o terapeuta.
Sinais de alerta
Muitos, assim como Heleninha, têm dificuldade em reconhecer que precisam de ajuda. Sandro aponta alguns sinais de alerta: “Beber para lidar com ansiedade ou tristeza, aumento da tolerância, lapsos de memória, perda de controle sobre a quantidade e prejuízos em trabalho e relações. Quando o álcool passa a funcionar como regulador químico do humor, a dependência já está em formação”.
Caminhos para a recuperação
Apesar do ambiente hostil, a recuperação é possível. “O cérebro é plástico, capaz de criar novas conexões e reorganizar circuitos, mesmo depois de anos de uso. O acompanhamento terapêutico fornece ferramentas para estimular essa plasticidade: estratégias de enfrentamento, novos hábitos, compreensão das emoções e suporte médico, quando necessário”, ressalta.
A mensagem final, segundo Sandro, é de esperança: “A dependência não define quem você é. Ela é uma adaptação do cérebro a um contexto de dor, não um defeito moral. Buscar ajuda é um ato de coragem e uma escolha pela vida. Com apoio terapêutico, é possível reprogramar circuitos e descobrir que o prazer pode vir de vínculos, conquistas e presença real — não apenas de uma substância”.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.