Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

Meu filho dirá ao seu neto que viu o Hulk jogar

Fosse eu o cartola, chamaria o Hulk agora num canto e diria: "você só sai se quiser, quando quiser e como quiser"

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Muito se tem falado de Hulk nos últimos dias. Sobre o jejum de gols “com bola rolando”. A respeito do número de cartões com os quais é frequentemente punido. Sobre a idade que finalmente começa a pesar, motivo pelo qual amargaria, agora, um banco incomum em sua mais que vitoriosa carreira.

Hulk é, para mim, o segundo melhor jogador da história do nosso Galo, atrás apenas de Reinaldo. Mas este não conta, é hours concours. Maior do que Pelé, maior que Maradona. E, portanto, se inalcançável pelos imortais, o que dirá os mortais.

Neste meu ranking pessoal não pontua apenas a técnica, os gols, as assistências. São vários os quesitos a se somar, entre eles os insomáveis, aqueles que pertencem ao inexplicável das coisas, aos imponderáveis da vida. Se fosse uma tabela de excel, haveria um campo para algo como “sei lá, alguma coisa que só ele tem”.

Digamos que seja um jeito de se expressar. Uma maneira honesta de sorrir. Uma capacidade de verdadeiramente se emocionar. Um amor sincero ao alvinegro. Como Levir, um cara legal. Cidadão de bens mas um coração gigante. Nunca se ouviu de sua pessoa uma palavra mal posta, uma atitude escrota, nunca. Por óbvio, não são os seus gols que fazem com que até os arquifregueses queiram com ele fazer uma selfie. O que os motiva, vamos dizer, é essa coisa que não se explica.

Some-se a isso o craque total, mistura de Adriano e Ronaldinho, a cavadinha do Rei, a bomba santa do Éder, a visão de jogo do Cerezo, a garra de um Donizete. Um levantador de taças como nenhum outro. Hulk é um jogador absurdamente diferente, um gênio da bola, espécie, no Brasil, em extinção.

As mesas redondas de futebol se esbaldam em falar de Givanildo, à medida em que contam os dias como aqueles a assistir, incrédulos, à guerra contra Gaza – “727 dias do genocídio palestino, hoje”. No caso do Hulk, os dias sem gols “com bola rolando”.

Sem bola rolando, porém, quase fez uma trinca batendo faltas contra o Palmeiras. No Bahia, meteu o gol olímpico mais bonito que vi na vida. Como dá ibope, em certas mesas redondas e caçadas aos cliques parece jogar sozinho. Como se o time todo não tivesse ruído a olhos vistos desde antes das finais do ano passado. Como se a falta de elenco não tivesse lhe imposto uma sequência insana de jogos aos 39 anos.

Cada um analisa as coisas como quiser analisar, e tá tudo certo. Mas, se me permitem os entendedores, penso que a exceção deve ser tratada como tal. E Hulk não é simples exceção. Estamos a assistir o segundo maior de todos, que sorte a nossa! Assim como eu posso dizer ao meu filho que vi Reinaldo, meu filho dirá ao meu neto que viu o Hulk.

Vejo gente a sugerir a sua saída, algo como o “já deu o que tinha de dar”. Hulk pode estar no banco por opção de Sampaoli. Ele não reclama. Do lateral do campo, note, ele luta, reclama, vibra, ok, leva cartão porque é obviamente perseguido desde o episódio com Daronco, basta fazer jornalismo para se constatar a estranheza da coisa. Tudo bem que esteja no banco, penso, mas, fosse eu o cartola, o chamaria agora num canto e diria: “você só sai se quiser, quando quiser e como quiser. Se quiser jogar até os 50, aqui está seu contrato, se quiser jogar pra sempre, tanto melhor”.

Se eu fosse o cartola, iria à CBF com um dossiê sobre os cartões do Hulk, faria o barulho que fosse, ainda que sob pena de os canalhas dobrarem a aposta. Este último cartão, quando Hulk estava no banco, é de um absurdo atroz. Aquele outro, quando foi advertido depois de tentar cumprimentar o soprador de apito ao final do jogo, mais ainda. Não pode mesmo ser o capitão, pois é vergonhosamente prejudicado, o que acaba por prejudicar o próprio time.

Pois bem, não somos cartolas graças a Deus. No meu caso, já teria sido condenado à cadeira elétrica pelo valoroso STJD. Mas a gente é Galo e ninguém tasca. Nossa missão é agradecer ao Hulk por tudo que fez, faz e ainda fará. Abraçá-lo nessa hora em que claramente é perseguido, sim, e, com razão, está triste e incomodado. Hulk, não diga mais nada. Absolutamente nada. Só joga, que hoje vai ter gol do Hulk com a bola rolando. Depois, erga o punho cerrado do Rei, símbolo de luta e resistência. O Galo é assim, e não tá morto quem peleia.

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