Faltam algumas horas para o adeus a 2025. A coluna publica hoje sua tradicional relação das palavras e expressões mais chatas do ano. Jornalistas, empresários, escritores e artistas foram convidados a participar da 11ª lista. Dosimetria saiu na frente. “Essa palavra invadiu nosso vocabulário sem pedir licença. Me fez lembrar da famosa frase de Humphrey Bogart: 'A humanidade está sempre duas doses abaixo'”, afirma o cineasta Helvécio Ratton.
“Ela está ganhando por motivos óbvios”, acrescenta o poeta e compositor Murilo Antunes, que também manda para a lista a palavra narrativa, “usada para justificar a falta de argumento” E ironiza: “Fulano mudou a narrativa; a narrativa de sicrano não me convence... e por aí vai.”
A produtora Marisa Machado Coelho entra na brincadeira com duas candidatas. A primeira é “neste lugar” ou “no lugar”, usada para descrever uma situação pessoal. “Virou cacoete linguístico, repetido à exaustão. Na maioria das vezes, não agrega valor real à frase”, diz.
A segunda chata é experiência. “Especialmente no contexto de eventos, a palavra parece ter se tornado uma saída fácil para alguém que não se sabe o que de fato quer oferecer, transferindo ao outro a responsabilidade de surpreender”.
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Lelena Lucas, coreógrafa e professora, tem duas candidatas. “Sempre achei boas e suficientes as palavras viver e experimentar. Porém, agora temos as tais vivenciar e experenciar, que acendem minha irritação”.
Este colunista, cuja saúde enfrentou desafios em 2025, também foi lembrado e ganhou homenagem carinhosa de Gustavo Greco, diretor da Greco Design.
“A palavra mais chata do ano é composta: prolapso valvar mitral. Ela tentou levar nosso amado colunista e nos deixou de cabelo em pé. Mas, como sabemos, a vida presta, o amor sempre vence e o coração voltou a bater forte. Isso me faz pensar que, após 11 anos em busca da palavra mais chata, talvez seja hora de mudar: no ano que começa, que tal escolher a palavra mais legal?”.
Sugestão aceita. Em 2026, faremos as listas de palavras mais chatas e das palavras mais legais.
A seguir, confira as campeãs de chatice deste ano:
DIFERENCIADO
“Versão gourmetizada da palavra top.”
. Fernanda Ribeiro, atriz
EXPERIÊNCIA
“Muito mal usada para dizer sobre algo que as pessoas não conseguem traduzir em outras palavras.”
. Agnes Farkasvolgyi, cozinheira
É SOBRE ISSO
“Cansou, porque virou resposta pronta para tudo. Em vez de explicar ou concluir alguma coisa, a frase só encerra o assunto com pose de profundidade, e por isso já soa mais preguiçosa do que inteligente.”
. Phillipe Martins, superintendente de relações-públicas do Fasano JHSF
DOSIMETRIA
“Por que anistia para criminoso barra pesada?”
. Dolly Piercing, drag queen
“O Congresso se apropriou de uma palavra utilizada no universo jurídico e a ressignificou para justificar anistia.”
. Daniel Moreira, fotógrafo
“Dosimetria e anistia, além de chatas, são corrosões democráticas.”
. Gabriel Azevedo, sócio do Mina Jazz Bar
VIRALIZOU
“Socorro… Todo mundo comentando a mesma coisa.”
. Ana Miranda, sapateira
O boneco Labubu entrou na moda e também na lista das palavras mais chatas de 2025
LABUBU
A palavra Labubu, além de ser um boneco feiíssimo, explica todo um fenômeno de popularização de coisas esquisitas dos últimos tempos. Vale lembrar que foi um ano com muitas chatices: do bebê reborn ao morango do amor, além das péssimas taxas do Trump e guerras horríveis. Nessa incerteza global, ainda vimos a inteligência artificial predominar e com isso as palavras muitas vezes perderem impacto no mar de repetição programada. Mas, realmente, a sonoridade de Labubu me incomoda só de ouvir.”
. Daniel Cruz, escritor
IMPACTANTE
“Virou palavra para qualquer sensação, da mais banal à mais profunda. Usam para tudo, como se resolvesse qualquer emoção. No fim, diz muito pouco, quase nada.”
. Cristina Castilho, ex-bailarina do Grupo Corpo
ATRAVESSAR
“Algumas pessoas têm empregado o verbo atravessar quando querem dizer que algo as impactou profundamente: o filme me atravessou, a experiência te atravessou, a viagem nos atravessou. Soa-me como uma afetação tremenda; um termo de nicho pseudointelectual, que mira no lirismo, mas aterrissa mesmo é na pretensão.”
. Leo Maximo, advogado
POTENTE
“Sabe aquelas palavras que empobrecem o vocabulário? Potente é uma delas. Sempre me dá a impressão de que quem a diz não sabe o que quer dizer e daí tasca lá a tal da potente. Ou então está com preguiça de argumentar. É potente pra tudo, a torto e a direito.”
. Adilson Marcelino, jornalista
“Sem dúvida, é a mais potente!”
. Alfredo Alves, cineasta
“Potente e para além me irritam muito.”
. Patricia Gaspar, atriz
SUPERSALÁRIO
“Os números são revelados, o Brasil bate recordes, a imprensa escancara, os cidadãos se indignam, mas nada acontece. Ano após ano, cada vez mais. É cansativo, é injusto, é ultrajante; uma das poucas pautas que unem o país. Apaguem esta palavra do nosso glossário.”
. André Rubião, professor
ESCUTA
“Palavra que ultrapassou seu sentido retórico, ligado ao afeto e à educação, e acabou nos discursos institucionais, políticos e do mundo da enrolação. Sempre que leio ou ouço que alguém prometer fazer uma 'escuta', aciono o botão do tédio. E ignoro.”
. Afonso Borges, escritor
ENTREGAR
“Fulano 'entregou' tudo. Nossa, que preguiça. Pessoas delivery, tô fora.”
. Marcia Bechara, jornalista e atriz
CONGRESSO
“É a palavra mais chata do ano. Guardadas as poucas exceções, a frase de Jânio Quadros de 1961 se aplica aos dias de hoje: 'Metade são incapazes e a outra metade, capazes de tudo'.”
. Pedro Paulo Cava, diretor de teatro
ZAP
“Não gosto quando alguém fala que vai mandar um zap. E ainda falam zapzap.”
. Rafael Alvim, empresário e fotógrafo
Bets, com sua compulsão pelo jogo, é palavra irritante para os defensores da língua pátria
BET
“Bet é campeã!!! Seguida de experiência, influencer…”
. Tanit Faria, galerista
“Bet não só fez mal para tanta gente inocente, como estão tentando colocar esse nome em tudo. Até o Mercado Central é bet. Estão enfiando goela abaixo esse negócio tão grave para a gente normalizar.”
. Luiz Couto, músico
“Cada dia surge uma diferente, sempre enganando milhões de brasileiros.”
. Daniel Crase, músico
IA
“O que estão fazendo para o mal, tantos vídeos usados para golpes! E outros que aparecem do nada e me cansam.”
. Kayete, humorista e radialista
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RETROFIT
“Tem palavras que me irritam muito pela banalização do inglês. Chega de ser colonizado. Por que, para sermos modernos. temos de usar novos termos para velhas coisas? E precisa ser em inglês?”
. Mary Arantes, empresária
