Conheço Roberto Assis há pelo menos três décadas. Para quem não sabe, ele jogou no Grêmio e recebia o maior salário, na época, pois era um cracaço de bola. Foi ele quem comprou uma bela casa em Porto Alegre – o Grêmio lhe deu pelo fato de ele ter ficado no clube não se transferido para o Torino, da Itália – e pôs a mãe, dona Miguelina, e seus irmãos Ronaldinho e Deyse, num teto digno. Infelizmente, seu pai faleceu quando ele tinha 18 anos e Ronaldinho 8, justamente naquela casa, naquela piscina. Ele teria sofrido um mal súbito e caído na água. Foi um trauma gigante, mas Assis sabia que daquele momento em diante era o chefe da família e precisava fazer bons contratos, jogar muita bola para suprir a ausência do pai. E o fez com maestria. Deu a sua amada mãe, dona Miguelina, e seus irmãos, conforto, carinho, amor e cuidou de cada um deles. Teve um cuidado especial com Ronaldinho Gaúcho, e seguia os conselhos que o pai dava ao jovem talento. “Vá aos campos e divirta-se, jogue com alegria e tudo dará certo”, diziam João Moreira (pai) e Assis.

Certa vez fiz uma entrevista com Assis para o Globo Esporte. Amante do futebol arte, falei: Assis, você joga demais, é um craque! E ele, modesto, me disse: “meu amigo, você tem que ver o que está vindo aí. Esse sim, será um gênio da bola e encantará o mundo com seu talento”. Ele falava do seu irmão caçula, Ronaldinho Gaúcho.

Não duvidei e esperei para conhecer o craque. E minha primeira vez com ele foi naquele Brasil x Venezuela, em que Galvão Bueno narrou: “olha o que ele fez, olha o que ele fez”. O jovem simplesmente deu um lençol no zagueiro, matou no peito e fez um gol de placa. O entrevistei naquela partida e dali começamos uma amizade que dura até hoje – ele é meu vizinho aqui em Miami. Lembro-me que, certa vez, em Londres, estávamos hospedados no mesmo hotel e Ronaldinho jogava pelo Barcelona. Chegou ao hotel, cercado por seguranças, e não deu entrevista a um repórter da Globo. Porém, quando me viu, saiu do cordão de isolamento, veio em minha direção e entrou, ao vivo, na minha transmissão para a Jovem Pan. O repórter da Globo, ignorado, pegou carona na minha entrevista. Estou citando esse fato porque quem me aproximou do gênio foi seu irmão Assis, que sempre me prestigiou e me prestigia pelo mundo, até hoje.

Vejo muita gente criticar o Assis, mas, para quem não sabe, é ele o responsável pelo sucesso de Ronaldinho Gaúcho durante sua vida ativa no futebol, e após encerrar a carreira. Ambos vivem em aviões, rodando o mundo, fazendo jogos/exibições, palestras e tudo o mais. Ronaldinho é convidado por chefes de Estado do mundo todo, recebido com pompas e com festa pelos torcedores. Não há no mundo um ex-jogador que faça tanto sucesso quanto ele. Contratos gigantescos, visitas a países pobres, principalmente na África, convites da Fifa para grandes eventos mundo afora. Teve a honra de estar na cerimônia de abertura da Copa do Mundo da Rússia, onde o vimos tocando atabaque. Ronaldinho tem grupo de pagode e é um fã de Jorge Aragão. Tudo isso ele deve ao irmão Assis, que, mais que isso, é seu próprio pai, exercendo a função que cabia ao senhor João Moreira com maestria. Os que falam de Assis, não o conhecem. É um cara extremamente solícito, amável, sempre com sorriso no rosto. Duro nas negociações, sempre visando o melhor para o irmão. Transformou a marca Ronaldinho Gaúcho numa verdadeira fortuna.

E ambos são simples. Ronaldinho é um dos caras mais tranquilos que conheci na vida. Ídolo por onde passa, sempre com aquele sorriso que o caracteriza. Deyse, sua irmã, cuida das finanças, é austera e está sempre entrosada com os dois. Uma família unida, que sofreu muito com a perda da matriarca, dona Miguelina, que era a grande rainha deles. Outro dia, conversando com Assis, numa caminhada, ele me falou da falta que sua mãe faz. Mas ela viveu os grandes momentos das carreiras dos dois filhos. Viu Ronaldinho Gaúcho ganhar a Bola de Ouro por duas vezes e esteve ao seu lado nesses grandes momentos.

Roberto Assis é um cara tranquilo, não se envolve em fofocas e está sempre com um sorriso aberto aos amigos. Sua vida é trabalhar para continuar cuidando do irmão, ao lado da esposa Bruna e da filha mais nova, Charlote, que nasceu aqui nos Estados Unidos. O mundo é pequeno para Assis e Ronaldinho e ambos jamais foram deslumbrados. Ronaldinho é recebido nos shows dos rappers como Fifty Cent, Snopp Dog e outros. Onde ele chega, as portas se abrem. Pai do João e já avô, embora jovem, 45 anos, Ronaldinho é muito grato ao irmão Assis e a união deles é algo espetacular, um exemplo a ser seguido. Ele não faz um movimento sem que Assis dê o ok. Foi assim na sua ida para o Atlético Mineiro, onde se tornou um dos maiores ídolos, ganhando a inédita Libertadores. Assis acertou tudo com o maior presidente da história do clube, Alexandre Kalil, e Ronaldinho arrumou a mala e seguiu para a Cidade do Galo causando enorme euforia em BH.

Ronaldinho é um cidadão do mundo, uma das personalidades mais conhecidas do Planeta Bola. Porém, não fosse Roberto Assis Moreira, seu irmão, pai, empresário, e o garoto não teria nem metade da fama e da fortuna que construiu. Obrigado meu amigo Assis, por nos brindar com o futebol que Ronaldinho Gaúcho nos mostrou nos quatro cantos do mundo, por cuidar da carreira dele e da figura humana com o carinho que só mesmo um pai pode ter. Você é um cara diferente, um amigo leal e de verdade, e só posso agradecer pela consideração e carinho que sempre teve comigo. Fiz grandes entrevistas com R10, e, se não fosse você, nada disso teria acontecido. Para quem não sabe, esse é o Assis, um cara fora da curva, que soube cuidar da família como poucos. Um exemplo a ser seguido pelos jogadores jovens, que saem de classes desfavorecidas, mas que precisam entender que cuidar da mãe a da família é o primeiro objetivo. Valeu, grande Assis, estamos juntos sempre. É um prazer gozar da sua amizade e da amizade do Ronaldinho. Só mesmo quem viu esse gênio jogar pode falar sobre o que é a arte do futebol.

 

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