Patrícia Espírito Santo
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Pequeno grande detalhe

"Um detalhe sutil e muito frequentemente desprezado pode fazer a diferença entre ser diagnosticado a tempo ou tardiamente

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Em 2001, meu marido foi diagnosticado com câncer de intestino. Procurou um proctologista desconfiado que algo estava errado. A experiência do médico pesou, visto ter agilizado todo o processo antes mesmo da confirmação através dos exames de imagem e patológicos. Havia, em meio a outros, um pólipo maligno de 16mm na região sigmoide. Cirurgia bem-sucedida, seguida de um problema semanas depois que o levou ao uso de bolsa de colostomia por algum tempo. Não foi preciso rádio e quimioterapia, mas ainda exige exames periódicos sempre necessários independente do que se deu no passado.


Mês passado, fez colonoscopia. Observador de tudo a sua volta, engenheiro e professor universitário, mesmo aposentado, não deixa passar nada no que se refere à infraestrutura de obra civil e todos os detalhes que essa atividade exige. Mal sentou diante do médico responsável pelo procedimento chamou-lhe a atenção para um destes detalhes que mais o incomoda: a cor dos vasos sanitários. O médico perguntou como ele conseguiu, aos 41 anos de idade, identificar que havia algo errado no seu intestino, mesmo não tendo informações profundas sobre o complexo funcionamento desse órgão. “Fui salvo pela diligência e pelo encontro com pessoas certas, nos momentos certos”, respondeu.


Fato é que ele desenvolveu certo olhar clínico e crítico caracterizado pela mania de reparar todos os malfeitos nas edificações nas quais entra.


De forma irônica, diz que deve ser decorrente da obsessão compulsão que sempre o acompanha.
“Em uma das idas ao sanitário, percebi uma sútil borra de café escura nas fezes. Iniciou-se uma corrida contra o tempo, para que o CA não atravessasse a parede intestinal”, lembra.


Um detalhe sutil e muito frequentemente desprezado pode fazer a diferença entre ser diagnosticado a tempo ou tardiamente. O detalhe: o vaso sanitário que permitiu ver a borra era de esmalte branco. O encontro entre um cidadão obsessivo e um vaso branco foi fundamental.


A crítica fica para a indústria de sanitários que, preocupada com questões relativas à administração do seu negócio, às vezes se esquece de desenvolver políticas que levem à defesa da saúde dos usuários de seus produtos.


Lembrando que é fundamental desenvolver não apenas o olhar clínico e crítico, mas também buscar soluções simples e práticas para problemas de saúde pública. Pode parecer óbvio: um vaso sanitário branco facilita enormemente a identificação de sangue nas fezes. De certa forma, em nome da estética, a decoração às vezes convence a sociedade de que é melhor cobrir os vasos sanitários com cores capazes de disfarçar o aspecto grotesco dos dejetos humanos.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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