Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

A psicanálise avança a partir de uma clínica viva

O sintoma psíquico difere do sintoma no sentido médico do termo. O psíquico aponta para o mal-estar, o sofrimento, muitas vezes inespecífico

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Colombo, agarrado cegamente até a morte à ilusão de ter chegado à Índia ao pisar em Guanahani e Cuba, de fato diminui com isso o cosmos para seus contemporâneos; Vespúcio, jogando por terra a hipótese de que o novo continente seja a Índia e afirmando claramente que é um novo mundo, [abre] os olhos para o erro que obscurecia ao grande descobridor a visão de sua façanha. (Stefan Zweig em “Américo Vespúcio: A história de um erro histórico”).

 


Freud, ao encontrar fechado na consciência o caminho para o sentido do sintoma, abriu através da análise a rota do inconsciente e descobriu algo maior e novo: esse jogo entre significantes, letras e gozos em que consiste a causalidade psíquica. Mas a colagem sintomática não envolve sentidos. O que não impede que sejam ferramentas... Lacan, com o equívoco alheio ao sentido e à intencionalidade, quer introduzir “alguma coisa que vá mais longe que o inconsciente”. Uma novidade radical insuspeitada até mesmo para o próprio descobridor.”(Gerardo Arenas em “O sem sentido do sintoma”, pag. 120)


O trecho acima apresenta o segundo livro da Coleção Interditos, lançado pela Scriptum Editora. Em “O sem sentido do sintoma”, Gerardo Arenas demonstra que a psicanálise não se enrijeceu no modelo tradicional, nem é imune às mudanças do nosso tempo, enfrentando as consequências disso no campo da subjetividade e, como deve ser, avança incessantemente, a partir de uma clínica viva que se renova progressivamente, embora fiel aos princípios éticos de seu fundador.

 


Arenas é doutor em física nuclear, escritor e estudioso de cinema, é também psicanalista da Escola de Orientação Lacaniana (Argentina) e da Associação Mundial de Psicanálise, autor de inúmeros livros, sendo esse o primeiro a ser traduzido para o português.


É importante ressaltar que o sintoma psíquico difere do sintoma no sentido médico do termo. Assim como a cura para a psicanálise também é de outra natureza. O sintoma é sempre um sinal de que alguma coisa não vai bem. Não é sintoma que se cura com remédio e que se apresenta nos exames de imagem. O sintoma psíquico aponta para o mal-estar, o sofrimento, muitas vezes inespecífico e requer outro tratamento. Ao ser escutado, apesar de o corpo padecer dele, está mais além.

 


Freud inaugura a psicanálise a partir da histeria. Lacan chega à psicanálise pela via das psicoses e sua clínica dá origem a uma inovadora abordagem clínica dessa estrutura. Arenas traz o caso da paciente de Freud Ida Bauer, a famosa “Dora”, como a chamou Freud, e o de Paul Schereber, estudado por Freud a partir das “Memórias de um doente dos nervos”, numa releitura à luz dos ultimíssimos ensinos de Lacan.


A saber da passagem da escuta do inconsciente tomado em sua estrutura de linguagem, centrada na interpretação – incorrendo no risco de uma infinitização imaginária –, e do atravessamento da fantasia fundamental, passo necessário e que requer tempo para ir além, a uma outra clínica calcada na letra, na escuta do equívoco, do erro. Escuta essa, não fonética, mas fonemática, que ressoa do mais íntimo do ser, apontando o mais particular do sujeito.

 


O sintoma como uma invenção singular com a qual o sujeito se identifica como nome próprio. O sintoma dessa natureza não envolve deciframento de sentido, mas não impede de serem ferramentas na experiência analítica. Freud fez isso. Com a descoberta do inconsciente, desvela uma realidade psíquica, um sentido oculto no sintoma, mas não sem restos intraduzíveis.


Lacan avançou e, pelo tropeço, o insabido que sabe, alheio ao sentido e à intencionalidade, e vai mais longe que o inconsciente freudiano, uma novidade radical. O sem sentido do sintoma no campo lacaniano aponta para a divisão do sujeito por algo de um real inominável. E para um ‘saber fazer com isso”, ainda que seja um limite indecifrável.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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