Tiago Baumfeld
Tiago Baumfeld
Ortopedista Especialista em Pé e Tornozelo. Doutor em Ortopedia pela UFMG.

O retorno às atividades físicas após cirurgias ortopédicas

O paciente se sente bem, volta a treinar, mas a estrutura ainda não está pronta para suportar carga plena

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A cirrgia é, muitas vezes, apenas o início de um processo de recuperação. O que vem depois — o retorno gradual às atividades físicas — costuma ser o verdadeiro desafio, tanto para o paciente quanto para a equipe médica e fisioterapêutica. Em tempos em que todos têm pressa, é comum ver pacientes tentando “acelerar” etapas e cometer erros que podem comprometer meses de trabalho.

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Mais do que simplesmente “voltar a se movimentar”, o retorno ao esporte ou à atividade física após uma cirurgia ortopédica é um processo de reconstrução funcional. Ele exige paciência, estratégia e, principalmente, respeito à biologia do corpo humano.

A pressa como inimiga da recuperação

Vivemos na era da velocidade: entregas em minutos, resultados imediatos, cirurgias minimamente invasivas que prometem retorno rápido. Essa expectativa, quando aplicada à ortopedia, pode ser perigosa.

Mesmo nas cirurgias menos agressivas — como artroscopias, osteotomias percutâneas ou suturas minimamente invasivas — o tecido biológico ainda precisa de tempo para cicatrizar. A pressa em retomar corridas, musculação ou esportes de impacto muitas vezes ignora que a cicatrização de tendões, ossos e ligamentos ocorre em fases, cada uma com uma velocidade própria.

O erro mais comum é confundir ausência de dor com recuperação total. O paciente se sente bem, volta a treinar, mas a estrutura ainda não está pronta para suportar carga plena. É nesse momento que surgem recidivas, falhas de sutura, soltura de parafusos ou inflamações persistentes.

O papel da dor e da confiança

Após uma cirurgia ortopédica, a dor tem função protetora. É um alerta de que o corpo ainda está reorganizando suas estruturas. Por outro lado, o medo também pode ser um inimigo: muitos pacientes, mesmo liberados clinicamente, permanecem inseguros e acabam evitando o movimento.

Entre o excesso de confiança e a paralisia pelo medo, existe um ponto de equilíbrio — e ele se chama reabilitação guiada.

A importância da fisioterapia estruturada

A fisioterapia pós-operatória não é um complemento do tratamento: é parte integrante do sucesso cirúrgico.
Ela tem objetivos que evoluem em etapas:

  1. Fase inicial (proteção e controle de dor): foco na cicatrização, redução de edema e prevenção de rigidez articular.

  2. Fase intermediária (recuperação de movimento e força): retorno gradual à amplitude articular, fortalecimento progressivo e estímulo proprioceptivo.

  3. Fase avançada (readaptação funcional): simulação de gestos esportivos, treino de equilíbrio dinâmico e retorno controlado à prática esportiva.

Cada cirurgia tem seu próprio protocolo, e pular etapas é o mesmo que construir uma casa sobre alicerces incompletos.

Erros mais comuns no retorno às atividades físicas

  1. Acelerar a carga antes do tempo

  2. Negligenciar o fortalecimento

  3. Ignorar o treino proprioceptivo

  4. Focar apenas no membro operado

  5. Não ajustar a alimentação e o sono

  6. Comparar-se a outras pessoas

Quando o retorno realmente está liberado?

A alta para retorno ao esporte deve considerar três parâmetros, e não apenas o tempo decorrido da cirurgia:

  1. Critério biológico: consolidação óssea ou cicatrização completa do tecido.

  2. Critério funcional: força, equilíbrio e amplitude de movimento restaurados.

  3. Critério psicológico: confiança e ausência de medo do movimento.

Quando os três estão alinhados, o retorno tende a ser seguro e duradouro.

O que a ciência mostra

Estudos recentes reforçam que protocolos individualizados reduzem o risco de complicações pós-operatórias e melhoram a performance no retorno esportivo.
Por exemplo, em cirurgias ligamentares de joelho, o simples fato de adiar o retorno às competições por mais três meses — respeitando força mínima de 90% em comparação ao lado não operado — reduz em 50% o risco de nova lesão.

No tornozelo, protocolos que priorizam o treino proprioceptivo e a reeducação da marcha apresentam resultados superiores aos que focam apenas em alongamento e força.

A ciência é clara: não é o calendário que define o momento certo, e sim os marcadores funcionais.

Conclusão: respeitar o tempo do corpo é a verdadeira pressa

Voltar a se mover é o desejo natural de qualquer paciente. Mas o corpo humano, com toda sua inteligência biológica, tem seu próprio ritmo de recuperação — e esse ritmo deve ser respeitado.

O retorno precoce, sem base estrutural sólida, é como forçar uma planta a florescer antes da hora: ela até pode brotar, mas dificilmente será forte o suficiente para resistir.

Recuperar-se bem significa construir movimento com paciência, fortalecer com propósito e retornar com segurança. A pressa pode roubar semanas no início, mas custar meses no fim.

Mensagem final ao leitor: se você passou por uma cirurgia ortopédica, tenha calma. O resultado final depende tanto do ato cirúrgico quanto da forma como você conduz sua reabilitação. Siga o plano, confie na equipe e entenda que cada etapa tem um motivo biológico. O verdadeiro sucesso não é voltar rápido — é voltar bem, forte e sem medo.

Quer mais dicas sobre esse assunto? Acesse:www.tiagobaumfeld.com.brou siga @tiagobaumfeld

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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