Túlio D'angelo
Túlio D'angelo
Túlio D’angelo é advogado e empresário. Já ocupou relevantes cargos na administração pública e privada. Optou pelo ramo da coquetelaria e alimentação e hoje está à frente do Bar Palito e do Chopp Bolacha. Também é o curador da Galeria São Vicente, na Praç
Papo de balcão

A primeira caipirinha a gente nunca esquece

O mais bonito da caipirinha é que ela aceita carinho. Dá espaço para pequenas manias de quem faz

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Todo mundo tem uma história com a primeira caipirinha. A minha foi um desastre completo. Limão cortado errado, açúcar demais, quase nada de gelo e uma cachaça que parecia ter saído direto de um posto de gasolina. Ainda assim, inesquecível. Porque a caipirinha é isso: um rito de passagem brasileiro. Um batismo etílico feito de acidez, álcool e doçura.

Ela talvez seja o drink mais brasileiro que existe. Cabe no churrasco da firma, no almoço em família, no boteco da esquina ou no balcão de um bar elegante. Às vezes feita com um garfo dentro do copo americano. Outras vezes, servida em taça de cristal com gelo translúcido. Todas funcionam. Todas têm seu lugar.

O mais bonito da caipirinha é que ela aceita carinho. Dá espaço para pequenas manias de quem faz. Mas quando se fala da receita clássica, aquela de verdade, o ponto de partida é sempre o mesmo: limão tahiti (o verde, suculento, azedinho na medida), açúcar, gelo e uma boa cachaça. Simples, direta e perfeita.

E aqui vai um detalhe curioso: em alguns cantos de Minas, especialmente nos botecos mais antigos, o limão capeta pode aparecer – menor, de casca fina e mais ácido. Uma escolha brava, intensa, que muda o perfil do drink. Mas o tahiti segue firme como protagonista. É ele que confere equilíbrio e frescor à caipirinha clássica.

Agora, vamos falar da cachaça. Não adianta querer disfarçar: a qualidade dela é determinante. Use uma boa – daquelas que você teria até dó de misturar, mas usa mesmo assim, porque ela merece. Cachaça boa perfuma o copo, não arde na garganta, conversa com o limão e realça o açúcar sem apagar nada. E olha que temos sorte: Minas é terra fértil de rótulos incríveis. Escolha com atenção. Prove antes. Sinta o aroma. Brinque com as madeiras, se quiser. Mas lembre-se: se a cachaça for boa, sua caipirinha será memorável.

Na hora do preparo, o segredo está no equilíbrio. Nada de espremer o limão como se fosse laranja. Nada de triturar o bagaço até a amargura tomar conta. Corta-se o limão em oito pedaços, amassa-se com calma, só o suficiente para liberar o suco e os óleos essenciais da casca. Duas colheres de chá de açúcar bastam. Gelo até o topo. E cachaça, claro. Mexe bem. Sirva com orgulho.

E se você quiser impressionar sem trair a essência, deixo aqui uma variação que criei e tenho muito carinho: a caipirinha de caramelo. A receita é praticamente a mesma, mas com um detalhe encantador — o açúcar é caramelizado antes de entrar no copo. Vai para uma panelinha, derrete até virar âmbar dourado, e aí adiciona-se um fio de água pra formar um xarope leve. O sabor muda: entra uma nota tostada, lembrando rapadura, açúcar queimado, um fundo de castanha. Fica um espetáculo.

 

Receita clássica da caipirinha


1 limão tahiti cortado em 8
2 colheres (chá) de açúcar
50 ml da melhor cachaça que você tiver
Gelo até encher o copo
Amasse o limão com o açúcar direto no copo, sem violência. Adicione o gelo até o topo e complete com a cachaça. Mexa bem. Sirva com orgulho.

Caipirinha de caramelo (versão autoral)


Derreta 2 colheres (sopa) de açúcar até virar caramelo dourado
Adicione um fio de água para fazer um xarope leve
Coloque no copo com o limão cortado
Complete com gelo, 50 ml de cachaça e mexa com calma

A verdade é que, por mais que a gente explore o universo dos coquetéis, com bitters raros, técnicas sofisticadas e apresentações que parecem arte moderna, é sempre bom lembrar de onde a gente veio. A caipirinha continua sendo um abraço no copo. Um drink que não precisa provar nada pra ninguém.

Ela é nossa. E segue firme, deliciosa e insubstituível.


Até a próxima — e se for brindar, brinde com ela e com responsabilidade.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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