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A maioria de nós assistiu impressionada a um vídeo que circulou amplamente após uma partida do US Open 2025. No registro, o CEO da empresa de pavimentação Drogbruk, identificado como Piotr Szczerek, avança sobre um menino que estava prestes a receber do vencedor da partida, o tenista polonês Kamil Majchrzak, um boné autografado.
Segundo o que pode ser visto no vídeo, o tenista vai até as arquibancadas laterais para distribuir autógrafos e brindes para o público quando, então, retira o boné que havia usado durante a partida e o estende diretamente em direção a uma criança, que já aguardava o brinde de braços esticados. Nesse momento, surge Szczerek por trás do menino e, com um movimento brusco e decidido, avança o braço por cima do garoto, agarra o boné e, sem hesitar, entrega-o à mulher que o acompanhava, que o guarda na bolsa sem qualquer constrangimento.
A reação foi imediata, o garoto ficou desconcertado e a plateia ao redor reagiu com espanto e indignação. Enquanto uns tentavam consolar a criança, outros explicavam para o CEO o absurdo da situação, mas ele simplesmente ignorou e levou o boné consigo. Não foi preciso mais que algumas horas para que o vídeo se tornasse viral, o que fez com que o tenista Kamil Majchrzak procurasse a criança para lhe dar um novo boné, já que, como disse, o boné era destinado a ela. Procurado, o CEO se manifestou pedindo desculpas ao garoto e a todos os presentes, afirmando que cometeu um erro de julgamento causado pela emoção do momento, o que o levou a agir instintivamente.
Agir por instinto é próprio dos animais, mas no ser humano esse instinto deve ser dosado pela racionalidade, sob pena de vivermos em um mundo no qual ninguém respeita a ninguém. Immanuel Kant, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, dizia que a ação moral não se confunde com o impulso. Ao contrário, a ação moral nasce quando somos capazes de conter nossos desejos em nome do respeito ao outro, que sempre deve ser visto como um fim em si mesmo. Assim, agir moralmente, para Kant, é resistir ao impulso que nos favorece quando ele desrespeita o outro.
O gesto impulsivo de um adulto tomando o boné destinado a uma criança revela não apenas um erro isolado, mas uma ética social cada vez mais guiada pelo instinto egoísta, pela indiferença em relação ao outro e pela corrosão dos valores mínimos de convivência civilizada. O boné, nesse caso, não era apenas um objeto, ele simbolizava um gesto de afeto do tenista vencedor para com aquela criança que estava a assistir a partida. Ao tomar o boné das mãos da criança o que o adulto mostrou é que não reconhece aquele ser como alguém que importa, que sente e que merece consideração.
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Isso é grave e merece nossa consideração, pois se vivermos em um mundo no qual os impulsos são soberanos, a regra só pode ser o caos. A civilização exige contenção. A Moral, dizia Kant, não depende das consequências, mas da máxima universal que guia a ação. Na dúvida diante de uma ação moral, devemos nos perguntar: e se todos fizessem o mesmo?
A resposta é que se todos agirmos como agiu Piotr Szczerek, a confiança mínima entre as pessoas se tornaria impossível. E sem confiança, não há laço humano que resista, e sem laço humano não há civilização, apenas barbárie.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.