
Série sobre o triatleta mineiro Thiago Vinhal estreia hoje no canal Off
"Respeita meu sonho" mostra a luta do belo-horizontino que se tornou o primeiro negro na competição mundial de Ironman no Havaí
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Siga noSonho, cada um tem o seu. Quando criança, Thiago Vinhal já sabia que os dele tinham relação com o esporte. Mas sonho era uma coisa; realidade, outra. E a dele era seguir com o legado da família – os pais se conheceram na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Estudar muito, fazer graduação e conseguir emprego estável. O que mais se poderia querer?
Com estreia nesta segunda-feira (15/4) no canal Off, a série documental “Respeita meu sonho” acompanha a trajetória do garoto hiperativo de Belo Horizonte que deu uma rasteira no destino e se tornou, em 2017, o primeiro atleta negro a competir na categoria profissional do Ironman Havaí, na ilha de Kailua-Kona (naquela altura, o evento estava em sua 39ª edição).
Atualmente, Vinhal, de 40 anos, é o triatleta brasileiro com a melhor colocação no Mundial e o 13º colocado no placar geral.
No Olimpo
Provas de Ironman existem às dezenas no planeta. A de Kona, realizada anualmente em outubro, é vista como o Olimpo dos triatletas – só os melhores do mundo conseguem se classificar. A prova é uma jornada de 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida. Para a categoria profissional, o funil é mais apertado. A próxima tentativa de Vinhal para uma vaga em Kona neste ano será em 19 de maio, no Ironman Brasil, em Florianópolis.
“Respeita meu sonho” trouxe a equipe do Off a Belo Horizonte para acompanhar a trajetória dele. “Eu não conhecia o Thiago e nem dominava o triátlon. Isso foi uma vantagem em certo ponto, pois trouxe a perspectiva de alguém que não conhece o esporte. Então pude dialogar mais, furar a bolha do segmento. Pois antes do esporte, a história do Thiago é muito sobre uma vida inspiradora”, afirma Rico Faissol, diretor da série.
Os episódios serão lançados semanalmente. O de estreia intercala momentos da infância de Vinhal com a vida como atleta. A equipe foi até o tradicional Colégio Santo Agostinho, no bairro de mesmo nome, gravar as cenas dramatizadas que tratam da primeira fase.
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Nascido na Cidade Nova, Vinhal era um dos poucos alunos negros daquela escola. Logo se destacou no esporte. “Só que o Santo Agostinho treinava para o vestibular”, ele lembra. Terminou o ensino fundamental e foi para a Escola do Sebrae, “pois você saía de lá empregado”. Era o que imaginavam seus pais. “Tinha 17 anos e ninguém me perguntava qual era o meu sonho.”
Alto, bonito, carismático, só faltava o cabelo black power. Foi o que um casal de amigos, ambos modelos, disse para ele na época. “Meu apelido era Jacaré. Me falaram para deixar o cabelo crescer, ficar mais magrinho, pois na época não tinha preto na agência em que trabalhavam.”
Rapidamente, passou a desfilar e a fazer campanhas publicitárias. Já corria (começou no Parque Municipal), pedalava (a primeira bicicleta veio aos 17 anos) e nadava bem. Começou a fazer triátlon. Mesmo ganhando o próprio dinheiro e com gosto pelo esporte, entrou para o curso de economia. Estudava de manhã, trabalhava à tarde e treinava à noite, “a parte perfeita do meu dia”.
A história segue já na universidade, quando colegas começaram a pedir que ele passasse treinos. “Comecei a pirar: amo fazer isso, dar dica de esporte. Fui falar com a minha mãe que não estava feliz fazendo economia, queria educação física.” Ela mandou o filho ser feliz.
Vinhal continuou treinando e estudando, se sustentando como personal trainer. Aos 19 anos, conseguiu o primeiro patrocinador, uma ótica. Começava ali sua trajetória como atleta profissional.
“Triátlon é uma coisa. Ironman? Que monstro é esse? Até o triátlon olímpico não era nada perto do Ironman. Como os caras conseguem? Nunca vou fazer isso, tinha medo”, era o pensamento de Vinhal diante dos desafios impostos pela competição. “No Ironman você não depende de confederação. É uma competição de você contra você mesmo. Aí botei na cabeça que meu sonho era ir para o Havaí.”
Thiago Vinhal no momento histórico de sua carreira, em Kona, no Havaí
Treinador
Sua primeira prova ocorreu em 2011, na categoria amador. Naquela época, o canal Off foi lançado. Telespectador assíduo desde sempre, Vinhal botou na cabeça que um dia teria programa ali. Mas até se tornar o brasileiro com a melhor classificação na história do Mundial de Kona, ralou muito. Tanto que trabalhou até 2018 como treinador de triátlon – sua assessoria chegou a ter 200 atletas. Desde então, não mais. Com os patrocínios, leva uma vida regrada, de treinos diários.
A série “Respeita meu sonho” foi rodada em 2023, com boa parte das imagens captada em Maiorca, na Espanha – “a Disney para o ciclismo mundial”, ele explica – e também nas etapas do Ironman de Cozumel, no México, e Florianópolis.
Faissol diz que o registro brasileiro foi complicado, diante da mobilidade dos atletas e da chuva que dominou a prova.
Dois personagens que aparecem na série são nórdicos: o dinamarquês Frank Jacobsen, treinador de Vinhal (“ele já fez sete campeões de Ironman”), e o triatleta sueco Jesper Svensson, seu parceiro de treinos. Neste ano, o trio não vai a Maiorca treinar. Vinhal trará a dupla para cá. Vivendo atualmente em Alphaville, fará os treinos na região de Nova Lima.
“RESPEITA MEU SONHO”
Série em cinco episódios. Estreia nesta segunda-feira (15/4), às 21h, no Canal Off. Nesta terça (16/4), a atração chega ao Globoplay. Novos episódios às segundas-feiras