CINEMA

Oscar 2025: indicado a Melhor Filme estreia no Brasil no streaming

O drama "Nickle boys", um dos filmes mais bem avaliados pela crítica e concorrente de "Ainda estou aqui", acaba de entrar no catálogo do Prime Video

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“Nickel Boys” é o único dos 10 longas indicados ao Oscar de Melhor Filme que não chegou aos cinemas brasileiros. Foi direto para o streaming. Recém-lançado pelo Prime Video, vale cada um de seus 140 minutos. É um exercício primoroso de cinema, emocionante e trágico na mesma medida, que, em momento algum, segura o espectador pela mão.

É o primeiro longa-metragem de ficção do cineasta, fotógrafo, roteirista e professor RaMell Ross, que foi indicado ao Oscar anteriormente por seu documentário de estreia, “Hale County this morning, this evening” (2018).

O filme é uma adaptação do romance vencedor do Pulitzer “O reformatório Nickel” (2019, lançado no Brasil pela Harper Collins), de Colin Whitehead, também autor de “The underground railroad” (2016). Este virou minissérie no Prime Video sob a direção de Barry Jenkins. “Nickel Boys” ainda está indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, função que RaMell Ross dividiu com Joslyn Barnes.

A história de filme e livro é ficcional, criada a partir de um sombrio fato que ocorreu na Flórida na década de 1960. Dezenas de meninos, a maioria deles negros, foram espancados, abusados sexualmente ou mortos em um reformatório remoto. O lugar real se chama Arthur G. Dozier School for Boys (AGDS).


Na verdade se chamava, funcionou por 111 anos na pequena cidade de Marianna, entre 1900 e 2011. Foi fechado justamente após uma série de denúncias, confirmadas após investigação policial.

Idealista

Na ficção, o inferno se chama Reformatório Nickel. Em meados da década de 1960, precisamente quando eclode nos Estados Unidos o movimento pelos Direitos Civis, e Martin Luther King pregava e marchava pela igualdade social, o garoto Elwood (Ethan Herisse) é enviado para o local.

Inteligente, idealista e honesto, ele foi criado pela avó, Hattie (Aunjanue Ellis-Taylor), em Tallahassee. Já estava garantido que entraria, num futuro próximo, numa faculdade para negros. Um erro, uma injustiça, uma barbaridade na realidade, envia esse menino para o local. 

A escola reformatório Nickel recebia garotos problemáticos de vários lugares. Os brancos ficavam em um lugar com facilidades. Os negros não tinham a menor chance ao ingressar nesse local de horrores. Só havia quatro maneiras de eles saírem dali, Elwood fica sabendo por aquele que vai se tornar seu melhor amigo.

Turner (Brandon Wilson) é carismático e vivido. Está em Nickel há bastante tempo para saber que um garoto negro só sai dali se fugir, se conseguir que seu caso seja revisto (o que é altamente improvável), se completar 18 anos ou se morrer. Morte morrida ou matada, tanto faz. É Turner quem vai guiar Elwood em seus dias mais sombrios neste lugar.

Elwood quer provar ao amigo que há uma quinta maneira de sair dali. Acredita que as palavras de Martin Luther King vão ecoar naquele local. Pragmático, Turner acha que ele é inocente demais, que o mundo não dará chances para pessoas como eles.

Uma referência que espelha a relação entre os dois garotos vem do filme “Acorrentados” (1958), cujas sequências mostram os personagens de Tony Curtis e Sidney Poitier, dois fugitivos que têm que aprender a conviver juntos para não serem capturados.

A história, em suma, é esta. A maneira como RaMell Ross conta a jornada desses dois meninos, tão iguais e tão diferentes, é o que faz “Nickel Boys” ser o grande filme que é. O diretor filmou a maior parte do longa alternando os pontos de vista entre Turner e Elwood. Ou seja, quase todo o tempo, não vemos o personagem em questão, mas o que ele vê. Que pode ser uma pessoa, um braço, um local, um mexer trêmulo de pernas.

Ainda que os dois protagonistas estejam próximos na maior parte do filme, eles pouco aparecem juntos na cena. Mas o espectador sente a presença de cada um deles, seja no olhar ou na expressão do outro. Ao compreendermos a intenção do diretor, embarcamos na história.

Trabalho forçado

A estrutura não linear também apresenta imagens de arquivos, fotos em preto e branco de crianças negras presas, como também comemorando datas festivas. O tempo dos meninos é o do trabalho forçado, surras, frustrações perdidas.

Já o tempo dos brancos vem diante das imagens das conquistas da Apollo 8. Muitas vezes também, o filme vai para o futuro – para a década de 1990, para o novo milênio. Sempre de costas, acompanhamos Elwood (Daveed Diggs), agora crescido, enquanto constrói sua vida fora de Nickel.

Até que... levamos uma rasteira. A virada da história é absolutamente dramática, mas nunca melodramática, pois o longa não subestima o espectador. A comparação mais rápida que podemos fazer é com o já citado Barry Jenkins, três Oscars em 2017, incluindo Melhor Filme, por “Moonlight: Sob a luz do luar”. Mas “Nickel Boys” é superior, preste atenção aos detalhes.

Método de filmagem

O diretor RaMell Ross explicou à “Vanity Fair” como filmou “Nickel Boys”, que ora traz a perspectiva de Elwood, ora a de Turner. "Ele foi filmado como um filme tradicional, exceto que o outro personagem não está lá. (Os atores) Foram apenas solicitados a olhar para um ponto específico na câmera. Normalmente, o outro ator estava atrás da câmera, lendo as falas e sendo o suporte para fazer a pessoa sentir que está realmente envolvida com algo relativamente real."


“NICKEL BOYS”
(EUA, 2024, 140min.). Direção: RaMell Ros. Com Ethan Herisse, Brandon Wilson e Aunjanue Ellis-Taylor. O filme está disponível no Prime Video.

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