O escritor franco-argelino Kamel Daoud, que ganhou o prêmio Goncourt no ano passado com o romance “Houris”, foi processado por uma compatriota, Saada Arbane, que o acusa de ter se apropriado da história da vida dela para escrever o livro.

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A primeira audiência por “violação de privacidade” ocorrerá em 7 de maio em um tribunal de Paris, disseram à AFP fontes próximas ao caso.

 


A intimação judicial foi entregue ao escritor na quinta-feira (13/2), em evento junto aos leitores e à editora Gallimard realizado em Bordeaux, na França. A editora se recusou a comentar o caso.

As houris do título do romance são, na tradição islâmica, jovens mulheres de grande beleza que aguardam os homens crentes no paraíso.

 

Saada Arbane usa cânula para respirar e falar, depois de ter a garganta cortada por jihadista

Louiza Nanouche/AFP

O livro de Daoud se passa principalmente em Oran e conta a história de Aube, jovem muda que teve a garganta cortada por um islamista em 31 de dezembro de 1999.

Em meados de novembro, Saada Arbane afirmou ao canal argelino One TV que a personagem Aube foi inspirada em sua história. Ela sobreviveu à tentativa de jihadistas de cortar sua garganta em 2000 e, desde então, usa uma cânula para respirar e falar.

Kamel Daoud conheceu Saada quando ela era paciente da mulher dele, a psiquiatra Aicha Dehdouh, entre 2015 e 2023.

Arbane, que já processou o escritor na Argélia, pede 200 mil euros (R$ 1,2 milhão) de indenização no processo que corre em Paris, além da divulgação pública de uma possível condenação, pois considera “totalmente impensável” que a semelhança seja fruto do acaso.

Três pedidos

A autora da ação não queria que sua experiência fosse tornada pública e “nunca consentiu que sua história fosse usada pelo Sr. Daoud, apesar de três pedidos”, diz o texto do processo.

Pelo contrário, Saada Arbane estava “determinada a que, em nenhuma circunstância, essa história, tão singular, íntima e única, fosse usada por alguém”, especialmente porque isso poderia expô-la a processo criminal na Argélia.

O processo cita entrevista com o escritor Daoud, publicada em setembro no semanário L'Obs, na qual foi questionado se o livro se baseou em um caso verdadeiro.

O autor, que já havia ganhado o prêmio Goncourt de Melhor Primeiro Romance em 2015, respondeu: “Sim, conheci uma mulher com uma cânula. Ela foi a verdadeira ‘metaforização’ dessa história”.

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