Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em imagem publicada no livro "Fernanda Montenegro - Itinerario fotobiográfico", das Edições Sesc - (crédito: Acervo Fernanda Montenegro)
crédito: Acervo Fernanda Montenegro
No “Globo Repórter” (TV Globo) da última sexta-feira (7/3), logo no primeiro programa da temporada de 2025, a vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar de Melhor Atriz Fernanda Torres foi homenageada por amigos e pela mãe, Fernanda Montenegro.
Em carta aberta, a matriarca elogiou a herdeira e a chamou de "fenômeno". "Ela, Nanda, sabe. Desde os seus 12 anos, quando Fernando e eu a assistimos no palco do Teatro Tablado, com total domínio de cena, nós, os pais atores, nos abraçamos aos prantos diante do fenômeno", diz trecho do recado.
"São quase 50 anos de criatividade em diversas áreas da nossa cultura artística. Coube a Fernanda Torres o fenômeno de atravessar a Linha do Equador, justamente durante o nosso Carnaval dionisíaco. Esse milagre se deve ao extraordinário filme de Walter Salles, 'Ainda estou aqui', que pelo seu protagonismo nessa obra de arte cinematográfica, fez dela, para sempre, um referencial transcendente de brasilidade", diz outro trecho.
Depoimentos
Amigos também fizeram questão de gravar depoimentos à atriz, tais como Andrea Beltrão, que com ela protagonizou "Tapas & beijos". "Fernanda já é um Oscar, ela vem de uma família que já é um Oscar", declarou.
Fernanda Torres participou de "Jogo de cena" (2007), dirigido pelo aclamado documentarista Eduardo Coutinho. Vinte e três mulheres foram filmadas no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, falando da própria vida. Com base nos depoimentos, atrizes interpretaram as histórias a seu modo, inclusive acrescentando experiências pessoais a elas.
Matizar Filmes/reprodução
Série de comédia de imenso sucesso na TV Globo, "Os normais" (2001-2003) deu origem a dois filmes homônimos, dirigidos por José Alvarenga Júnior, com roteiro de Fernanda Young e Alexandre Machado. Sucesso de bilheteria, os longas de 2003 e 2009 acompanham o casal Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) metidos em confusões e situações esdrúxulas.
Globo Filmes/reprodução
Fernanda Torres brilhou no divertido "Saneamento básico – O filme" (foto), de Jorge Furtado. O cineasta gaúcho e sua trupe (Fernanda, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Camila Pitanga e Paulo José, entre outros) conseguiram fazer graça com tema espinhoso: a falta de esgoto numa pequena cidade interiorana.
Casa de Cinema de Porto Alegre/reprodução
As duas Fernandas – Torres e Montenegro – atuaram em "Gêmeas" (1999) e "Casa de areia" (2005, foto), filmes de Andrucha Waddington, marido de Torres. A família voltou a se reunir no set de "O juízo" (2019), com roteiro de Fernanda Torres, direção de Waddington e Fernanda Montenegro contracenando com o neto Joaquim, filho do casal.
Conspiração Filmes/reprodução
Em 1998, o Oscar cruza pela primeira vez o caminho de Fernanda Torres. "O que é isso, companheiro?", de Bruno Barreto, concorreu ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, mas foi derrotado por "Karakter", do belga-holandês Mike van Diem. Fernanda interpretou a guerrilheira Maria. Selton Mello, seu companheiro em "Ainda estou aqui", fez o papel do militante de esquerda Oswaldo.
Miramax/reprodução
O primeiro filme de Fernanda Torres com o diretor Walter Salles foi "Terra estrangeira" (1995), codirigido por Daniela Thomas. Ela faz o papel de Alex, brasileira que vive em Portugal – imigrante que enfrenta um pesadelo ao lado de Paco (Fernando Alves Pinto), outro desgarrado do Brasil da era Collor.
Video Filmes/reprodução
Aos 21 anos, jovem Nanda conquistou um prêmio cobiçado por estrelas mundiais: Melhor Atriz no Festival de Cannes, em 1986, por seu trabalho em "Eu sei que vou te amar", longa de Arnaldo Jabor sobre a dor da separação de um jovem casal. Em cena, apenas Fernanda e Thales Pan Chacon. Como gravava a novela "Selva de pedra" (era a protagonista Simone), a atriz voltou da França antes da cerimônia de premiação. Jabor recebeu a pequena palma dourada em nome dela.
Embrafilme/reprodução
Em 1985, Fernanda Torres ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado por sua atuação em "A marvada carne", comédia dirigida por André Klotezel. Contracenando com Adilson Barros (foto), ela, aos 20 anos, era profissional com experiência no teatro e TV. Já havia atuado nas novelas da Globo "Baila comigo", de Manoel Carlos; "Brilhante", de Gilberto Braga; e "Eu prometo", de Janete Clair.
Embrafilme/reprodução
Filha dos atores Fernando Torres e Fernanda Montenegro, Fernanda Torres nasceu em 15 de setembro de 1965. Estreou nos palcos aos 13 anos, participando da peça "Um tango argentino", de Maria Clara Machado, que comandou o Tablado, celeiro carioca de talentos. O primeiro filme, aos 17, foi "Inocência" (1983), de Walter Lima Junior. Fez o papel da interiorana Inocência, que se apaixona pelo médico Cirino (Edson Celulari, foto), a contragosto do pai.
Embrafilme/reprodução
"Estamos muito orgulhosos", comentou Luiz Fernando Guimarães, que com Fernanda fez "Os normais". "Fernandinha, que linda trajetória", disse Tony Ramos.
Parceiro de "Ainda estou aqui", Selton Mello foi mais um a dar seu depoimento. "Passamos por muitas emoções juntos, a primeira foi em Veneza [Em setembro passado, o filme estreou na mostra italiana, de onde saiu com o troféu de roteiro, atribuído pelo júri presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert] . E quando veio aquela explosão, com 10 minutos de aplauso [na sessão de gala do filme], foi muito comovente, foi como o filme nasceu no Festival de Veneza", relembrou.
Confira a carta de Fernanda Montenegro para Fernanda Torres
"Fernanda Torres é um imenso talento como ser humano, daí a dimensão dessa vocação ampla e inarredável de ser uma atriz extraordinária. A arte de ser ator, no caso, atriz, só nós, desse ofício, entendemos na pele, repito, na pele, o que é o ser humano.
Ela, Nanda, sabe. Desde os seus 12 anos, quando Fernando e eu a assistimos no palco do Teatro Tablado, com total domínio de cena, nós, os pais atores, nos abraçamos aos prantos diante do fenômeno.
Veio à minha memória a frase do grande ator brasileiro Procópio Ferreira, que no final da interpretação da jovem e eterna atriz Bibi Ferreira, sua filha, Procópio agradecendo o estrondoso aplauso ao final do clássico 'Mirandonina', de [Carlo] Goldoni, e na emoção do que estava acontecendo, lançou em voz alta: 'Senhoras e senhores, está lançada a minha filial'.
Fernanda Torres, desde a infância, sempre ordenou a sua vocação de uma forma independente, real e sublime. São quase 50 anos de criatividade em diversas áreas da nossa cultura artística. Coube a Fernanda Torres o fenômeno de atravessar a Linha do Equador, justamente durante o nosso carnaval dionisíaco.
Esse milagre se deve ao extraordinário filme de Walter Salles, 'Ainda estou aqui', que pelo seu protagonismo nessa obra de arte cinematográfica, fez dela, para sempre, um referencial transcendente de brasilidade".