Madri – Karla Sofía Gascón está de volta ao jogo. Mas isto não quer dizer que ela queira entregar suas táticas facilmente. Foi o que a atriz espanhola que estrelou o controverso “Emila Pérez” deixou claro, ao falar com a imprensa na tarde da última sexta-feira (25/4), após partida beneficente no estádio Butarque Municipal de Leganés.

Quando questionada pelo Estado de Minas sobre seu próximo longa, “The life lift” – thriller psicológico da italiana Stefania Rossella Grassi que vai protagonizar com o ator e diretor Vincent Gallo –, a atriz saiu pela tangente.

“Há muitos filmes e coisas que tenho que fazer, mas agora estamos falando de futebol e sobre ajudar as vítimas da Dana (Depressão Isolada em Níveis Altos, que provocou as chuvas intensas que arrasaram parte da Espanha em outubro de 2024). Espero que com ações como essa possamos ajudar um pouco”, afirmou.

Mais tarde, falando rapidamente sobre o Brasil, ela não comentou sobre cinema, mas da paixão futebolística que une os dois países. Durante a corrida pelo Oscar 2025 de Melhor Atriz, que disputou com Fernanda Torres (“Ainda estou aqui”), Karla havia feito comentários negativos sobre a campanha da brasileira.

Depois disso, todas as 13 indicações de “Emilia Pérez” se viram abaladas pela polêmica envolvendo antigos tuítes racistas e xenófobos da atriz, que recircularam. O filme acabou levando apenas duas estatuetas – Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña) e Canção Original (“El mal”).

Mesmo que o evento de sexta passada fosse de futebol, o contexto maior é o do audiovisual. O amistoso, a quinta edição do chamado Encontro das Estrelas, é uma partida que integra a programação dos Prêmios Platino.

 


Noite de gala

Em sua 12ª edição, o evento, que premia a produção audiovisual ibero-americana, terá sua noite de gala neste domingo (27/4), no Palácio Municipal do IFEMA. Ainda que o Platino seja dominado pela produção hispânica, o Brasil aponta como favorito, já que “Ainda estou aqui” concorre em três categorias: Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) e Melhor Diretor (Walter Salles).

A britânica Cynthia Erivo, de 38 anos, já foi indicada ao Oscar de Melhor atriz em 2019 por 'Harriet'. Este ano, ela concorreu por 'Wicked', do diretor Jon M. Chu. Faz o papel de Elphaba, jovem de pele verde com poderes fantásticos, incompreendida e tachada de Bruxa Má do Oeste. É a única atriz negra indicada ao Oscar 2025. 'Wicked' disputa 10 estatuetas. Universal Pictures/divulgação
A espanhola Karla Sofía Gascón, de 52 anos, é a primeira artista trans indicada a Melhor Atriz no Oscar. Concorreu pela interpretação de Emilia Pérez no longa homônimo de Jacques Audiard. O filme é indicado em 13 categorias. Gascón faz o papel de um chefão de cartel que passa pela transição de gênero. Paris Filmes/divulgação
A veterana Demi Moore concorreu ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação no filme 'A substância', sobre estrela descartada de programa de TV que recorre a perigosa droga experimental para se manter jovem. Mubi/divulgação
A americana Mikey Madison é a mais jovem vencedora do Oscar de Melhor Atriz. Aos 25 anos, protagoniza o filme 'Anora', de Sean S. Baker. Madison interpreta a prostituta de luxo que impulsivamente decide se casar com um jovem oligarca russo, mas a família dele decide anular a união dos dois. O longa disputa seis Oscars. Universal Pictures/divulgação
Na corrida pelo Oscar, "Ainda estou aqui" venceu o prêmio de Melhor Filme Internacional. Concorreu também às estatuetas de Melhor Filme e Melhor Atriz, para Fernanda Torres Sony Pictures/divulgação

O cineasta e a atriz não vieram a Madri – o produtor Rodrigo Teixeira representa o drama vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. Os demais brasileiros no páreo são a animação “Arca de Noé” e as séries “Cidade de Deus: A luta não para” e “Senna”.

Karla Sofía não concorre a nenhum Platino, mas será uma das apresentadoras da premiação promovida pela Egeda(Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais) e pela FIPCA (Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais.

Dado o tsunami que ela provocou em Hollywood durante o Oscar,, Karla é uma das sensações do evento. Na partida, mesmo estando entre outros atores, atrizes e craques veteranos do futebol, foi ela quem concentrou os flashes.

Jogou pouquíssimo – os 53 anos, ela disse, mais o calor seco neste início de primavera, a tiraram de campo – mas fez graça com colegas de campo. Nas duas chances que teve de gol, chutou na trave.

Desenho animado da Letônia, 'Flow' acompanha gato que teve o lar destruído por enchente e passou a viver em um barco com outros animais. Dirigido por Gints Zilbalodis, concorre ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Animação. Dream Well Studio/divulgação
Produção francesa e mexicana, 'Emilia Pérez' é dirigido por Jacques Audiard. Com Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana e Selena Gomez. Indicado a 13 Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme Internacional. Chefão de cartel decide se aposentar e desaparecer do radar das autoridades, com ajuda de advogada, para realizar o desejo de assumir sua verdadeira identidade trans como Emilia Pérez. Pathé/divulgação
'A semente do fruto sagrado', de Mohammad Rasoulof, é um longa iraniano, mas representa a Alemanha no Oscar de Melhor Filme Internacional. Isso porque o Irã perseguiu Rasoulof enquanto rodava o longa. Indicado a uma estatueta em 2025. Na trama, juiz luta contra a paranoia numa Teerã em ebulição política depois da morte de uma jovem. Run Way Pictures/divulgação
O sombrio dinamarquês 'A garota da agulha' aborda dilemas morais em torno da compra e venda de bebês na Copenhague pós-Primeira Guerra. Candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é dirigido por Magnus von Horn e protagonizado por Victoria Carmen Sonne. Na trama, costureira pobre encontra parceira para comandar agência de adoção clandestina. Lukasz Bak/divulgação
Produção franco-brasileira, 'Ainda estou aqui', dirigido por Walter Salles deu o primeiro Oscar da história do Brasil, premiado na categoria Melhor Filme Internacional. O longa é protagonizado por Selton Mello e Fernanda Torres Sony Pictures/divulgação
 

Da turma que joga futebol (mesmo!) foram poucos: o espanhol Mario Suárez, o chileno Iván Zamorano e o argentino Juan Pablo Sorín, que deixou Belo Horizonte há alguns anos mas continua como ídolo inconteste da torcida cruzeirense. Este último foi responsável pela vitória do time de camisas pretas.

Em campo, só havia um brasileiro, Hugo Bonemer, que assumiu não entender nada de futebol. Foi na Fórmula 1 que ele se deu melhor. O ator concorre ao Platino de Melhor Coadjuvante em Série por sua participação como Nelson Piquet em “Senna”.

Detalhe: Bonemer fica um minuto em cena na produção inteira, que tem seis episódios. O reconhecimento que os Platino lhe deram – “Isso aqui é um sonho” – tem sua razão.

Bonemer protagonizou “Ayrton Senna – O musical” (2017). “Estudei automobilismo, corri de kart com o Bruno Senna, tive acesso aos arquivos do Instituto Ayrton Senna para ver o que queria, fui respirando isso”, conta.

“Quando veio a história da série e anunciaram um ator [Gabriel Leone, o protagonista], achei que não iria rolar pra mim. Aí veio a oportunidade de fazer o Nelson Piquet. E acho que estou fazendo exatamente o que tinha que estar. Estou muito feliz nessa função, olha onde ela me trouxe”, afirma.

Criada por entidades espanholas, mas com edições em diferentes países hispânicos (a de 2026 foi confirmada para Cancún, no México), o Platino não só premia produções como também lança luzes sobre a indústria como um todo.

Madri concentra boa parte de filmes, séries e vídeos publicitários rodadas na Espanha. “É um dos centros de produção mais importantes atualmente na Europa”, destaca Raúl Torquemada, diretor da Madrid Film Office, órgão municipal criado há seis anos.

Somente em 2024, ele diz, foram rodados na capital espanhola 41 filmes e 53 séries. “Quase 40% das produções cinematográficas foram coproduções. Entre o português e o espanhol, alcançamos mais de 680 milhões de pessoas”, diz Torquemada.

*A repórter viajou a convite da organização dos Prêmios Platino

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