Madri – Até 2004, quando foi escalada para a série “Desperate housewives”, a atriz Eva Longoria havia feito pequenas participações e levado várias portas na cara. Nascida no Texas, de ascendência mexicana, não falava espanhol.

Tanto por isso, não conseguia papéis de personagens latinas. Seu physique du rôle tampouco se encaixava no padrão norte-americano. Só se encontrou quando conseguiu o papel da mais rica das donas de casa de um subúrbio típico dos Estados Unidos – era a única latina do grupo, diga-se.

“Eu pensava: sou mexicana, sou americana e sou latina. Somos diversos, mas Hollywood não consegue ver isto, só consegue ver o estereótipo”, disse Eva, recém-chegada aos 50 anos.

A partir do sucesso da dona de casa desesperada Gabrielle Solis, a atriz entrou numa cruzada. Como a série de Marc Cherry a fez um nome relevante no ambiente do audiovisual americano, queria levar outras atrizes, diretoras e produtoras latinas com ela.

Duas décadas mais tarde, Eva Longoria é um nome de destaque da comunidade latina, atuando mais atrás das câmeras (como produtora, diretora e empresária) do que na frente delas. Será homenageada na noite deste domingo (27/4) com o prêmio de honra da 12a edição dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-americano.

O evento, que premia a produção audiovisual ibero-americana, será realizado em Madri, com transmissão pelo Canal Brasil. Trinta e cinco filmes e nove séries de 16 países ibero-americanos estão na disputa pelos troféus oferecidos pela Egeda (Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais) e pela Fipca (Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais.

Favoritismo

Mesmo que as produções de língua espanhola dominem, o Brasil é o favorito na principal categoria. “Ainda estou aqui” está indicado a Melhor Filme, e Walter Salles e Fernanda Torres também concorrem a Melhor Diretor e Melhor Atriz, respectivamente.

Caso o longa brasileiro vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional seja premiado nesta noite, quem subirá ao palco para receber o Platino será o produtor Rodrigo Teixeira. Os demais brasileiros no páreo são a animação “Arca de Noé” e as séries “Cidade de Deus: A luta não para” e “Senna”.

Em encontro com a imprensa na manhã de sábado (26/4), Eva Longoria falou sobre a queda da presença latina no mercado norte-americano. “Há menos latinos na frente e atrás das câmeras do que antes, menos mulheres também. A cada ano, cai um pouco. Hoje, não só procuro talentos, pois temos muitos. Mas busco colocá-los para o alto e estou sempre buscando possibilidades de trabalho”, disse.


Para ela, a mudança chegou também para o lado de cá da tela. “O que está mudando é o público, mais diverso. E ele quer que a televisão e o cinema reflitam isso. Não se faz mais projetos para a Espanha, ou para os Estados Unidos, mas para o mundo.”


Um exemplo é “Searching for Spain”, que estreia hoje na CNN. Em oito episódios, a série leva Eva para uma imersão na gastronomia espanhola. A exemplo do que fez na temporada inicial (“Searching for Mexico”, lançada em 2023), ela escolheu profissionais locais, uma boa parte deles mulheres, para trabalhar no projeto.


“Quando dirigi ‘Flamin’Hot – O sabor que mudou a história’ (longa de 2023) foi a mesma coisa. Em cada seção da produção, em cada posição importante, havia um mexicano, porque era uma história latina. A indústria diz: ‘Você não tem experiência’. E você não pode trabalhar se não tiver experiência. Então, acho importante arriscar, dar oportunidade para as pessoas.”

Presença brasileira

Do Brasil, a premiação desta noite terá os atores Andreia Horta e Alexandre Rodrigues (“Cidade de Deus”), Valentina Herszage (“Ainda estou aqui”), Hugo Bonemer (“Senna”), bem como os diretores Sérgio Machado (“Arca de Noé”) e Aly Muritiba (“Cidade de Deus”).


“É a primeira vez que venho para os Prêmio Platino. Acho muito importante que o Brasil se abra mais para os países de língua hispânica. Como temos uma dimensão continental, somos um pouco voltados para nós mesmos”, disse Sérgio Machado.

Desenho animado da Letônia, 'Flow' acompanha gato que teve o lar destruído por enchente e passou a viver em um barco com outros animais. Dirigido por Gints Zilbalodis, concorre ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Animação. Dream Well Studio/divulgação
Produção francesa e mexicana, 'Emilia Pérez' é dirigido por Jacques Audiard. Com Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana e Selena Gomez. Indicado a 13 Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme Internacional. Chefão de cartel decide se aposentar e desaparecer do radar das autoridades, com ajuda de advogada, para realizar o desejo de assumir sua verdadeira identidade trans como Emilia Pérez. Pathé/divulgação
'A semente do fruto sagrado', de Mohammad Rasoulof, é um longa iraniano, mas representa a Alemanha no Oscar de Melhor Filme Internacional. Isso porque o Irã perseguiu Rasoulof enquanto rodava o longa. Indicado a uma estatueta em 2025. Na trama, juiz luta contra a paranoia numa Teerã em ebulição política depois da morte de uma jovem. Run Way Pictures/divulgação
O sombrio dinamarquês 'A garota da agulha' aborda dilemas morais em torno da compra e venda de bebês na Copenhague pós-Primeira Guerra. Candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é dirigido por Magnus von Horn e protagonizado por Victoria Carmen Sonne. Na trama, costureira pobre encontra parceira para comandar agência de adoção clandestina. Lukasz Bak/divulgação
Produção franco-brasileira, 'Ainda estou aqui', dirigido por Walter Salles deu o primeiro Oscar da história do Brasil, premiado na categoria Melhor Filme Internacional. O longa é protagonizado por Selton Mello e Fernanda Torres Sony Pictures/divulgação


“Estamos em um excelente momento para ampliar fronteiras, e todos os projetos (brasileiros) que estão aqui representam isto”, acrescentou o diretor, que, além da animação baseada na obra de Vinicius de Moraes, também participou da série “Cidade de Deus”, como roteirista.


Sobre “Arca de Noé”, que concorre ao Platino de Melhor Animação, Machado diz que existe a intenção de fazer uma continuação. bem como uma série.

“É certamente um dos filmes (brasileiros) mais vendidos (para o exterior) da história do nosso cinema. Foi lançado, se não me engano, em 70 países. Por ser animação, ele é dublado em cada país (em que é lançado). Como é da Gullane e da Videofilmes, duas produtoras que conversam muito com o mundo inteiro, nasceu com esse desejo de ser internacional.”

PRÊMIOS PLATINO
A cerimônia será transmitida neste domingo (27/4), pelo Canal Brasil, a partir das 15h45.

A repórter viajou a convite da organização dos Prêmios Platino

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