"Canção de engate" tem sessões gratuitas neste fim de semana em BH
Solo de Ítallo Vieira que aborda a identidade masculina e homossexual e se inspira na escrita de Matilde Campilho fica em cartaz desta sexta (20/6) a domingo
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Siga noO que nos define? Existem palavras capazes de dizer quem somos? Essas questões nortearam o espetáculo “Canção de engate”, criação do Teatro da Fumaça, em cartaz desta sexta (20/6) a domingo, na Funarte, com entrada gratuita.
Protagonizado por Ítallo Vieira, o solo acompanha um ator que acorda na Quarta-feira de Cinzas, ainda sob os efeitos da ressaca do carnaval, e precisa gravar um vídeo de apresentação para um teste. Ele deve dizer quem é em poucos minutos para, talvez, conseguir um papel. Mas como se apresentar sem se reduzir?
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Depois de “O mundo está em chamas, o teatro também tem de estar”, montagem em que o teatro era tratado como personagem, o coletivo mergulha em uma nova pesquisa, voltada ao desejo, ao erotismo e à identidade.
“Canção de engate” parte de vivências pessoais de Ítallo, natural de Patrocínio, no Triângulo Mineiro, que se mudou para Belo Horizonte aos 20 anos para se profissionalizar no teatro. As experiências do ator servem como ponto de partida para discutir questões coletivas.
Memórias
“A criança é algo extremamente importante nesse trabalho. Tive que voltar muito às minhas memórias de infância para construir essa persona”, conta o ator. “Tenho falado mais em persona do que em personagem, porque eu e ela não nos desencontramos. O olhar de toda a equipe sobre minhas memórias e vivências foi essencial para a construção do espetáculo.”
“É um solo, mas é um espetáculo do grupo”, resume João Santos. Os cinco integrantes do Teatro da Fumaça participaram do processo. João e Júlia Oliveira assinam a dramaturgia, Jean Gorziza é assistente de direção, Domênica Morvillo responde pela assistência audiovisual. A direção é de Fábio Furtado, coordenador pedagógico do Galpão Cine Horto.
João explica que houve um cuidado do grupo em não cair em um lugar excessivamente introspectivo. “É uma preocupação nossa não fazer algo muito individual. A gente quer se comunicar. Essa é uma questão forte para o grupo. Queremos sempre fazer espetáculos de comunicação ampla, conversar com as pessoas, chegar no público. A gente foge de tudo que seja muito hermético, muito fechado”. diz.
Pesquisa
Projeto de conclusão de curso de Ítallo Vieira na UFMG, a montagem é ancorada em pesquisa acadêmica. O processo teve como base encontros com oito pesquisadores de diferentes áreas artísticas, com o objetivo de investigar o erotismo nas relações homoafetivas.
“O seminário foi um processo importantíssimo. Quando tivemos a ideia do espetáculo, entendemos que precisávamos pesquisar. Era um tema muito presente nas nossas vidas, mas nunca o havíamos aprofundado como eixo de uma criação teatral”, conta Ítallo.
Na peça, a água funciona como metáfora para esse desejo que insiste em correr, mesmo quando tentam contê-lo. A associação entre erotismo e água pode remeter à obra mais célebre da mineira Carla Madeira, “Tudo é rio”, mas a principal referência literária da montagem foi a escritora portuguesa Matilde Campilho, conhecida por sua escrita contemplativa e sensorial.
“Pessoas LGBTs muitas vezes só conseguem vivenciar o próprio desejo mais tarde. Enquanto a maioria está descobrindo isso na adolescência, a gente precisa esperar. Por isso é tão importante voltar na sua criança, dar as mãos para ela e falar: agora sou eu que cuido da gente”, afirma o protagonista.
“Quando pensamos o erótico, não é só o sexual, mas o sensorial, o toque, a escuta, o olhar. Pensamos o erotismo como esse lugar sensível do corpo”, completa. A cenografia evoca um estúdio fotográfico, com elementos do universo técnico da imagem, como tripés, refletores, rebatedores de luz e fundo infinito.
O Teatro da Fumaça segue com novos projetos. Em novembro, o grupo estreia “Mineral Ibsen”, espetáculo criado em parceria com a Sobrilá Cia de Teatro e dirigido por Marina Arthuzzi. A montagem começou a ser desenvolvida após o coletivo receber a premiação Ibsen Scope Grant, fundo norueguês conquistado durante o festival Ibsen Scope, em 2024.
“CANÇÃO DE ENGATE”
Espetáculo do Teatro da Fumaça. Nesta sexta-feira (20/6), sábado e domingo (22/6), sempre às 19h, na Funarte (Rua Januária, 68 - Centro). Entrada gratuita, com retirada de ingressos pelo Sympla ou 1h antes das apresentações na bilheteria.