Cinema

'Homem com H' é o quarto filme em língua não inglesa mais visto na Netflix

Queixas sobre cenas de sexo não abalaram a cinebiografia de Ney Matogrosso, que já soma 3,1 milhões de visualizações na plataforma mundial

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O filme é exatamente o mesmo. Na sala de cinema pode; no sofá de casa, não. É essa a impressão que fica diante dos comentários nos perfis da Netflix acompanhando postagens sobre “Homem com H”. Excesso de sexo, muita gente que assistiu ao filme pela TV reclamou.

Lançada pela plataforma no último dia 17/6, seis semanas e meia após estrear nos cinemas, a cinebiografia de Ney Matogrosso segue no topo do ranking da Netflix. No Brasil, é o filme mais visto desde sábado (21/6).

No mundo, onde foi lançado como “Latin blood – The ballad of Ney Matogrosso” (referência a “Sangue latino”, sucesso dos Secos e Molhados), é o quarto longa de língua não inglesa mais assistido na plataforma. Foram 3,1 milhões de visualizações (6,8 milhões de horas) na última semana. A contagem do ranking, vale dizer, foi até domingo passado (22/6).

São números fora da curva, cinco vezes maiores do que os do cinema – em torno de 635 mil espectadores. A chegada ao streaming, um tanto prematura para os padrões (de maneira geral, aguarda-se que o filme encerre sua carreira nas salas para lançá-lo nas plataformas), gerou a primeira polêmica em torno do longa dirigido por Esmir Filho e estrelado por Jesuíta Barbosa.

Ney Matogrosso e Jesuíta Barbosa, abraçados, olham para a câmera
Ney Matogrosso e o ator Jesuíta Barbosa em sessão de estreia de "Homem com H", que atraiu mais de 600 mil pessoas ao cinema no Brasil e soma 3,1 milhões de visualizações na Netflix Instagram/reprodução

A produção cinematográfica brasileira, que tem dificuldade de chegar às salas de cinema, ganhou o primeiro grande fôlego no pós-pandemia depois do sucesso irrestrito de “Ainda estou aqui”. Com o lançamento na Netflix, a carreira de “Homem com H” nas salas perdeu força. Mesmo assim, está conseguindo se manter. São apenas dois horários em Belo Horizonte, nas salas do Cidade e UNA Cine Belas Artes.

É mérito do filme e também do biografado. Aos 83 anos, Ney Matogrosso – que inclusive recebeu da cinebiografia a dedicatória “por ousar ser livre” – é um caso exemplar na música brasileira.

Tão popular hoje quanto há 50 anos, o cantor continua em plena atividade mantendo a coerência, pessoal e profissional, dos primórdios – questão que o filme aborda. Ney é para todo mundo – de jovens que o descobriram há pouco a senhoras que regulam de idade com ele.

“Me causa estranheza pensar o choque (que o filme trouxe para parte do público) por causa da própria trajetória do Ney. Ele vem do desbunde, da liberdade do corpo, da contracultura. Seria muito estranho se houvesse uma espécie de higienização, se escondessem o sexo, que foi também um elemento criativo na produção musical dele. O Ney desafia a normatividade do corpo masculino. Por outro lado, há uma quantidade imensa de mulheres fascinadas por ele enquanto homem”, afirma Vinicios Kabral Ribeiro, professor da Escola de Comunicação da UFRJ, com pesquisa em torno de gênero, raça e identidade.

Ribeiro não vê nada de excessivo nas cenas de sexo do filme, “algo comum no cinema brasileiro”. A reação de alguns, na opinião dele, pode vir do moralismo puro e simples, como também do etarismo.

“Pode ter a ver com apagamento, de se querer negar a sexualidade porque o Ney tem mais de 80 anos. Há uma dificuldade em olhar esse homem envelhecendo, mesmo que o filme retrate outro momento da vida dele”, acrescenta.

“O que mais gostei foi que você não me copiou, inspirado em mim criou sua própria performance”, publicou Ney em postagem viral do adolescente baiano Yago Savalla. Aos 16 anos, o aluno do Colégio Liceu Salesiano, em Salvador, fez recentemente performance da canção “Homem com H”, como parte de um projeto interdisciplinar da escola.

Trecho da letra de 'Homem com H', escrita pelo autor, o paraibano Antônio Barros
Trecho da letra de 'Homem com H', escrita pelo autor, o paraibano Antônio Barros, publicada no livro 'O fole roncou! Uma história do forró', de Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues Reprodução

A música que batizou o filme

A história da canção-título é contada na cinebiografia no momento em que Ney está no estúdio. No início da década de 1980, ele nunca tinha se aventurado pelo forró. Ficou em dúvida tanto pelo gênero quanto pelo conteúdo da canção. No filme, é estimulado tanto pelo produtor Marco Mazzola quanto pelo compositor Gonzaguinha, que fala que só Ney poderia gravar “Homem com H”.

Quando ganhou o registro definitivo do cantor, “Homem com H” já tinha uns bons seis anos. A música é de Antônio Barros, cantor e compositor paraibano morto em 11 de março passado, aos 95 anos. A figura que o inspirou não poderia ser mais distante de Ney.

De acordo com Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, autores do livro “O fole roncou! Uma história do forró” (2012), o refrão “Porque eu sou é homem/ Porque eu sou é homem/ Menino, eu sou é homem/ E como sou” foi inspirado em Zeca Diabo, o personagem de Lima Duarte em “O bem amado” (1973).

Do interior da Paraíba (nasceu em Queimadas), Barros fez o movimento dos músicos e poetas de sua época. Chegou ao Recife e, mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro – viveu na casa de Luiz Gonzaga na Ilha do Governador.

Barros também teve músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Trio Nordestino. Compunha com muita facilidade, duas horas no máximo para uma canção. “Se passar disso, estraga e eu jogo no lixo”, afirmou Barros no livro "O fole roncou!".


“HOMEM COM H”

O filme está disponível na Netflix e segue em cartaz às 15h30, na Sala 6 do Cidade, e às 15h40, na Sala 2 do UNA Cine Belas Artes.

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