A CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto dá início nesta quarta-feira (25/6), com novidades, à sua 20ª edição. A primeira é a criação de uma competitiva, a segunda é o Prêmio Preservação, para dar visibilidade a profissionais que atuam na área, e a terceira tem uma relação direta com a própria cidade.
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Sem cinema desde 2018, quando o Cine Vila Rica foi fechado (mais uma vez para reformas, que devem levar alguns anos), Ouro Preto passa a contar com uma sala dentro de sua instituição cultural mais importante. O auditório do Museu da Inconfidência, com 90 lugares, passará a ser chamado Sala Joaquim Pedro de Andrade.
Será um dos três espaços de exibição, até a próxima segunda (30/6), dos 143 filmes (entre curtas e longas) que compõem as 12 mostras da programação. O Cine-Praça, na Praça Tiradentes, continua como espaço central da mostra, além do Centro de Convenções – cada local de exibição com 500 lugares.
Mostra com foco na preservação, história e educação, nesta edição celebra também o humor das mulheres no cinema, com uma seleção de 21 produções. Marisa Orth será homenageada com exibição de alguns filmes, “Doces poderes” (1997), de Lúcia Murat, entre outros. A atriz vai participar na quinta (26/6) de debate com a cineasta Anna Muylaert, que a dirigiu em três filmes – a mostra vai exibir o curta “A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti” (1995).
Outros nomes que o evento celebra são o do professor João Luiz Vieira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Pela atuação na preservação de filmes produzidos por estudantes junto ao Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (Lupa), ele vai receber o Prêmio Preservação. Já a educadora Maria Angélica Santos, referência na área de alfabetização audiovisual, vai receber o Prêmio Cinema e Educação.
Longas inéditos
Os longas inéditos que serão exibidos também dialogam com o viés da memória. Na mostra Contemporânea serão três documentários: “3 obás de Xangô”, de Sérgio Machado, que celebra a amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé; “Brasiliana: O musical negro que apresentou o Brasil ao mundo”, de Joel Zito Araújo, eleito há pouco o melhor filme da competição nacional do In-Edit, festival de documentários musicais; e “O silêncio de Eva”, de Elza Cataldo.
Esse último busca reconstruir a trajetória de Eva Nil, ou Eva Comello. Atriz que participou de filmes do Ciclo de Cataguases de Humberto Mauro, virou musa do cinema silencioso, abandonou a carreira no final dos anos 1920 e viveu discretamente no estúdio de fotografia do pai, Pedro Comello, primeiro fotógrafo de Mauro, na cidade da Zona da Mata. Inês Peixoto e Eduardo Moreira, do Galpão, interpretam Eva e Pedro – a filha do casal, Bárbara Luz, vive a atriz na juventude.
Chegar aos 20 anos como um evento reconhecido, nacional e internacionalmente, em torno da preservação do audiovisual, surpreende Raquel Hallak, idealizadora da CineOP. Ela admite que, ao abraçar o viés da memória em 2006, quando deu início ao evento em Ouro Preto, pouco sabia sobre a questão.
A CineOP nasceu a partir da Mostra de Cinema de Tiradentes, que no ano de 2000 realizaria sua terceira edição. Na época, relembra Raquel, era um evento pouco conhecido. Para inaugurar a sessão de exibição na praça e chamar a atenção para a mostra, ela decidiu apresentar três filmes que marcaram a história da produção nacional.
Votação
O levantamento foi feito por 37 críticos de jornais de todo o país. Os mais votados foram “Limite” (1931), de Mário Peixoto, “Deus e o diabo na terra do sol” (1964) e “Terra em transe” (1967), ambos de Glauber Rocha.
A dor de cabeça foi grande. “‘Limite’ não tinha cópia no Brasil, só na Cinemateca Francesa. Para ‘Deus e o diabo’ eu tinha que pedir autorização a todos os herdeiros do Glauber, que eram superdifíceis. Não estava conseguindo nada, até que liguei para dona Lúcia Rocha [mãe do cineasta baiano e responsável, até a morte, em 2014, pela preservação da obra dele junto ao Templo Glauber]. Ela me disse que iria conseguir [as cópias em 35mm], mas que tinha uma condição: eu teria que levá-la todo ano a Tiradentes”, conta Raquel, lembrando-se da parceira tornada amiga, sentada no banquinho em todo mês de janeiro.
Nos anos posteriores, a cada retrospectiva em torno de um nome histórico que Tiradentes homenageava, a produtora vivia um risco. “Ou as cópias antigas estavam ‘avinagradas’, ou os diretores não sabiam onde estavam, ou eu não conseguia acesso”, conta Raquel.
Com a cancha adquirida em Tiradentes, Raquel começou a pensar em uma segunda cidade. O mote do patrimônio caiu como uma luva em Ouro Preto, que, em 2006 estava reinaugurando o Cine Vila Rica. “Começamos o evento reunindo os herdeiros de Glauber, (Rogério) Sganzerla e Joaquim Pedro, as primeiras famílias que começaram a se organizar no processo de restauro.”
Outros arquivos e acervos audiovisuais foram se juntando no caminho, assim como as políticas públicas, algumas delas criadas em sintonia com o evento. “O cinema é um reflexo de quem somos. Se não preservamos o que estamos produzindo, não teremos história para contar”, diz Raquel.
Rita e Ana
O recente documentário “Ritas”, de Oswaldo Santana e Karen Harley, que acompanha a trajetória de Rita Lee (1947-2023) com muito material de arquivo, será exibido na sexta (27/6), às 21h, na Praça Tiradentes. A celebração em torno da roqueira continua às 23h, no Centro de Convenções, que recebe o show “Ana Cañas canta Rita Lee”.
20ª CINEOP – MOSTRA DE CINEMA DE OURO PRETO
Desta quarta (25/6) a segunda (30/6), no Centro de Artes e Convenções da Ufop, Praça Tiradentes e Cine- Museu da Inconfidência. Programação completa no site do festival. Entrada franca.