Bordado em tecidos de diferentes tamanhos, o sertão mineiro vai se apresentando pouco a pouco. Um homem guia o carro de boi, o pescador aguarda o peixe fisgar a isca, uma família de retirantes caminha à beira do rio e quermesses se espalham diante de uma igreja. Tudo isso dialogando com frases de Guimarães Rosa (1908-1967).

As imagens feitas em Paris por Patrícia Guimarães – prima distante do escritor – integram a mostra “Felicidade se acha é em horinhas de descuido”, em cartaz na Academia Mineira de Letras (AML) como parte da programação do projeto “Riobaldia”. Exposição e evento em homenagem ao autor de “Grande sertão: Veredas” acontecem apenas nesta sexta-feira (27/6).

A data não foi escolhida ao acaso, é o aniversário do escritor brasileiro que ampliou os horizontes da narrativa literária, fundindo a oralidade sertaneja com invenções linguísticas radicais. E, justamente por isso, “Riobaldia” contará também com caminhada literária, partindo da AML em direção à Praça da Liberdade, além da mostra de bordados.

Não é a primeira vez que a obra de Guimarães Rosa reverbera para além da literatura. Artistas plásticos, bordadeiras, compositores e grupos de teatro – o Grupo Galpão, entre eles – já beberam na fonte roseana. Existe até passeio “sócio-eco-literário”, que anualmente refaz o percurso de Riobaldo, no Noroeste mineiro.

‘O sertão é dentro da gente'

O sertão não é apenas físico. Em “Grande sertão: Veredas” e também nos contos de “Sagarana”, “Corpo de baile” e “Primeiras estórias”, o local reflete o estado de espírito e o jeito de ser dos personagens. Em alguns aspectos, chega a ser símbolo da travessia e dos dilemas morais dos sertanejos – “O sertão é dentro da gente”, diz Riobaldo. E, mesmo longe do poder central, é espaço repleto de vida e sabedoria.

São todas essas perspectivas sobre o sertão que Patrícia Guimarães procura ilustrar em seus bordados. “Foi um casamento perfeito. Eu já gostava de bordar paisagens do sertão e do interior mineiro, elementos que fazem a obra de Guimarães Rosa”, afirma ela, que é curadora da memória da Academia Familiar de Letras João Guimarães Rosa (Afal).

“Felicidade se acha é em horinhas de descuido” reúne 18 bordados de Patrícia. Até o convite para a exposição, vale dizer, é um bordado: a foto de Guimarães Rosa.

Vestido junino

A peça que mais se destaca, no entanto, é de 2014. Patrícia bordou uma cena de festa religiosa típica das cidades do interior no vestido junino da neta. É nesse vestido que estão espalhadas as quermesses e as pessoas diante de uma igreja.

“Não faço isso com grandes pretensões, mas vejo que é uma forma de manter viva a memória de Guimarães Rosa, principalmente nesse nosso país, tão carente de leitura”, ressalta. “Além disso, ele é um escritor da nossa terra, que preservou nossas raízes e falou coisas caras à nós mineiros. Não podemos deixar esse legado morrer”, conclui.

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 “RIOBALDIA”

Evento em homenagem a Guimarães Rosa. Exposição “Felicidade se acha é em horinhas de descuido” e caminhada literária. Nesta sexta-feira (27/6), a partir das 9h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.

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