Morre Mamélia Dornelles, nome de destaque do teatro de Minas Gerais
Natural de São João del-Rei, ela tinha 88 anos, era casada com o diretor Jota D'ângelo e participou da criação do Teatro Experimental, na década de 1950
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Siga noMorreu Maria Amélia Dornelles D'ângelo, um dos nomes mais importantes do teatro de Minas Gerais. Atriz e diretora, ela tinha 88 anos e era casada com o escritor e diretor Jota D'ângelo, destaque das artes cênicas mineiras.
Natural de São João del-Rei, Mamélia, como era conhecida, morava na cidade histórica do Campo das Vertentes, onde seu corpo foi velado neste sábado (19/7), na Igreja de São Francisco.
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Na década de 1950, Mamélia e Jota D'ângelo participaram da criação do Teatro Experimental, coletivo emblemático dos palcos mineiros, que depois deu origem a O Grupo. Junto de outros jovens atores e dramaturgos da conservadora Belo Horizonte, os dois estavam conectados ao experimentalismo de Samuel Beckett e Eugène Ionesco, entre outros autores. Foram responsáveis pela modernização das artes cênicas em BH e no estado.
Uma das peças históricas da trupe foi “Oh! Oh! Oh! Minas Gerais”, que fez sucesso desde a estreia, em 1967, apesar da vigilância dos censores. O espetáculo acabaria censurado definitivamente em 1968, quando o Ato Institucional número 5 (AI-5) foi imposto pela ditadura militar.
Atuante na cena artística de São João del-Rei, Mamélia fundou a Casa de Cultura do Centro Cultural Feminino Virgílio D’ângelo e integrou o conselho curador da Fundação Cultural Campos de Minas.
Participou ativamente na defesa do artesanato e valorizou o carnaval como bem cultural, exercendo papel de destaque na folia de sua terra natal.
'Mulher de fibra'
O ator Fernando Couto lamentou a morte da amiga e a homenageou em seu perfil no Instagram. “Dividimos o palco por várias vezes. Em 'A moribunda', de José Antônio de Souza e direção de Márcio Machado, Mamélia estava impagável no papel de uma banqueira corrupta. Fizemos um grande sucesso. Sem falar em inúmeros outros espetáculos. Que Deus ilumine sua passagem e console a família. O teatro deve muito a essa mulher de fibra”, afirmou Couto.
A Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, por meio do Instagram, destacou a importância da atriz e diretora mineira. Diz a nota:
"Hoje o palco mineiro se despede de Mamélia Dornelles. Atriz, diretora, figurinista, companheira de cena e de vida de Jota D’Angelo, Mamélia foi presença marcante e necessária no teatro de Minas.
Fundadora do Teatro Experimental, atravessou tempos difíceis com arte, coragem e sensibilidade. Também ajudou a criar a Casa de Cultura Oswaldo França Júnior, um espaço que continua sendo ponto de encontro e criação em Belo Horizonte."
A Rádio São João Del-Rei também se despediu de Mamélia:
“A cuíca e os tamborins hoje ecoam o som triste da perda de Maria Amélia Dornelles D’ângelo, carinhosamente conhecida por Mamélia D’ângelo. Defensora dos direitos das mulheres e da identidade cultural de São João del-Rei, ao lado do seu esposo e eterno namorado Jota D’ângelo, Mamélia foi ícone para a preservação da cultura, do teatro, do artesanato e do carnaval de São João del-Rei e do estado de Minas”, destacou
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