Um reencontro entre três irmãos é o ponto de partida do espetáculo “Banho de chuva”, segunda montagem do grupo belo-horizontino Nós Três, em cartaz na Funarte, até o próximo dia 13, sempre às 19h30. A peça nasce do desejo do elenco de revisitar as próprias memórias familiares e propõe uma reflexão sobre os sentimentos despertados ao retornar ao lugar onde crescemos.


Formado por Bruna Félix e os irmãos Dhan Lopes e Lucas Lopes Valadares, o grupo estreou no ano passado com “Top summer hits”, peça que narra a história de três amigos que resolvem piratear CDs nos anos 1990. Agora, o trio volta o olhar para o núcleo familiar, usando vivências pessoais como base para investigar o que fazemos com aquilo que herdamos da nossa história.

Volta para casa


A peça acompanha o retorno de Heitor, personagem vivido por Dhan, à casa onde cresceu com os irmãos Jonas (Lucas Lopes Valadares) e Isadora (Bruna Félix). A partir do reencontro, memórias, conflitos e um grande segredo familiar vêm à tona.


Heitor, o primogênito, tenta manter a família unida enquanto esconde sua própria fragilidade. Jonas, o do meio, é cauteloso e vê na casa o alicerce de sua estabilidade emocional. Já Isadora, a mais nova, é espontânea, criativa e usa o humor como estratégia de aproximação dos irmãos.


A ideia do espetáculo surgiu de um monólogo escrito por Dhan Lopes, chamado “Viagem”. “É um pouco de escrevivência, das minhas vivências pessoais. Foi aí que percebi que falar de família era importante, porque eu não estava falando só da minha, estava falando de várias”, comenta o ator e dramaturgo.

Relação com a família


A partir do ponto de partida, ele compartilhou com Bruna e Lucas o desejo de transformar o texto em algo maior. “Muito da minha relação com a minha própria família continuou no espetáculo. Todas as memórias apresentadas são pessoais de algum de nós três. São coisas que quase toda família já viveu”, afirma.


Para ele, a peça mostra como as vivências familiares moldam quem somos. “Somos aquilo que foi construído por aqueles que nos formaram, e a família é um desses alicerces muito fortes. Trazemos isso de maneira sensível e delicada”, conta.


A direção é de Lucas Fabrício. Antigo professor de Dhan e Bruna no Cefart, o Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado, ele foi convidado para somar no processo criativo e ajudar a construir a encenação. “Me atraiu muito a possibilidade de trabalhar num processo em que o elenco também assume a dramaturgia”, diz.


Pesquisa teatral

Pesquisador da relação entre teatro e memória, ele acompanhou de perto a escrita e montagem do texto, colaborando para dar forma ao desejo do grupo de transformar lembranças em cena. “Todo mundo tem um quarto em casa cheio de coisas velhas ou uma caixa de fotografias, e a gente vive pensando no que fazer com esses objetos que acumulamos”, comenta.


“Banho de chuva” se constrói a partir da relação entre os três irmãos com objetos de memória guardados na casa da infância. Casa essa que, segundo o diretor, é quase como um quarto personagem. “Todo o jogo dos atores acontece a partir dos objetos. Às vezes construímos uma sala, que se transforma no quintal, depois numa cabaninha... Quem nunca montou uma cabana no quarto quando acabou a luz?”, diz.


Significado do título

Ainda segundo ele, o título da montagem parte de um trecho do texto que diz que chuva são os nossos ancestrais nos abençoando. “O título remete a isso. As vozes da memória dos que faleceram vivem nesses objetos que estão ali armazenados na casa. Então tem essa camada fantástica também”, explica.


Para Lucas, o espetáculo é, acima de tudo, uma reflexão sobre como as memórias nos constituem enquanto indivíduos. “É uma peça que propõe uma relação bem próxima com o público. Nossa maior expectativa é ver como ela chega nas pessoas”, afirma o diretor.


Mais do que contar histórias pessoais, o grupo busca criar uma experiência de reconhecimento para a plateia. “Queremos muito que o público se divirta, mas também que se identifique, que pense: ‘Nossa, eu também fazia isso’, ou ‘Minha família também era assim’. Nosso maior objetivo é que o espetáculo desperte esse tipo de conexão”, afirma Dhan.


“BANHO DE CHUVA”
Espetáculo do grupo Nós Três, em cartaz na Funarte (Rua Januária, 68, Centro), sempre às 19h30. Até 13/8. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia); entradas promocionais a partir de R$ 10, à venda no Sympla e na bilheteria local.

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