Em 2021, o Grupo Confesso estreou a própria montagem de “Os sete gatinhos”, texto clássico do escritor, teatrólogo e jornalista Nelson Rodrigues. A obra gira em torno da família Noronha, tradicional e conservadora. Pai e mãe moram com as cinco filhas e depositam toda a perspectiva de futuro na “pura” Silene, a caçula.
A terceira edição do projeto No Palco da Cidade, do Teatro da Cidade, celebra a trajetória profissional e os 113 anos de Nelson Rodrigues. Nesta sexta-feira (8/8), no sábado (9/8) e no domingo (10/8), às 20h, a companhia apresenta mais uma temporada de “Os sete gatinhos”.
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“Temos o Nelson como um grande escritor para o palco. Sua dramaturgia ficcional também vai, em algum nível, desvelar as mazelas de uma sociedade, trazendo um conservadorismo que cai por terra, mascarado”, afirma Guilherme Colina, diretor do espetáculo em cartaz.
“Os sete gatinhos” é um retrato do conservadorismo e suas façanhas, podendo ser interpretado de diferentes formas. Para o diretor, o texto prende o espectador como uma novela. “A cada ação dramática, o público fica mais imerso na ficção e ilusão teatral, querendo saber o que vai acontecer.”
Noronha, o pai, é símbolo do patriarcado em uma residência onde algumas de suas cinco filhas se prostituem. Para ele e Aracy, mãe das garotas, a única esperança da família é a caçula Silene.
A expectativa é de que ela se case bem e não seja “corrompida” pelo mundo, então, os dois se propõem a comprar o enxoval para a filha, símbolo de pureza. A peça aborda a crença de que a virgindade é algo divino e sagrado, e a perda dela, um pecado.
“Nelson construiu o texto de um jeito muito legal. Não sabemos se foi ou não desejo dele fazer uma crítica ao conservadorismo e à hipocrisia das famílias tradicionais, mas fizemos a leitura dessa forma e a montagem é uma crítica a isso”, explica Guilherme.
Exposição de pintura
Em paralelo ao espetáculo, a exposição “Telas em cena” está em cartaz no teatro até 26 de agosto, com pinturas inspiradas em textos de Nelson. “Como diretor teatral, pinto quadros vivos. Nas artes plásticas se tem os quadros estáticos, que reverberam muitos estados emocionais e muitas reflexões. Cada quadro é inspirado em uma obra dele”, diz.
Com curadoria do produtor Luiz Otávio Brandão, 12 obras, que recebem os nomes de obras de Nelson, compõem a mostra. São elas: “Perdoa-me por me traíres”, por Aline Guerra; “Viúva, porém, honesta”, por Clara Pinto Coelho; “Boca de ouro”, por Demogolet; “Bonitinha, mas ordinária”, por Eri Gomes; “Álbum de família”, por Fernando Perdigão; “Instalação rodrigueana”, por Iara Abreu; “Os sete gatinhos”, por Isabel Galery; “Mulher sem pecado”, por Lorena Mascarenhas; “O beijo no asfalto”, por Luzcla; “Doroteia”, por Maurício Costa; “A serpente”, por Ornelas, e “Anjo negro”, por Regina Moraes.
A companhia existe desde 2012 e já apresentou diversas peças, além de ter implantado um curso de teatro.
“Quando os resultados do curso de teatro se dão em nível profissional, nós integramos os espetáculos à programação do projeto No Palco da cidade do ano seguinte. Já estou fazendo, junto com o Pedro Paulo Cava, a curadoria de alguns espetáculos que a gente pretende trazer”, conclui Guilherme Colina.
“OS SETE GATINHOS”
Com Grupo Confesso. Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro), desta sexta-feira (8/8) a domingo (10/8), às 20h. Ingressos: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia) e R$ 40 (solidário). Disponíveis na plataforma Sympla.
“TELAS EM CENA”
Exposição de pinturas, até 26 de agosto. De terça-feira a domingo, das 15h às 20h, na Galeria de Arte do Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro). Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco