Debate na literatura

Mineira Cidinha da Silva reflete sobre combate ao racismo em BH

Escritora lança obra em que homenageia Sueli Carneiro, referência na luta por justiça racial no Brasil, nesta terça (16/9), no Sempre um Papo

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Em 1988, a escritora belo-horizontina Cidinha da Silva foi ao Tribunal Winnie Mandela, na Faculdade de Direito da USP, no intuito de participar das discussões de gênero e raça que se davam no local. O que mais chamou sua atenção, no entanto, foi a braveza e a forma intensa com que uma mulher específica defendia as próprias ideias. Tratava-se da escritora paulistana, filósofa e ativista antirracista Sueli Carneiro.

Ali nasceu uma admiração que se perpetua há quase 40 anos, sendo reforçada com o lançamento recente de “Só bato em cachorro grande, do meu tamanho ou maior – 81 lições do Método Sueli Carneiro”, pela editora Rosa dos Tempos. A obra será a base do bate-papo de Cidinha da Silva com o jornalista Afonso Borges no Sempre um Papo desta terça-feira (16/9), no Teatro da Biblioteca Pública de Minas Gerais.


Conforme o título indica, “Só bato em cachorro grande, do meu tamanho…” é um conjunto de reflexões que Cidinha faz a partir de aprendizados que teve com a escritora e a filósofa paulistana. “A primeira vez que nomeei ‘O método Sueli Carneiro’ foi em 2014, considero, portanto, que trabalhei neste livro por 10 anos”, conta Cidinha.

“Em 2018, recebi um convite para integrar um projeto de escrita autoral e apresentei a ideia do Método Sueli Carneiro. De uma única vez, escrevi 25 lições e percebi que tinha um livro ali. De 2018 até 2024, anotei lições em um caderno específico, fruto exclusivo da minha memória. Entre janeiro e fevereiro de 2025, escrevi o livro a partir dessas anotações, com o objetivo de publicá-lo até 24 de junho, data do aniversário de 75 anos de Sueli”, acrescenta.


Uma das principais vozes na luta por justiça racial e igualdade de gênero no Brasil, Sueli desenvolveu conceitos analíticos próprios e uma perspectiva metodológica de atuação para expor suas ideias. Entre eles, o racismo estrutural e sistêmico, que opera de forma eficiente e contínua nas instituições, cultura, relações de poder e cotidiano brasileiros.

'Carinho de jumento é coice'

Além das implicações amplamente discutidas a respeito da prática discriminatória, outra tão cruel quanto é ressaltada por Cidinha na 15ª lição do livro, intitulada de “Carinho de jumento é coice”. A frase é de autoria do poeta paraibano Arnaldo Xavier e foi dita por Sueli certa vez, ao comentar que pessoas negras de diferentes gerações reclamam de não terem recebido manifestações de amor cotidianas das mães – em abraços ou frases como “eu te amo” –, ao passo que tal gesto sempre se limitou à recomendação para que os filhos não saíssem à rua sem documento.

Cidinha também menciona “A fúria é banta” e “Não abrir espaço com os cotovelos” como outras duas lições. A primeira faz referência às respostas duras e incisivas das mulheres negras às situações que as violentam, “pois, quando se decodifica a operacionalidade do racismo, torna-se uma questão de sobrevivência, antecipar-se a ele”, ressalta a escritora mineira.


Já em “Não abrir espaço com os cotovelos”, continua Cidinha Silva, “tem pelo menos dois sentidos, o primeiro, de ratificar que devemos usar as ferramentas certas e adequadas para abrir caminhos, e o segundo, complementar a este, que nos toca fazê-lo com ética e parcimônia. Os fins não justificam os meios e não vale quebrar o pescoço de ninguém ou derrubar as pessoas a cotoveladas para chegar aonde se almeja”.


Exu e Ogum

No Método Sueli Carneiro, um dos elementos-chave do racismo brasileiro é o mito da democracia racial, que, na prática, desmobiliza a população negra e perpetua a subalternização através da negação de sua negritude e da valorização do ideal de embranquecimento. Diante disso, os negros não podem se deixar enganar pela falsa ideia de que a estrutura assimétrica das relações interraciais mudou.


Cidinha reconhece que, a partir da segunda metade do século 21, formar um par com uma pessoa negra tornou-se um tipo de status facilitador de trânsitos às pessoas brancas na arte e na cultura popular. Mas no campo político não ocorre o mesmo, de modo que uma atitude equivocada tem um peso muito maior para os negros do que para os brancos.

Cidinha ainda vai além em sua obra ao traçar paralelos entre Sueli Carneiro e os orixás Exu e Ogum. Responsável pela comunicação, pelos trânsitos e diálogo, Exu é o senhor da palavra. Já Ogum é um grande trabalhador e também o orixá da tecnologia, responsável pelas grandes transformações do mundo. Assim, tal qual os dois orixás, Sueli Carneiro pode ser interpretada como um dínamo do amor e da política. Uma entidade que, ao mesmo tempo, abre e desbrava caminhos.


“SÓ BATO EM CACHORRO GRANDE, DO MEU TAMANHO
OU MAIOR – 81 LIÇÕES DO MÉTODO SUELI CARNEIRO”
• De Cidinha da Silva
• Editora Rosa dos Ventos
• 208 páginas
• R$ 53,90, nas livrarias e na Amazon. Exemplares serão vendidos no evento.


SEMPRE UM PAPO
Com Cidinha da Silva. Nesta terça-feira (16/9), às 19h30, no Teatro da Biblioteca Pública de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21 – Funcionários). Entrada franca.

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