Sally Rooney é mais do que a autora do fenômeno “Pessoas Normais”. A escritora irlandesa, nascida em 1991, consolidou-se como uma das vozes mais potentes da geração millennial, traduzindo em ficção as ansiedades, os amores e as contradições de quem cresceu em um mundo conectado, mas socialmente fragmentado. Seus livros mergulham nas dinâmicas de poder, nas complexidades das relações modernas e no impacto do capitalismo na vida íntima.

Recentemente, seu nome voltou aos holofotes por um motivo que transcende a literatura. Ativista da causa palestina, Rooney ganhou um prêmio na Alemanha, mas manifestou receio de viajar ao Reino Unido para recebê-lo por medo de ser detida por suas posições políticas. O episódio evidencia como sua obra e sua vida pública estão entrelaçadas, fazendo dela uma figura central nos debates culturais e políticos do nosso tempo. Conhecer seus livros é entender um retrato fiel de uma geração.

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“Conversas entre Amigos” (2017)

O romance de estreia de Sally Rooney já apresentava os elementos que se tornariam sua marca registrada. A trama acompanha Frances e Bobbi, duas estudantes universitárias e ex-namoradas que se envolvem com um casal mais velho e bem-sucedido, Melissa e Nick. O que começa como uma admiração intelectual rapidamente se desdobra em uma rede complexa de relacionamentos, ciúmes e segredos.

O livro explora a fluidez dos afetos e a dificuldade de comunicação em um ambiente onde todos são muito articulados, mas pouco honestos sobre seus sentimentos. As conversas, muitas vezes travadas por e-mail e mensagens de texto, revelam mais sobre o que não é dito. É uma análise afiada sobre amizade, infidelidade e a busca por um lugar no mundo.

“Pessoas Normais” (2018)

Foi com “Pessoas Normais” que Rooney alcançou o estrelato global. A obra, que virou uma aclamada série de TV, narra a história de amor e amizade de Marianne e Connell ao longo de vários anos, desde o ensino médio em uma pequena cidade irlandesa até a universidade em Dublin. Ele é popular e de família operária; ela é rica, mas solitária e marginalizada na escola.

A dinâmica entre os dois é o motor da narrativa. Eles se aproximam e se afastam, incapazes de se encaixar nas expectativas sociais e, principalmente, de comunicar o que sentem um pelo outro. Rooney usa essa relação para discutir com maestria as barreiras invisíveis do preconceito de classe, a depressão e a vulnerabilidade que marcam a transição para a vida adulta.

“Belo Mundo, Onde Você Está” (2021)

Seu romance mais recente mostra um amadurecimento tanto dos personagens quanto da própria autora. A história é centrada em quatro pessoas próximas dos 30 anos: Alice, uma romancista famosa que se sente desconectada do próprio sucesso; Eileen, sua melhor amiga que trabalha em uma revista literária; Felix, um trabalhador de armazém com quem Alice se envolve; e Simon, um amigo de infância de Eileen.

Grande parte da narrativa é contada através de longos e-mails trocados entre Alice e Eileen, nos quais elas discutem filosofia, política, o colapso da civilização e, claro, suas vidas amorosas. O livro questiona a relevância da arte em um mundo em crise e reflete sobre a possibilidade de encontrar beleza e significado em meio ao caos, um tema que dialoga diretamente com as inquietações contemporâneas.

“Mr. Salary” (2016)

Publicado originalmente na revista literária Granta, este conto é uma excelente porta de entrada para o universo de Rooney. A história é narrada por Sukie, uma jovem de 24 anos que viveu por anos com Nathan, um homem 14 anos mais velho que é uma figura paterna e amorosa em sua vida. A relação deles existe em uma zona cinzenta entre o familiar e o romântico.

O conto encapsula em poucas páginas a habilidade da autora de explorar dinâmicas de poder desiguais e a dependência financeira e emocional. A narrativa sutil e a prosa contida constroem uma tensão que revela as complexidades de um relacionamento não convencional, deixando o leitor com mais perguntas do que respostas, uma característica marcante de seu estilo.

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