CINEMA

‘Goat’ é praticamente um filme de gladiadores

Com o futebol americano como tema, longa é terror com cenas bem sacadas, mas roteiro previsível, que soa como um exercício de violência explícita e sangrenta

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“Goat” tem méritos. O diretor Justin Tipping, jovem e de carreira pregressa pífia, teve a ideia de inserir os filmes de terror no mundo do futebol americano. E fez isso com um roteiro praticamente sem freios. O filme vai avançando, e o delírio gótico só cresce. E conta com atores que seguram bem a proposta.


“Goat” tem problemas. O principal é perceber, lá pela metade do filme, em cartaz nos cinemas, que algumas cenas muito bem sacadas escondem um roteiro previsível em sua essência. A sequência final era para ser uma surpresa, mas o espectador já entendeu o que está acontecendo e ela se torna longa e enfadonha.


GOAT é a sigla em inglês para “Greatest of All-Time”, o maior de todos os tempos, muito usada nos esportes para definir quem é o Pelé do pedaço. No filme, essa quase divindade na Terra é Isaiah, papel do ótimo Marlon Wayans, um ídolo veterano prestes a se aposentar.


Para substituí-lo, seu time quer contratar um jovem que todos apontam como o futuro maioral, Cameron, vivido por um Tyriq Withers um tanto canastrão. Treinando sozinho, à noite, o rapaz é atacado por uma estranha criatura de chifres, que bate em sua cabeça, provocando uma fratura de crânio. Sim, chifres, já numa das primeiras cenas. O filme é sem freio mesmo.


Para descobrir se Cameron terá condições de atuar na temporada, os donos do time pedem que ele passe uma semana na casa de Isaiah, uma gigantesca propriedade no meio do deserto, com imensas instalações high-tech, campos de futebol e muito luxo. Nas proximidades do muro que cerca o local, fãs completamente alucinados acampam dia e noite, como uma seita maluca em torno do astro.


A princípio, Cameron vai achar o treinamento proposto pelo tutor nada ortodoxo. Ele fica completamente extenuado e aceita passivamente uma quantidade absurda de injeções aplicadas por um sujeito estranho, espécie de médico da equipe. Aí começam alucinações, apavorantes, deixando Cameron cada vez mais perdido.


Então todos os limites são ultrapassados quando os treinamentos começam a torturar os jogadores que acompanham Cameron na preparação. Além dessa pressão física, o jovem passa a ser assediado por Elsie, mulher de Isaiah.


O diretor e roteirista consegue algumas cenas muito boas, fugindo de clichês do filme malucão de terror. E há uma atração singular. Em momentos de choques entre os jogadores, um risco constante nesse esporte, as imagens são exibidas com uso de uma espécie de raio-x, mostrando os efeitos das pancadas nos corpos dos atletas.


A grande sacada é usar o futebol americano. Em um esporte de contato brutal, não é necessário criar motivação para os lances violentos. Logo no primeiro treino, Cameron sabe que precisa ficar esperto para não ser trucidado pelos pupilos de Isaiah. O que se vê na tela é praticamente um filme de gladiadores com uma bola ovalada arremessada de um lado para outro.


Justin Tipping tem mais a oferecer do que banhos de sangue. Há na relação entre Isaiah e Cameron uma paridade clara com as histórias de demônios seduzindo aprendizes, um embate clássico na literatura universal. O mestre vai corrompendo o aluno. Numa cena muito boa, Isaiah diz que pode oferecer tudo a Cameron, absolutamente tudo, e que a única coisa que o rapaz pode dar a ele é sua juventude.


Gostando ou não do exercício de violência explícita e sangrenta, “Goat” é um filme feito com talento e perspicácia, que compensam algumas soluções simplórias no roteiro. Justin Tipping é um nome para ser seguido. (Thales De Menezes)

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