LITERATURA

BH recebe Ruy Castro e Heloisa Seixas para bate-papo com leitores

Escritores participam nesta sexta (17/10) do projeto Sempre Um Papo, que tem entrada franca, para falar de seus livros ‘Trincheira tropical’ e ‘O oitavo selo’

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Biografias de grandes personagens (Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmen Miranda), narrativas de fôlego em torno de momentos e movimentos musicais (bossa nova e samba-canção), romances e crônicas: a obra de Ruy Castro, de 77 anos, é extensa e não para de crescer. Em comum, além da escrita fluida, inteligente, irônica e sempre bem embasada, os títulos trazem o Rio de Janeiro.

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“Trincheira tropical – A Segunda Guerra Mundial no Rio” (Cia. das Letras) apresenta um recorte inédito na bibliografia que trata do conflito e o Brasil. “Quando escolho os livros, eles geralmente vêm de um estalo. Quando me convenço do personagem ou da época em que gostaria de mergulhar, dou uma volta pelo meu apartamento. São 11 estantes grandes. Fico olhando os livros que tenho sobre o material.” Sobre a Segunda Guerra, não tinha nada – pelo menos em torno do viés escolhido.


Ruy Castro participa hoje (17/10) do projeto Sempre um Papo no Teatro José Aparecido de Oliveira, na Biblioteca Pública. Estará com a mulher, a escritora Heloisa Seixas, que lança “O oitavo selo: Quase romance” (Cia. das Letras). Publicado em 2014 pela Cosac e Naify, a obra ganhou nova edição.


O Rio está, de certa forma, presente, já que o livro tem como personagem o próprio Ruy Castro e seus embates contra a droga, o alcoolismo e as doenças. A referência a “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman, é clara. “No filme, o personagem (o cavaleiro Antonius Block) joga xadrez com a Morte para retardar o momento da (própria) morte. Eu sentia que o Ruy também jogava esse xadrez, só que escrevendo livros. Ele escreve para não morrer. Não iria colocar o título de ‘O sétimo selo’. O oitavo é o que está em aberto, é a vida de certa maneira”, explica Heloisa.


“Momento difícil”

“O oitavo selo” nasceu de um momento difícil. “Depois dos problemas com a minha mãe (diagnosticada com Alzheimer, período que Heloisa levou para as memórias ‘O lugar escuro’, de 2007) e com o Ruy, quando não aconteceu mais nada, eu pirei. Não dormia mais, estava hipocondríaca, com medo de morrer. Sentei para escrever e tirar esse assombro dentro de mim. Quando botei o ponto final no livro (a narrativa é ficcionalizada), passei a dormir bem.”


Para “Trincheira tropical”, Castro passou cinco anos pesquisando e um ano escrevendo. Descobriu, não só em sua própria biblioteca, mas em toda a pesquisa, que livros que tratavam da relação do Brasil com a Segunda Guerra eram sobre a temporada na Itália, ou sobre as colônias alemã, italiana e japonesa no país, ou ainda sobre as bases americanas no Nordeste.


“Nada sobre o Rio, que era o porto de entrada para o mundo, a única metrópole do Brasil, com 1,5 milhão de habitantes, centro diplomático, centro para refugiados europeus, espiões e contra espiões.”


Como fazer um livro sobre um assunto que ninguém pesquisou? Indo atrás das memórias – escritas, diga-se, pois pela primeira vez ele não fez nenhuma entrevista. Memórias de políticos, militares, intelectuais, diplomatas, pessoas comuns. “Às vezes, eu lia 400 páginas para ter um parágrafo. E cada informação capturava outra.”


A narrativa de Castro não percorreu somente o período do conflito (1939-1945). Começa antes, no início da década de 1930, quando foi fundada a Ação Integralista Brasileira (“O nosso fascismo”, como aponta o primeiro capítulo) por Plínio Salgado.


Pesquisa em documentos e jornais

Castro leu toda a literatura integralista e comunista da época, como também os 17 jornais diários publicados entre os anos 1930 e 1940 no Rio de Janeiro. “Consegui documentos nunca publicados sobre os pracinhas, auto dos julgamentos dos integralistas (após o frustrado Levante de 1938).”


Com o livro, Castro faz justiça aos pracinhas brasileiros, que foram para a campanha na Itália completamente despreparados e, no retorno ao Brasil, foram também desamparados pelo próprio Estado. “As pessoas falavam socialmente sobre o assunto: ‘Os pracinhas foram lá para fazer turismo’. Eles foram desequipados, mal armados, mal vestidos. Numa guerra em que pegaram 20 graus abaixo de zero, tinham roupa para o inverno carioca.”


A tomada do Monte Castello (o grande sucesso da campanha brasileira na Itália, no início de 1945) foi um desafio e tanto. “Eram mil metros de altura, e eles subiam o morro mal agasalhados, enfrentando os alemães que estavam a 300, 400 metros à frente, protegidos em casamatas. Eles atiravam de cima para baixo e, mesmo assim, os brasileiros ganharam. Recebidos como heróis do povo no Rio, foram traídos pelo Dutra (ministro da guerra no Estado Novo) e pelo Getúlio (Vargas). Foi uma coisa que o Brasil não pode perdoar.”


O escritor conseguiu muito material em leilões. “Os pracinhas escreviam coisas que não podiam publicar, pois era censurado. Mas fizeram música, diários, fotos. Eles se recusavam a falar sobre o assunto com a família, pois queriam esquecer, tão traumatizados estavam”, diz.


“Lembrar do meio da batalha, quando está conversando com seu amigo que acaba dividido em dois numa rajada de metralhadora? Eram simples, não tinham como publicar as memórias. Ao contrário dos generais e comandantes que publicaram livros e nunca estiveram a menos de 5 km das batalhas”, afirma.


“TRINCHEIRA TROPICAL – A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NO RIO”
• De Ruy Castro
• Companhia das Letras
• 448 páginas
• R$ 109,90 (livro) e R$ 44,90 (e-book)


“O OITAVO SELO – QUASE ROMANCE”
• De Heloisa Seixas
• Companhia das Letras
• 176 páginas
• R$ 89,90 (livro) e R$ 22,45 (e-book)


SEMPRE UM PAPO
Com Ruy Castro e Heloisa Seixas. Nesta sexta-feira (17/10), às 19h30, no Teatro José Aparecido de Oliveira – da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21). Entrada franca.

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