Nova montagem de "A partilha", de Miguel Falabella, chega a BH
Sucesso de público e crítica, é a primeira versão com elenco formado só por atrizes negras. Peça será apresentada amanhã e domingo (25 e 26/10)
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Escrita em 1990 por Miguel Falabella, a peça “A partilha” ficou em cartaz durante seis anos após a estreia. Com o passar do tempo, foi reencenada diversas vezes e chegou a mais de 20 países. No ano passado, ganhou nova montagem, pela primeira vez com elenco formado exclusivamente por atrizes negras. Essa nova versão, que se mantém fiel à dramaturgia original, chega a Belo Horizonte neste fim de semana para duas apresentações, no Grande Teatro do Sesc Palladium.
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Na primeira montagem, há 35 anos, Arlete Salles, Natália do Vale, Susana Vieira e Thereza Piffer deram vida às quatro irmãs que, após o falecimento da mãe, se reencontram e discutem como dividir a herança em pleno funeral. Agora os papeis de Maria Lúcia, Regina, Laura e Selma estão, respectivamente, a cargo de Iléa Ferraz, Adriana Lessa, Flávia dos Prazeres e Lena Roque.
“A partilha” não trata de questões raciais – o enredo aborda a passagem do tempo, a identidade e a complexidade dos afetos familiares, equilibrando humor e drama. Por essa razão, o elenco formado por atrizes negras eleva a nova montagem a um lugar importante de representatividade, na opinião de Adriana Lessa. Ela diz que a conformação da montagem que chega a Belo Horizonte reflete mudanças que têm ocorrido ao longo dos últimos anos.
“A partir do movimento Black Lives Matter e do assassinato de George Floyd durante a pandemia, passamos a ter uma discussão mais incisiva sobre a questão racial. Estamos, como atrizes pretas, num lugar de humanidade, falando de afeto, de questões comuns a qualquer pessoa. Durante muito tempo, estivemos em cena para falar de sofrimento, de escravização, mas a nossa história é muito mais do que isso. A versão atual de 'A partilha' espelha um momento de maior representatividade”, destaca.
A mudança não está apenas no palco. “Como artista que tem 40 anos de trabalho teatral, fico muito feliz quando vejo uma plateia afrodescendente, porque durante muito tempo eu não via isso”, diz. A direção da nova montagem é assinada pelo próprio Falabella, que a idealizou.
Ele declarou, à época da estreia, que quando escreveu o texto, não imaginava quatro atrizes negras para as personagens. “É lindo retornar com o espetáculo que traz um elenco da diversidade, que promove a representatividade e a inclusão. É o caminhar do mundo, e nós, como artistas, precisamos andar junto”, disse.
Relações humanas
Adriana diz que não assistiu a nenhuma das montagens pregressas de “A partilha”, mas pontua que a própria dramaturgia entrega as balizas para a construção de sua personagem.
“É necessário mergulharmos no texto, termos a compreensão dele, porque é tão bem escrito que nos serve completamente, nos dá todos os elementos para a criação da personagem”, destaca. Ela atribui o sucesso imperecível da peça à forma como ela aborda as relações humanas.
Adriana conta que Letícia Soares foi indicada como Melhor Atriz no FITA – Festival Internacional de Teatro de Angra e que ela própria recebeu indicação de Melhor Atriz no Prêmio Shell, no ano passado. “O retorno tem sido o melhor possível, as pessoas se sentem muito tocadas com o desenvolvimento do tema, ficam após o término da peça e comentam com a gente. É um espetáculo bonito, significativo e transformador, então tem sido muito gratificante fazer.”
Workshop gratuito
Após a sessão do domingo (26/10), acontecerá o workshop “Quatro mulheres em cena: o que 'A partilha' nos revela”, com a participação do elenco. “Vamos trocar ideias ao vivo com o público, é uma oportunidade de conversarmos sobre 'A partilha' e sobre o nosso movimento como atrizes, cidadãs e mulheres”, diz Adriana Lessa, comemorando a possibilidade de visitar a família. “Meu pai é de Guanhães. Ainda tenho muitos parentes em BH”, comenta. O workshop está programado para as 20h30.
“A PARTILHA”
Direção de Miguel Falabella. Com Adriana Lessa, Iléa Ferraz, Flávia dos Prazeres e Lena Roque. Sábado (25/10), às 20h30, e domingo (26/10), às 18h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Inteira: R$ 110, R$ 90 e R$ 50, com meia na forma da lei, à venda na platatforma Sympla e na bilheteria local.