UM DIA FOI MEME

Lembra dele? 'Patriota do caminhão' vira filme nas mãos de Caco Ciocler

Ator e diretor se inspirou no bolsonarista que se agarrou à frente de caminhão em protesto em 2022 para criar comédia trágica

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O contexto de pós-eleições presidenciais de 2022 gerou uma cena que entrou para o imaginário dos brasileiros. Durante um protesto contra a eleição de Lula (PT) que venceu Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, um bolsonarista se agarrou à frente de um caminhão para impedir que ele furasse o bloqueio em uma rodovia. No entanto, o motorista não freou e ainda filmou o homem agarrado no para-brisa.

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O “patriota do caminhão”, como ficou conhecido, virou meme. Quase três anos depois, a história ganhou uma versão cinematográfica. O diretor e ator Caco Ciocler apresenta, nesta semana, na Mostra de Cinema de São Paulo, o longa “Eu não te ouço”, que encerra sua trilogia política iniciada com “Partida” (2019) e “O melhor lugar do mundo é agora” (2021).

 
 
 
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A comédia trágica, inspirada em um episódio real que viralizou, usa o humor e a ironia como ponto de partida para uma reflexão sobre o Brasil polarizado. “A gente ria, ria, ria, e uma hora eu parei de achar tão engraçado. E falei: tem algo trágico nesse meme”, contou Ciocler em entrevista ao UOL.

No filme, Márcio Vito interpreta tanto o caminhoneiro quanto o homem pendurado na frente do veículo — dois brasileiros comuns, separados apenas pelo para-brisa, incapazes de se ouvir. A roteirista Isabel Teixeira, parceira de longa data de Ciocler, ajudou a construir o roteiro e a lapidar os contrastes e semelhanças entre os personagens.

“Eles não se escutam e, consequentemente, não interagem. A alegoria do caminhão é uma metáfora perfeita para a tragédia da incomunicabilidade. Se nenhum dos lados cede, o impasse é inevitável”,  disse o crítico Daniel Schenker, em um debate no Festival de Cinema do Rio.

Para Ciocler, o objetivo não era retratar dois extremos ideológicos, mas propor um filme-espelho. “O caminhoneiro não é um cara de esquerda. São dois trabalhadores. Eu queria fazer um filme sobre o que não se escuta — sobre o reflexo que impede de ver o outro”, explicou na mesma ocasião. 

O vidro como símbolo da polarização

No longa, o para-brisa funciona como um divisor simbólico entre os personagens — e também entre discursos, emoções e percepções de mundo. “O vidro é um espelho. Um grande espelho onde a gente só se vê, e por isso não se escuta”, resume o diretor.

Márcio Vito levou dois anos estudando os personagens com Isabel Teixeira para construir as nuances da interpretação. “A diferença não podia estar na frente das semelhanças”, disse. 

Ele revela que o trabalho envolveu uma profunda pesquisa sobre oralidade e vocabulário: “Era importante que eles não concluíssem o raciocínio, que se perdessem nas próprias palavras. Assim, a gente vê o que eles estão pensando, o que evitam dizer.”

O ator ainda relacionou o conceito do filme a Shakespeare e Augusto Boal. “O teatro é o espelho da sociedade, dizia Hamlet. E o Boal completa: o barato da arte é quando ela é um Espelho de Alice, em que você pode entrar e modificar. Acho que o filme faz isso”, apontou.

A produção enfrentou um imprevisto que acabou moldando sua estética. Ciocler pretendia gravar em uma estrada de verdade, com um caminhão em movimento, mas descobriu que o ator principal não sabia dirigir. A solução veio da tecnologia: o longa foi rodado em um estúdio virtual com painéis de LED, simulando paisagens reais e variações de luz.

Um filme político e poético

“Eu Não Te Ouço” é, nas palavras do próprio diretor, um “filme sobre o ruído” — não apenas o ruído sonoro das ruas, mas o ruído simbólico que separa os brasileiros. Com humor ácido, o longa propõe uma reflexão sobre a crise de comunicação e empatia que atravessa o país.

“Os vocabulários da direita e da esquerda começaram a se parecer. Ambos falam de revolução, ditadura, resistência — só que cada um entende isso de forma oposta. Essa confusão de linguagens me interessava”, explicou Ciocler.

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Apesar de ser exibido no Rio de Janeiro e em São Paulo, o filme foi produzido sem apoio financeiro e ainda não tem previsão de estreia nos cinemas. “Talvez essa seja a única chance de ver “Eu Não Te Ouço” por enquanto. Mas espero que o público leve essa pergunta com ele: o que é que a gente não está conseguindo escutar?”, apontou.

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