A recente mudança na letra de “Girassol” por Toni Garrido acendeu um debate sobre a evolução das obras musicais. Durante uma apresentação na TV, Toni cantou: "para ser homem tem que ter a grandeza de uma menina, de uma mulher" e não "de um menino" como diz a música original. O objetivo foi homenagear as mulheres, classificando a versão original como machista. A decisão dividiu opiniões e mostrou que a música, como uma forma de arte viva, acompanha as transformações da sociedade.

O caso de Garrido não é isolado. Muitos artistas, no Brasil e no mundo, revisitaram suas próprias criações para adequá-las a novos entendimentos sobre respeito, inclusão e responsabilidade social. Essas alterações revelam como a percepção pública pode influenciar o legado de uma canção e forçar uma reflexão sobre mensagens que não são mais aceitáveis.

Como analisar uma letra de música com olhar crítico

Entender por que uma canção se torna controversa ou precisa de atualização envolve mais do que apenas ouvir a melodia. Desenvolver um olhar crítico ajuda a compreender as camadas de significado e o impacto cultural de uma letra. O processo pode ser dividido em passos simples que transformam a audição passiva em uma análise consciente.

  • Entenda o contexto da época: Pesquise quando a música foi escrita. Normas sociais, eventos históricos e a linguagem daquele período influenciam diretamente a composição. Uma expressão comum no passado pode ser ofensiva hoje.

  • Identifique a mensagem central: Qual é a história ou o sentimento que o artista está tentando transmitir? Tente resumir a ideia principal da letra em uma ou duas frases. Isso ajuda a clarear o propósito da canção.

  • Observe o uso da linguagem: Preste atenção em gírias, metáforas e adjetivos. A forma como personagens ou situações são descritos revela muito sobre a perspectiva do compositor. Verifique se há estereótipos ou generalizações.

  • Avalie o impacto atual: Pense em como a letra ressoa no cenário de hoje. A mensagem ainda é relevante? Ela reforça preconceitos ou inspira reflexões positivas? A arte pode e deve ser questionada à luz dos valores presentes.

  • Pesquise a intenção do artista: Se possível, procure entrevistas ou declarações do compositor sobre a música. Conhecer a intenção original pode oferecer uma nova camada de interpretação, mesmo que o resultado final tenha sido problemático.

1. Toni Garrido e o “Girassol” ressignificado

A polêmica mais recente envolveu Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra, e a canção “Girassol”. No último sábado (4/10), no Altas Horas da Rede Globo, Toni cantou: "para ser homem tem que ter a grandeza de uma menina, de uma mulher" e não "de um menino" como diz a música original. 

A justificativa de Garrido foi direta: ele queria homenagear as mulheres de forma mais completa e sentia que a letra original reforçava um estereótipo machista. A repercussão foi imediata nas redes sociais, com parte do público aplaudindo a atitude e outra parte criticando a alteração de uma obra consolidada.

2. Lulu Santos e a inclusão em “Toda Forma de Amor”

Um dos casos mais emblemáticos no Brasil é o de Lulu Santos com o hino “Toda Forma de Amor”, de 1988. A letra original continha o verso “prefiro um caso com uma loira do que um cara com um fuzil”. Com o tempo, o cantor percebeu que a frase poderia ser interpretada de forma excludente dentro de uma música que celebra a diversidade.

Em suas apresentações ao vivo, Lulu passou a cantar “prefiro um caso com um cara do que um caso com um fuzil”, tornando a letra mais inclusiva para o público LGBTQIA+. A mudança foi sutil, mas poderosa, e alinhou a canção de forma ainda mais coerente à sua mensagem de aceitação universal do amor.

3. Taylor Swift e a correção em “Picture to Burn”


Taylor Swift também tem a sua polêmica com letra de música. “Better the revenge”  continha uma frase controversa. No verso original, ela cantava: “Ela é mais conhecida pelas coisas que faz no colchão”. Taylor foi acusada de slut-shaming, que é a prática de humilhar ou criticar mulheres por transgressões percebidas dos códigos sexuais socialmente aceitos.

A atração foi apresentada pela icônica dupla Chitãozinho e Xororó. Além de Ana Castela, subiram ao palco como convidados Simone Mendes e Júnior Lima. Reprodução Instagram
Ana Castela foi uma das artistas que participou da estreia do sertanejo no Rock in Rio em 2024, na comemoração dos 40 anos do festival. Reprodução Instagram
Ana Castela também não deixou de lado o gosto pela música gospel. Além disso, ela se declara fã de alguns artistas. Entre eles, Marília Mendonça, Anavitória, João Gomes (foto) e Melim. Instagram @anacastelacantora
A mistura de gêneros no trabalho de Ana Castela - inclusive juntando o sertanejo com funk e música eletrônica - é considerada por muitos um trunfo na carreira da Boiadeira. Reprodução Instagram
Com as parcerias, Castela interage com outros gêneros. E ela levou o Sertanejo até mesmo para o carnaval, pois criou o "Bloquinho da Ana Castela" e percorreu cidades pelo país. Divulgação
Ana Castela também gosta de fazer parcerias para gravações. Um dos destaques é “Covardia”, com Wesley Safadão. Castela também gravou com Hungria Hip Hop, Simone Mendes, Melody , J Chris e Naiara Azevedo, entre outros. Instagram @anacastelacantora
Em 2024, Castela venceu o Prêmio de Música Brasileira por "Boiadeira Internacional - Ao Vivo". Divulgação
Em 2022, Castela começou a participar de programas de televisão. E ela conquistou seu primeiro grande prêmio, o "Prêmio Multishow de Música Brasileira", na categoria "Revelação do Ano". Instagram @anacastelacantora
A música foi lançada em 2021 e logo se tornou um sucesso. O termo "boiadeira" também virou alcunha de Ana Castela. Ainda em 2021, ela resolveu morar em Londrina, também para facilitar os cerca de 30 shows por mês. Instagram @anacastelacantora
A ligação de Castela com o ambiente rural é familiar. Entre o final de 2020 e o início de 2021, ela passou um tempo em uma fazenda de seu avô, no Paraguai. Foi nesta época que ela foi convidada para gravar, com fins comerciais, a música "Boiadeira". Instagram @anacastelacantora
Recentemente, a Boiadeira anunciou a compra de uma fazenda em Sete Quedas, em Mato Grosso do Sul, onde ela viveu. A cantora postou mensagem no Instagram, dizendo que o gado já estava lá. Reprodução Instagram
Inicialmente, ela escolheu a cidade de Campo Mourão. No entanto, com as dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19, acabou se afastando dos estudos e se reaproximando da música. Instagram @anacastelacantora
Apesar da ligação com a região, Castela se mudou para o Paraná, em 2020, assim como outros cantores sertanejos têm feito. Ela, porém, foi lá para estudar, com o objetivo de passar no curso de medicina. Instagram @anacastelacantora
A região Centro-Oeste, principalmente Goiás, é a que mais escuta sertanejo no Brasil. O local é rico em agricultura e pecuária, que sempre estiveram muito presentes na vida de Castela, que começou a cantar aos 15 anos, em um coral de uma igreja. Instagram @anacastelacantora
Ela 21 anos em 16 de novembro de 2024; nasceu em Amambai, em Mato Grosso do Sul, mas foi criada em Sete Quedas. A cidade, que faz fronteira com o Paraguai, tem apenas cerca de 11 mil habitantes e fica a 470 km da capital do estado, Campo Grande. Instagram @anacastelacantora
Em novembro/24, a cantora faturou o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música Sertaneja” com seu projeto “Boiadeira Internacional (Ao Vivo)”. reprodução/Instagram/MTV Brasil
Ana Castela tornou-se um dos grandes nomes do sertanejo nos últimos anos. É uma das sensações do Spotify e do YouTube no Brasil. Instagram
“É algo novo para a gente testar, para a gente ter. Para começar tocar mais nas baladas. Ter músicas mais animadas. Animar os meus shows. Mas também tá vindo muita música triste. Tem que ter um equilíbrio”, afirmou. Divulgação
A dona dos hits “Solteiro Forçado” e “Nosso Quadro” disse que não quer abandonar totalmente o estilo "boiadeira". Instagram @anacastelacantora
Perguntada se poderia fazer algo estilo Taylor Swift, com trocas de roupas e "eras", a cantora respondeu: “Acho isso um máximo. Tanto que a gente já pensou em fazer isso, só aqui no Brasil é mais complicado de fazer isso. Mas a gente pensa." divulgação/tv globo
"Olha, eu estou pensando em fazer um álbum mais dançante, puxando para algo um pouquinho mais pop, algo mais diferente assim da Ana Castela. Eu quero mostrar o meu talento na dança também", revelou. reprodução/youtube
Depois de faturar seu primeiro Grammy Latino no fim de 2024, a "boiadeira" Ana Castela comentou em uma entrevista sobre os próximos passos na carreira e a possiblidade de migrar para o pop. reprodução/instagram

A artista reconheceu o erro e agiu rápido. A versão da música foi alterada para: “Ele era uma mariposa guiada pela chama, ela estava segurando os fósforos”.

A atitude demonstrou maturidade e responsabilidade, corrigindo uma mensagem que não condizia com os valores que ela passaria a defender.

4. Black Eyed Peas e a mudança por aceitação

O sucesso global “Let’s Get It Started” do grupo Black Eyed Peas nem sempre teve esse nome. A versão original, do álbum “Elephunk” de 2003, chamava-se “Let’s Get Retarded”. Na época, a gíria era usada em alguns círculos para significar “ficar louco” ou “perder o controle” na pista de dança, sem a conotação ofensiva que a palavra carrega hoje.

Contudo, a expressão era pejorativa e ofensiva para pessoas com deficiência intelectual. Para que a música pudesse ser usada em comerciais, eventos esportivos como os playoffs da NBA e tocada sem restrições nas rádios, o grupo regravou a faixa com o novo título e letra. A mudança foi crucial para transformar a canção em um hit mundialmente conhecido.

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5. Michael Jackson e a controvérsia em “They Don't Care About Us”

Até o rei do pop, Michael Jackson, teve que rever uma de suas letras. A canção “They Don't Care About Us”, do álbum “HIStory” de 1995, foi alvo de fortes críticas por versos considerados antissemitas. A letra original incluía as frases “Jew me, sue me, everybody do me / Kick me, kike me, don’t you black or white me”.

Michael Jackson se defendeu publicamente, afirmando que sua intenção era denunciar o preconceito, e não promovê-lo. Ele pediu desculpas formais e, para apaziguar a controvérsia, concordou em alterar a gravação. Nas versões posteriores do álbum, os termos ofensivos foram cobertos por efeitos sonoros, e os videoclipes passaram a incluir um pedido de desculpas do artista.

Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.

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