LUTO NA MÚSICA

'Disco do Tênis' foi o rito de passagem para Lô Borges

Primeiro LP solo trouxe rock melancólico, psicodelia e inovação. O jovem artista trocou o show business pelo mochilão e só fez o show do disco cult em 2017

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Um músico pouco conhecido, com 20 anos, e contrato assinado com uma grande gravadora para lançar seu primeiro álbum solo? Foi um tormento o que Lô Borges viveu em 1972. Quando a extinta Odeon se deu conta do poderio do garoto que Milton Nascimento havia convidado para dividir com ele o álbum duplo “Clube da esquina”, rapidamente o convocou para seu próprio álbum.

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Se houve toda a tranquilidade e tempo para conceber o projeto coletivo ao lado de Bituca, com seu primeiro solo foi diferente. Lô teve três meses para gravar um álbum, que se tornou o cultuado “Disco do Tênis” (o título oficial, “Lô Borges” não colou diante da imagem do tênis velho e muito usado, foto de Cafi que ficou para a posteridade).

Fumo com Raul

Ele não tinha uma canção sequer. Como continuava no Rio de Janeiro, pediu ajuda para o irmão Márcio Borges, que morava em um apartamento no Jardim de Alá. O Borges mais velho atuava de dia com publicidade, e o mais novo ficava em casa compondo. Ao voltar do trabalho, Márcio fazia a letra. Noite após noite, os dois iam diretamente para o estúdio, onde a banda os esperava para gravar a canção criada naquele dia. No tempo livre, os mineiros dividiam fumo com o vizinho Raul Seixas.

Desse período estressante nasceram as 15 faixas. Mesmo com muitas canções, o disco é curto – não mais do meia hora, pois há faixas que são quase vinhetas, com menos de um minuto. Em depoimento concedido em 2007 ao Museu da Pessoa, Lô relembrou essa fase.

“É um disco meio caótico, mas, depois, vendo o resultado, é muito interessante exatamente por causa do desafio que foi fazer. Foi também um anticlímax dentro da gravadora, pois fiz um disco de músicas introspectivas. Não tinha nenhum novo ‘Girassol’, nenhuma nova ‘Janela lateral’. Escolhi botar o tênis na capa pra simbolizar o que eu queria fazer depois daquele disco. Queria sair fora desse negócio de show business, de imprensa na minha casa, de ter que fazer lançamento de discos, de fazer um disco por ano.”

Lô queria voltar para casa, conforme relatou ao Estado de Minas. “Eu queria voltar para o colo da minha mãe, para os meus amigos e para a vida da esquina. Eu estava preparado para fazer música, mas não para tudo o mais que envolve a música.”

 

Ele voltou para BH e depois ganhou a estrada. De ônibus, rodou o Brasil – foi a Porto Alegre, mas também a Belém. Passou uma temporada hippie em Arembepe, na Bahia. Na bagagem, exemplares do “Disco do Tênis” eram distribuídos pelo próprio Lô a qualquer maluco que aparecesse na sua frente.

Foram seis anos sem querer saber de mercado fonográfico. Só voltou à ativa em 1979, com “A Via-Láctea”. De tom melancólico, o “Disco do Tênis” é essencialmente um álbum de rock (como demarca “Você fica melhor assim”, a faixa de abertura, com letra de Tavinho Moura), com pano de fundo jazzístico. Lô assinou sozinho nove das 15 faixas.

Com a passagem dos anos, o “Disco do Tênis” só viu seu culto crescer. “É um dos melhores discos da música popular brasileira, além do fato de conseguir flertar com a psicodelia, o rock e o folk. É um álbum obrigatório pra quem quer entender a música brasileira na virada dos anos 1960 e 1970”, Samuel Rosa comentou certa vez.

“É um disco maduro, mesmo para quem tinha pouca idade. Por isso ele se tornou clássico”, disse há alguns anos ao EM Gabriel Guedes, filho de Beto.

Não foram só os brasileiros que reconheceram a importância do álbum solo de estreia de Lô. Ficou célebre por aqui a entrevista que Alex Turner, líder da banda britânica Arctic Monkeys, deu à revista Mojo em 2018. Afirmou que uma das músicas que inspirou a banda a criar o álbum “Tranquility Base Hotel & Casino” foi “Aos barões”, faixa 12 do “Disco do Tênis”.

Viagem no tempo

Naquela altura, 2018, Lô já tinha ganhado os indies no Brasil. Em 2017, 45 anos após seu lançamento, o “Disco do Tênis” chegou ao palco. Os shows foram casados com o relançamento do álbum em vinil.

O projeto da turnê foi capitaneado pelo músico Pablo Castro, que montou uma banda especialmente para os shows. A promessa a Lô, que só ensaiou com o grupo depois que a formação estava bem azeitada, foi recriar no palco o álbum comme il faut.

“Fiquei tão impressionado com o que eles fizeram, como estava igual, que me senti com 20 anos de novo. Foi uma viagem no tempo. Foi uma emoção ver o pessoal executando exatamente os meus solos de guitarra ou repetindo a maneira como o Beto Guedes, o Toninho Horta e Nelson Ângelo tocaram no meu disco”', destacou Lô ao EM na época.



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